Testemunha entrou em contato com autoridades em busca de proteção e alegou ser alvo de setor do grupo responsável por matar líderes e faccionados importantes
As autoridades tomaram conhecimento do plano de atentado contra Sergio Moro após um ex-participante do Primeiro Comando da Capital (PCC) entrar em contato com o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado do Ministério Público do Estado de São Paulo em busca de proteção. O ex-faccionado havia sido jurado de morte por membros da organização, de acordo com documentos da Justiça Federal, obtidos pela Jovem Pan. “Da leitura do documento, depreende-se que a testemunha protegida narrou, em síntese, que era um ex-faccionado do Primeiro Comando da Capital – PCC e que havia pedido para entrar em contato com o GAECO pois estava jurado de morte, sabendo que pessoa com a alcunha “NF”, que pertence à citada facção, estaria incumbido de tirar sua vida. “NF” seria o chefe da “restrita”, setor dentro do PCC responsável por matar ex-faccionados e também por cometer atos criminosos contra autoridades e agentes públicos”, esclarece a investigação realizada pela Polícia Federal.
O setor da “restrita” seria responsável por matar líderes e faccionados importantes, bem como por cometer atentados contra autoridades, de acordo com o relato da testemunha. Caso se tratasse de um faccionado qualquer, não haveria atuação da “restrita”, mas sim do “tribunal do crime”. “Confirmou, ainda, que o setor da “restrita”, chefiado por JANEFERSON, é responsável por coordenar atos não somente no estado de São Paulo, mas no Brasil inteiro”, aponta o documento.
Como a Jovem Pan mostrou, relatórios de inteligência produzidos pelo Gaeco do Ministério Público de São Paulo e a PF apontam que plano da facção criminosa – com o possível sequestro do ex-juiz – previa usar Sergio Moro como moeda de troca para a libertação de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola. O objetivo, segundo investigadores, seria usar o senador e familiares como moeda de troca — a organização criminosa já teve ao menos três planos de fuga desbaratados pela polícia nos últimos dois anos. O sequestro de autoridades para fins de libertação de lideranças criminosas foi uma prática muito usada pela guerrilha colombiana Farc, parceira de facções brasileiras no tráfico de drogas e armas.
As ameaças contra Moro e outras autoridades foram investigadas pela Polícia Federal e basearam a Operação Sequaz, realizada na quarta, 22, que terminou com a prisão de 12 pessoas. Inquérito da corporação aponta que o plano para sequestro do ex-juiz foi financiado por tráfico internacional de drogas. A investigação afirma que o material mostra que “se a prestação de conta não for enviada no tempo certo, a financeira da Bolivia que vai cobrar eles, ou seja, o dinheiro que é recebido pelos investigados vem, naturalmente, do tráfico de drogas”, escreveram os investigadores.