O sepultamento de quatro jovens na última quarta-feira (1) reuniu familiares e amigos que, com cartazes e panfletos, exigiram justiça pelo assassinato dos garotos mortos durante uma operação militar das forças armadas do presidente Daniel Noboa.
Os rapazes, identificados como Josué e Ismael Arroyo, Saúl Arboleda e Steven Medina, tinham entre 11 e 15 anos e, enquanto jogavam futebol no dia oito de dezembro, foram detidos e levados, sem autorização, por policiais militares.
Os corpos dos jovens foram encontrados na véspera do Natal, em 24 de dezembro, perto de uma instalação da Força Aérea Equatoriana em Taura, que fica a aproximadamente uma hora do bairro de Las Malvinas, no sul de Guayaquil, onde os garotos desapareceram, logo após a justiça determinar que um “desaparecimento forçado” dos garotos.
Na última terça-feira (31), o Ministério Público do Equador confirmou que os cadáveres encontrados carbonizados próximos à base militar eram dos irmãos Arroyo, Medina e Arboleda.
A divulgação veio logo após um tribunal ordenar a prisão preventiva de 16 militares, por suspeita de envolvimento no assassinato. Eles podem ser condenados a até 26 anos de prisão pelo crime, que o Ministério da Defesa expressou um compromisso para esclarecer o que aconteceu.
“Os resultados das perícias de genética forense confirmam que os 4 corpos encontrados em Taura correspondem aos três adolescentes e uma criança desaparecidos após uma operação militar em 8 de dezembro”, informou o órgão na rede social X (Twitter).
Os cadáveres estavam “destruídos e incinerados”, segundo Billy Navarrete, diretor-executivo do Comitê de Defesa dos Direitos Humanos de Guayaquil.
‘Noboa assassino’
Os militares detidos alegaram que, após prenderem os jovens por um suposto roubo, eles foram liberados em boas condições.
Durante um protesto em frente ao tribunal que decretou a prisão dos militares, na última terça-feira (31), os manifestantes gritavam palavras de ordem e exibiam cartazes com frases como “queremos eles vivos já”.
Uma mulher exibiu um boneco de papelão representando o presidente Daniel Noboa, com marcas de mãos ensanguentadas no rosto, que foi queimado. “Noboa assassino”, dizia outro cartaz.
O comandante das Forças Armadas do Equador, Celiano Cevallos, afirmou na segunda-feira à comissão parlamentar da Infância, em Quito, que “o pessoal militar teria agido […] diante de um suposto crime flagrante”, referindo-se a um alegado roubo detectado pela patrulha. “Não foi autorizada nenhuma operação”, acrescentou.
Cerca de 40 organizações sociais responsabilizaram Noboa pelas “graves violações aos direitos humanos” registradas em 2024, no contexto de sua luta contra o crime organizado, que levou o país a ser declarado em conflito armado interno no início do ano, com a mobilização de militares nas ruas, além de toques de recolher por todo o país.
Na semana passada, em uma entrevista a uma rádio, Noboa pediu que as buscas fossem intensificadas e expressou sua intenção de que os jovens fossem declarados “heróis nacionais”.
O Congresso, de maioria opositora, declarou três dias de luto institucional e exortou o governo e a justiça a “aplicar todo o peso da lei” no caso, que acrescenta mais uma mancha ao governo direitista de Noboa, às vésperas de sua campanha para reeleição nas eleições de fevereiro.
A Aliança de Organizações por Direitos Humanos também responsabilizou o presidente equatoriano pela tragédia e afirmou que “estes acontecimentos não são isolados”, mas sim “parte de uma prática sistemática de abuso de autoridade e uso excessivo da força desde o início do conflito armado e dos estados de exceção decretados por Noboa”.
*Com Telesur e AFP
Edição: Lucas Estanislau