Ex-ministro da Ciência e Tecnologia do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, Roberto Amaral afirma que a trama assassina que visava a eliminar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes fornece ao governo atual a “oportunidade para se fortalecer e esquivar-se do corner.”
“Nada obstante tantos golpes de Estado que perpetraram ao longo da história republicana, os fardados jamais haviam sido flagrados pelo poder civil em maquinação tão covarde”, diz o ex-presidente do PSB.
A seguir, trechos de artigo do cientista político, sob o título “Basta de banditismo militar e recuo republicano”.(*)
Nosso governo, no auge do respaldo popular, pois recém-saído de eleições presidenciais vitoriosas (com dificuldade embora), renunciou ao dever republicano de assumir o comando político do país e ditar-lhe o rumo, quando, em janeiro de 2023, fomos agredidos – o país, seu povo –, por uma tentativa de sublevação institucional.
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A violência e os atos de depredação de 8 de janeiro, organizados sob a direção e a omissão colaborativa de oficiais e comandantes de quartéis, deveriam cumprir o papel de estopim para mais um golpe de estado em extensa lista que parece não se fechar jamais.
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As condições subjetivas para o levante já vinham sendo preparadas por Jair Bolsonaro e seus asseclas desde o início do mandato, com seus discursos, sua prática e a permanente descaracterização do processo eleitoral.
A simbólica depredação do Congresso, do Palácio do Planalto e do STF foi o ato mais significativo da contestação da institucionalidade mediante a violência, mas não foi o único.
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Os inquéritos que a Polícia Federal acaba de encaminhar ao STF informam a um país assustado que em novembro de 2022, ou seja, logo após as eleições presidenciais, fora maquinado por generais da ativa e da reserva um plano macabro, para manter no poder o capitão delinquente, derrotado em sua tentativa de reeleger-se.
A trama assassina visava a eliminar Lula e Alckmin (presidente e vice-presidente eleitos) e o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e a consequente implantação de mais um golpe militar.
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O inquérito policial, já à espera do pronunciamento do Procurador-Geral da República, arrola uma quadrilha de criminosos comuns, mais perigosos que os milicianos e os traficantes dos morros cariocas e das favelas paulistanas, seja pelos cargos que ocupavam, seja pelas armas do Estado que controlavam, seja pela responsabilidade que lhes devia inspirar a farda.
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Há um fato novo a pedir registro: depois de pilhados, serão, pela primeira vez, julgados e condenados (é este pelo menos o sentimento do país) a partir de quando a república se restabelecerá e a democracia respirará sem medo – ao menos por algum tempo…
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Um somatório de fatos recentes fornece ao governo Lula a oportunidade para se fortalecer e esquivar-se do corner.
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Havemos de confiar que o líder da frente ampla que derrotou o protofascismo, animado pela ótima reunião do G-20, em que de certa forma conduziu o mundo, aproveitará a oportunidade para sair do canto do ringue e tomar em suas mãos a condução do poder político.
(*) Artigo publicado originalmente na CartaCapital
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