O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse em entrevista à Folha que não havia interesse particular na operação para tentar liberar o conjunto de joias e relógio, avaliado em R$ 16,5 milhões, que seria para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e foi retido pela Receita no aeroporto de Guarulhos (SP).
“Ninguém sabia o que tinha lá dentro. Podia ser um copo de água, ninguém sabia. E, se tivesse má-fé, ninguém ia fazer o trajeto de passar pelo raio-x da Receita, não ia trazer num voo comercial”, afirmou.
Ele rechaça que o presente tenha sido dado como contrapartida a algum benefício da Arábia Saudita e avalia que houve desconhecimento sobre como fazer o desembaraço das joias na alfândega por parte de assessores de Jair Bolsonaro (PL).
“Não vejo ilegalidade. Tanto é que ficou mais de um ano o troço largado lá, sem o conhecimento, inclusive da Michelle. Então não tinha nenhum interesse particular de se beneficiar disso”, declarou.
O ex-presidente recebeu joias da Arábia Saudita que são avaliadas em cerca de R$ 16,5 milhões. Segundo a primeira versão do ex-ministro Bento Albuquerque, essas joias seriam para a primeira-dama. Depois, ele disse que iriam para o acervo do Estado. Por que esses presentes não foram declarados? Não tem muito o que ficar falando além do que o advogado dele já falou. Os presentes vieram lacrados de lá para cá. Se tivesse má-fé, não ia passar pelo raio-x da Receita. Podia muito bem ter pegado isso lá fora e vindo para cá sem ninguém saber. Não vejo ilegalidade. Tanto é que ficou mais de um ano o troço largado lá, sem o conhecimento, inclusive da Michelle. Então não tinha nenhum interesse particular de se beneficiar disso. Eu acho que a imprensa está cometendo um erro de tentar vincular qualquer benefício à Arábia Saudita a esse presente.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mudou de versão. Primeiro, falou que não havia presente, depois ele falou que havia e que ia para o Estado. Por que ele mudou de versão? Não sei, tem que perguntar para ele. Mas, sinceramente, eu não estou nem tratando desse assunto com ele.
O sr. disse que Michelle não sabia das joias. Estou repetindo o que ela falou, o que ela publicou em rede social.
Quem sabia, então? As pessoas que estavam lá [na Arábia Saudita], que trouxeram elas para cá. O ministro Bento, a assessoria dele. E mais uma vez, não vejo má-fé por parte deles.
Mas ele não teria avisado o presidente que estava voltando do país com esses presentes? Tem que perguntar para ele também.
O que foi dito quando entregaram esses presentes? Não sei. Eu não estava lá. Nem o presidente Bolsonaro estava nessa audiência. O ministro foi para lá representá-lo. Mas, pelo que estou vendo, ele pegou uma caixa lacrada e trouxe para cá para formalizar a entrega para quem seriam os presentes. E teve o Comitê de Ética Pública do Executivo que não via problema nenhum nesse tipo de presente. Então, ele seguiu orientação técnica.
O ajudante de ordens do presidente, o Cid, foi lá… Foi no final de governo. Eu acho que ele tentou ali só desburocratizar, mas eu vejo também que houve falta de conhecimento de como é que faria esse desembaraço.
Por que esse esforço no final, logo quando o presidente perdeu as eleições? Para você ver, tanto não ligaram para os presentes que isso ficou desde 2021 parado. Aí quando foi fazer o levantamento, acredito eu, de tudo que tem de acervo lá, você tem que tirar a mudança do Alvorada e levar para algum lugar, não dá para deixar as coisas do presidente Bolsonaro para o próximo presidente. É nessa linha de raciocínio.
Então ficaria para o próximo presidente? Eu não sei. Pelo que estou entendendo, pelo que eu estou vendo por vocês na imprensa, isso iria para o acervo público.
Mas outro pacote, com parte das joias ficou com o ex-presidente Bolsonaro. Ok. Ele falou que recebeu isso, foi ao Comitê de Ética da Presidência e disse que podia ficar no acervo privado e ele cumpriu a lei, mais nada.
Para presentes avaliados nesse montante, não caberia uma avaliação dele próprio que isso deveria ser acervo público. A lei é vaga. Tanto é vaga que o TCU está dizendo que tem que haver uma mudança legal para deixar com critérios objetivos.
O sr. disse que as joias estavam lacradas, ninguém sabia o que estava lá. Mas Bolsonaro conversou com o então chefe da Receita Federal por telefone em dezembro e agiu pessoalmente para tentar retirar esses presentes da Receita. Não. Ele não agiu pessoalmente. Foi o ajudante de ordem dele, para desembaraçar tudo o que ele tinha de acervo lá, pessoal ou que é para acervo público. Na troca de governo, ele tinha que tomar providências.
Houve tentativas por parte de ministros [de retirar as joias da Receita ao longo de 2021]. De tentar regularizar. O que não conseguiram fazer, mais uma vez, eu acho que por desconhecimento da burocracia.
A culpa é do ex-ministro Bento? Eu não vejo culpa dele também nesse assunto. Se eu te der um presente lacrado e disser “ó, entrega lá para o seu marido”, você vai abrir? Não. Você vai pegar o presente e vai dar lá para o seu marido.
Mas um presente da Arábia Saudita… Ninguém sabia o que tinha lá dentro. Podia ser um copo de água, ninguém sabia. E se tivesse má-fé, ninguém ia fazer o trajeto de passar pelo raio-x da Receita, não ia trazer num voo comercial.
Desde quando esse caso surgiu, tem pontas soltas e até agora o presidente não conseguiu explicar direito o que aconteceu. O que ele não explicou? É uma coisa tão pequena. É uma forçação de barra para desviar dos reais problemas do Brasil. Ele preferiu ignorar. Deixa as autoridades investigarem à vontade.
O sr. chegou a anunciar que Bolsonaro voltaria dia 15 de março, mas recuou. Tem a ver com o caso das joias? Não tem nada a ver. Surgiram novos compromissos nos Estados Unidos. Ele continua fazendo os contatos lá com brasileiros, com pessoas do Partido Republicano.
Raio-X | Flávio Bolsonaro, 41
Nascido no Rio de Janeiro, é advogado e empresário, formado em direito pela Universidade Cândido Mendes. Foi deputado estadual por quatro vezes, de 2003 a 2018, quando foi eleito para o primeiro mandato como senador da República. Disputou a Prefeitura do Rio em 2016 e acabou em quarto lugar, perdendo para Marcelo Crivella (Republicanos). É o mais velho dos cinco filhos de Jair Bolsonaro (PL).