Índice de preços superou teto estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional; Banco Central precisará explicar o descumprimento da regra
O Banco Central terá que publicar uma carta se explicando pela inflação fora da meta em 2024. O texto é assinado pelo presidente da autoridade monetária, Gabriel Galípolo, que assumiu o cargo no início do ano depois de ser escolhido por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O resultado oficial do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) foi divulgado nesta 6ª feira (10.jan.2025). Avançou 4,83%, acima do teto de 4,5%.
O texto é endereçado ao presidente do CMN (Conselho Monetário Nacional), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O colegiado é responsável por definir o objetivo anual para o índice de preços.
A inflação fora da meta em 2024 não é uma surpresa. Era unanimidade entre os agentes financeiros que o indicador ultrapassaria o limite permitido.
O próprio Banco Central já havia reconhecido o estouro do índice. A autoridade monetária divulgou em dezembro que a chance de terminar acima do teto era de 100%.
A determinação do CMN era que o IPCA chegasse a 3% em 2024. Porém, há um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Em outras palavras:
- limite inferior da meta: 1,5%;
- centro da meta: 3,0%;
- limite superior (teto) da meta: 4,5%.
IMPACTO NOS JUROS
O objetivo para 2025 é o mesmo de 2024. Isso significa que o Banco Central terá que conduzir os juros do país com mais rigidez.
A função primordial do órgão é colocar a variação de preços no intervalo estabelecido. A ferramenta disponível para frear o indicador é o aumento do juro base, mantendo a tradição do modelo brasileiro de política monetária. O crédito mais caro desacelera o consumo e a produção. Assim, os preços não aumentam de forma tão intensa.
A taxa básica, usada para guiar as alíquotas dos empréstimos, é a Selic. Atualmente, está em 12,25% ao ano. Os planos do Banco Central é que chegue a 14,25% até março. Agentes financeiros projetam que terminará 2025 acima dos 15%.
O endurecimento na condução dos juros é defendido constantemente por Gabriel Galípolo. Por ser indicado por Lula, crítico das taxas altas durante o 3º mandato, havia uma desconfiança de que o economista fosse mais flexível com a inflação. As falas são uma forma de ganhar credibilidade.
Galípolo está no Banco Central desde 2023, quando assumiu como diretor de Política Monetária. Ele foi sabatinado no Senado Federal em 8 de outubro de 2024 para assumir como presidente. Leia abaixo o que falou na ocasião:
- política monetária – disse que “teria coragem” de seguir uma decisão técnica caso seja pressionado pelo presidente Lula;
- meta – defendeu que o Banco Central não participe da definição. Segundo ele, é “estranho” que a autoridade defina um objetivo que terá de cumprir;
- inflação – a expectativa desancorada “incomoda” a autoridade, afirmou. Mencionou mais de uma vez a economia aquecida acima do esperado como uma das principais preocupações em relação ao índice de preços.
HISTÓRICO
O regime de metas começou em 1999. O Banco Central teve que explicar o descumprimento em 7 anos (2001, 2002, 2003, 2015, 2017, 2021 e 2022), sem contar o texto que virá para 2024.
Os resultados em 2021 e 2022 foram influenciados pela pandemia de covid-19. Os estímulos econômicos e fiscais levaram a um aumento dos preços com a amenização da crise sanitária.
Apesar de a carta ser assinada por Galípolo, o presidente do Banco Central em 2024 era Roberto Campos Neto. Ele cumpriu metade de suas metas de inflação.
Clique em “íntegra” para acessar as cartas de inflação anteriores em formato PDF:
A INFLAÇÃO
Os índices de inflação são usados para medir a variação dos preços. Ou seja, quanto vale o dinheiro de forma real. Em um resumo simplificado, um produto que custava R$ 100 passa a custar R$ 110 se a variação ampla foi de 10,0%.
O Poder360 tem uma reportagem que explica em detalhes o que é a inflação. Leia aqui.
Assista (5min11s):