Zulfugar Asadov e Subhonkul Rakhimov são dois dos 29 sobreviventes à queda do avião da Azerbaijan Airlines, no Cazaquistão, dia 25 de dezembro. Um estava na aeronave como assistente de bordo, o outro como passageiro. Quatro dias depois do desastre, ainda no hospital, descrevem os momentos de caos e pânico que viveram antes do desastre.
Primeiro ouviu-se um barulho estranho, semelhante a pancadas, no exterior do avião. Depois, algo bateu no braço do comissário de bordo Zulfugar Asadov, que estava na cabine, cortando-o. Os passageiros, que perceberam que algo de errado se estavam a passar, entraram em pânico. Alguns começaram a rezar.
Ainda no avião, para estancar a perda de sangue no braço, Asadov usou uma toalha como ligadura.
“Graças a Deus estou vivo”, desabafou Zulfugar Asadov, numa entrevista ao jornal norte-americano ao The New York Times.
A filha, Konul, soube da tragédia através de um telefonema do marido, que lhe pediu que fosse direta para casa depois do trabalho.
“Disse-me: ‘Não te preocupes, o teu pai está vivo, mas o avião em que ia despenhou-se'”, disse Konul.
Quando viu os primeiros vídeos do acidente na Internet, não conseguia acreditar que alguém pudesse ter sobrevivido e só falou com o pai no dia seguinte.
“Quando ouvi a voz dele pensei que estava a ser enganada, que ele não podia ter sobrevivido a uma coisa daquelas, que alguém estava a fingir a voz dele para me confortar”, recordou a filha de Asadov.
Já o passageiro Subhonkul Rakhimov disse que começou a rezar depois de ouvir o estrondo.
“Pensei que era a minha última oração”, lembrou Rakhimov em declarações à agência Reuters.
O avião continuou a voar, mas despenhou-se pouco depois. Durante o impacto, o corpo “torceu-se uma e outra vez”. Seguiu-se silêncio e, depois disso, as pessoas começaram a gemer com dores provocadas pelos ferimentos.
“Apercebi-me de que tínhamos aterrado. Não sabia o que fazer, se rir ou chorar”, acrescentou o passageiro.
O avião voava de Baku, capital do Azerbaijão, para Grozny, capital regional da república russa da Chechénia, na quarta-feira, quando virou em direção ao Cazaquistão e caiu ao tentar aterrar.
O desastre matou 38 pessoas e deixou todos os 29 sobreviventes feridos.
A Azerbaijan Airlines atribuiu o acidente a “interferências físicas e técnicas externas” não especificadas e anunciou a suspensão dos voos para vários aeroportos russos.
A companhia aérea não disse de onde veio a interferência nem forneceu mais detalhes.
O porta-voz do Kremlin (presidência russa), Dmitri Peskov, recusou comentar as alegações de que o avião foi atingido pelas defesas aéreas russas, comentando apenas que caberá aos investigadores determinar a causa do acidente.
A provar-se que o avião caiu depois de ter sido atingido pelas defesas aéreas russas, este seria o segundo desastre mortal de aviação civil ligado aos combates na Ucrânia.
O voo 17 da Malaysia Airlines foi abatido em 2014 por um míssil terra-ar russo, matando todas as 298 pessoas a bordo, enquanto sobrevoava o leste da Ucrânia, numa área controlada por separatistas apoiados por Moscovo.
A Rússia negou a responsabilidade, mas um tribunal neerlandês condenou em 2022 dois russos e um ucraniano pró-Moscovo pelo seu papel no abate do avião com um sistema de defesa aérea trazido para a Ucrânia a partir de uma base militar russa.
Os investigadores do Azerbaijão estão a trabalhar em Grozny no âmbito da investigação do desastre de quarta-feira, informou o gabinete do Procurador-Geral do Azerbaijão em comunicado.
A empresa continuará a operar voos para seis cidades russas, incluindo Moscovo e São Petersburgo. Estas cidades também foram repetidamente alvo de ataques de ‘drones’ ucranianos no passado.
A Qazaq Air do Cazaquistão também anunciou que iria suspender os voos de Astana para a cidade russa de Ecaterimburgo, nos Montes Urais, durante um mês.
A FlyDubai suspendeu também os voos para Sochi e Mineralnye Vody, no sul da Rússia, nos próximos dias.
No dia anterior, a transportadora israelita El Al suspendeu os voos de Telavive para Moscovo, alegando “desenvolvimentos no espaço aéreo russo”.
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