A Fifa iniciará negociações para alterar a regra de transferências de jogadores após a União Europeia ter decidido que algumas normas eram ilegais. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (14) pelo órgão que governa o futebol mundial.
“Nos próximos dias, a Fifa convidará formalmente os interessados a comentar e propor ideias em relação ao artigo 17 do RSTP [que trata das ‘consequências da rescisão de um contrato sem justa causa’] com o objetivo de consolidar as propostas e identificar a melhor maneira de avançar”, disse a Fifa em comunicado.
O Regulamento da Fifa sobre o Estatuto e Transferência de Jogadores (RSTP) diz que um jogador que rescinde um contrato antes do seu final “sem justa causa” é responsável por pagar uma compensação ao clube e, quando o jogador se junta a um novo time, eles serão conjuntamente responsáveis pelo pagamento da compensação.
O Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE), decidindo sobre um caso do ex-jogador francês Lassana Diarra, afirmou em 4 de outubro que essas disposições eram ilegais. Espera-se que o julgamento leve a Fifa a reformar suas regulamentações de transferência.
“As regras em questão impedem a livre circulação de jogadores de futebol profissionais que desejam desenvolver sua atividade indo trabalhar para um novo clube”, disse o TJUE com sede no Luxemburgo.
A Fifa reconheceu que as regras serão alteradas.
“A Fifa espera desenvolver ainda mais seu arcabouço regulatório, obviamente levando em consideração opiniões e contribuições de todas as partes relevantes e afetadas”, disse o Chefe de Assuntos Jurídicos e de Conformidade da entidade, Emilio Garcia Silvero.
Enquanto a equipe jurídica de Diarra disse que todo o sistema de transferências mudaria após a decisão da UE, a Fifa argumentou que apenas parte das regulamentações seria afetada.
“O sistema internacional de transferências é composto por muitos elementos: por exemplo, regras relativas a períodos de registro; a transferência e registro de jogadores; a aplicação de sanções esportivas em certos casos; compensações de treinamento e mecanismos de solidariedade para recompensar clubes de treinamento; a transferência internacional de menores; o sistema de resolução de disputas para proteger jogadores e clubes em caso de violação de contrato em qualquer lugar do mundo; a proteção de jogadoras, treinadores, seleções nacionais e muito mais”, explicou Garcia Silvero na segunda-feira.
“Todos esses elementos vitais são basicamente não afetados pela decisão de Diarra.”
Mudança radical?
Quando a decisão do tribunal da União Europeia foi anunciada, especialistas avaliaram que ela poderá resultar em taxas de transferência reduzidas e mais poder econômico para os jogadores.
“É totalmente possível que isso signifique que os jogadores sintam que agora podem quebrar contratos e assinar com novos clubes, sem que o clube vendedor possa retê-los ou exigir taxas de transferência significativas”, disse Ian Giles, chefe de antitruste e concorrência da Norton Rose Fulbright.
“Mas com o tempo as coisas terão que se estabilizar para permitir que os clubes permaneçam economicamente viáveis. Clubes menores que dependem de taxas de transferência para talentos que desenvolveram podem muito bem ser os perdedores nesse contexto.”
“Essa decisão mexe num dos pilares mais significativos do sistema de transferências e também do sistema legal da Fifa: a sanção disciplinar. Ela é a base para impedir algumas condutas, como, por exemplo, não terminar um contrato de trabalho sem justa causa no meio de uma temporada”, diz Cristiano Caús, advogado especializado em direito desportivo e sócio do CCLA Advogados.
Caús assinala que a sanção para um clube é o transfer ban —quando o time fica proibido de contratar jogadores—, enquanto para o atleta é a suspensão. “A decisão abre um precedente que, a meu ver, é prejudicial, já que permitiria a atletas e clubes mal-intencionados driblarem os contratos vigentes e iniciarem uma nova relação sem estarem sujeitos a punições.”
(Colaborou Lucas Bambona)