O exército israelense (IDF) divulgou a aplicação de novas regras de restrição da cobertura de veículos da mídia sobre soldados ativos em combate em território palestino, devido à crescente preocupação sobre ações legais contra reservistas em relação aos crimes cometidos em Gaza.
A medida vem após o soldado israelense Yuval Vagdani, que passava férias no Brasil, ter “fugido” do país com a ajuda da Embaixada de Israel no país. No dia 30 de dezembro, a Justiça Federal brasileira acatou uma denúncia contra o militar por “crimes de guerra” cometidos no genocídio em curso na Faixa de Gaza. Menos de uma semana depois do processo ser protocolado, no entanto, o soldado israelense já não se encontrava no Brasil. Ele saiu no último fim de semana (5-6 de janeiro).
A denúncia contra o militar foi protocolada pela Hind Rajab Foundation, organização internacional com sede na Bélgica, e tem como pauta central a defesa dos palestinos.
Segundo as novas regras do IDF, a mídia que entrevistar soldados com patente de coronel ou abaixo, não deve exibir seus rostos ou nomes completos, semelhante às regras que já existem para pilotos e membros de unidades de forças especiais, declarou o porta-voz militar israelense Nadav Shoshani, para os repórteres.
Os soldados entrevistados também não devem ser vinculados a um evento de combate específico do qual tenham participado.
Shoshani também disse que as organizações de ativistas, como a Fundação Hind Rajab estavam “ligando os pontos” entre os soldados que postavam material de Gaza e depois postavam outras fotos e vídeos de si mesmos durante as férias no exterior.
“Negociações complexas”
As negociações indiretas entre Israel e o Hamas foram retomadas no último fim de semana em Doha, no Catar, centradas sobretudo na libertação de reféns israelenses sequestrados em 7 de outubro de 2023.
As conversas já haviam sido realizadas em dezembro em Doha, mas tanto o Hamas quanto Israel acusaram-se de bloquear as tratativas e a continuação das conversas.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, que participa das conversas de negociação, afirmou na última quarta-feira (8) que um acordo estava “muito perto”, embora ainda existam vários pontos de atrito.
Os tópicos das negociações incluem a interrupção imediata dos bombardeios e ataques, com uma possível troca de reféns que permanecem sob custódia do Hamas desde 7 de outubro, e a libertação de prisioneiros palestinos nas prisões israelenses.
O Hamas também exige um fluxo maciço de ajuda humanitária, o retorno dos moradores de Gaza para deslocados desde o início dos ataques israelenses, a retirada do exército de Israel e a reabertura das passagens de fronteira entre Gaza e o exterior.
Por sua vez, Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, exclui a retirada completa das tropas de Gaza, além de não permitir que o Hamas governe o território palestino após a guerra.
O que mudou desde dezembro
Frente às exigências contraditórias, “há um acordo preliminar para adiar o debate sobre estas questões”, declarou um funcionário de alto escalão do grupo islamista à agência de notícias AFP, indicando que os países mediadores – Egito e Catar – propuseram postergar as discussões sobre os pontos conflitantes para uma fase posterior das negociações, isto é, para este momento.
Além disso, Netanyahu “parece estar mais disposto a fazer concessões”, diz Mairav Zonszein, especialista em Israel do International Crisis Group (ICG). Isto porque ele ampliou a coalizão que apoia seu governo e, por isso, se sente menos ameaçado pelos ministros de extrema direita que prometeram deixar o governo se um acordo em Gaza for alcançado.
Pela primeira vez, o Hamas declarou estar disposto a libertar 34 dos 95 reféns que mantém em Gaza durante a “primeira fase” de um acordo com Israel, detalhando que se trata de “todas as mulheres, doentes, crianças e idosos” do grupo. Também explicou que precisa de “uma semana de calma” para identificar quem está vivo ou morto.
Embora o governo israelense tenha descartado uma trégua de várias semanas para permitir esta troca de prisioneiros e sequestrados, as declarações do Hamas são inéditas desde o início das negociações.
Pontos de divergência
Entre as principais divergências estão a duração do cessar-fogo e as garantias para a implementação do acordo, assim como a governança de Gaza depois da guerra, tema altamente controverso mesmo dentro da liderança no território palestino. Israel se recusa a aceitar que o Hamas volte a governar a Faixa de Gaza após um acordo.
Apesar dos intensos esforços diplomáticos sob mediação de diversos países, nenhuma trégua em Gaza foi alcançada desde novembro de 2023, com a libertação de 105 reféns em troca de 240 prisioneiros palestinos.
Kobi Michael, pesquisador do Instituto Misgav, um centro de inteligência israelense, disse que “enquanto o Hamas continuar insistindo em exigir o fim da guerra como pré-requisito, garantido por EUA, Egito e Catar, não haverá progresso, porque Israel não aceitará tal compromisso”.
O genocídio perpetrado na Faixa de Gaza já matou 46 mil palestinos desde 7 de outubro de 2023, e feriu outros 109 mil. Apenas nos primeiros sete dias de 2025, Israel já matou 74 crianças por toda a Faixa de Gaza, segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
As crianças foram mortas em eventos com vítimas em massa, incluindo incursões noturnas na Cidade de Gaza, Khan Younis e Al-Mawasi, que seriam supostamente uma “zona segura”.
*Com AFP e The Guardian
Edição: Leandro Melito