Pela primeira vez, desde 2024, estamos vivendo em um planeta com média de temperatura acima de1,5ºC. O mundo sofreu um aumento do limite simbólico estabelecido pelo Acordo de Paris para combater a mudança climática, uma situação que exige uma “ação climática pioneira”, segundo a ONU.
Os efeitos reais do aquecimento global atual não tem precedentes em pelo menos 120 mil anos. É uma “advertência severa”, disse Johan Rockstrom, do Instituto Potsdam, que pesquisa o impacto da mudança climática. “Estamos vivenciando os primeiros impactos de um mundo a +1,5ºC”, disse.
O ano de 2024 foi o mais quente da história e o primeiro a romper a barreira de 1,5°C de aumento na temperatura média da Terra, estipulado como limite crítico pelo Acordo de Paris. Os dados mostram um aumento médio de 1,55ºC na temperatura média global, que chegou a 15,10°C, e foram divulgados nesta sexta (10) pelo observatório europeu Copernicus.
Por isso, em 2024, o mundo potencialmente viveu “o primeiro ano civil com uma temperatura média global de mais de 1,5ºC, acima da média de 1850-1900”. Isto confirma as tendências de alta de temperaturas vistas na última década.
“Temperaturas sem precedentes em 2024 exigem uma ação climática drástica em 2025”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres. “Ainda há tempo para evitar o pior da catástrofe climática”, mas os líderes devem “agir agora”, enfatizou Gutérres.
É improvável que o novo ano quebre esses recordes novamente, mas o Gabinete de Meteorologia Britânico alertou que 2025 pode ser um dos três anos mais quentes já registrados no planeta. Os dados também foram confirmados nos Estados Unidos pela agência de oceanos e atmosfera do país (NOAA).
Em 2025, conforme o Acordo de Paris, os países signatários devem anunciar os novos compromissos climáticos, atualizados a cada cinco anos, com os EUA, um dos maiores emissores de gases de efeito estufa do planeta, sob a gestão do negacionista climático Donald Trump.
No entanto, os esforços para a redução de gases de efeito estufa estão diminuindo em alguns países ricos: apenas −0,2% nos EUA no ano passado, diz um relatório independente.
Sinal de alerta
Os incêndios devastadores na região de Los Angeles, que deixaram pelo menos dez mortos e milhares de casas queimadas, coincidiram com as previsões alarmantes.
Outros desastres agravados pela mudança climática surgiram nos últimos meses: 1.300 mortos em ondas de calor extremo na peregrinação a Meca em junho de 2024, inundações históricas no Rio Grande do Sul, e também na África e na Espanha, furacões violentos nos Estados Unidos e no Caribe.
Em termos econômicos, os desastres naturais causaram US$ 320 bilhões (R$ 1,9 trilhão) em prejuízos econômicos no mundo todo em 2024, segundo a seguradora Munich Re.
No entanto, durante a COP29, realizada em Baku, no Azerbaijão, o financiamento estabelecido para que os países em desenvolvimento possam mitigar os efeitos climáticos foi de apenas US$ 300 bilhões, e permaneceu quase em silêncio sobre as ambições de redução de gases de efeito estufa e, em particular, a eliminação de combustíveis fósseis.
Restringir o aquecimento a 1,5°C em vez de 2°C, o limite mais alto do Acordo de Paris, reduziria significativamente suas consequências mais catastróficas, segundo o IPCC, o painel de especialistas climáticos da ONU.
“Cada ano da última década [2014-2024] foi um dos dez mais quentes já registrados”, alertou Samantha Burgess, vice-diretora do Serviço de Mudança Climática (C3S) do Copernicus. Os oceanos, que absorvem 90% do excesso de calor causado pela humanidade, também continuaram seu superaquecimento, atingindo um recorde no ano passado.
A média anual de suas temperaturas na superfície, excluindo as áreas polares, atingiu o nível inédito de 20,87°C, quebrando o recorde de 2023.
“Em nossas mãos”
Além dos impactos imediatos das ondas de calor marinhas sobre os corais e peixes, esse superaquecimento duradouro dos oceanos, o principal regulador do clima da Terra, afeta as correntes marinhas e atmosféricas.
Mares mais quentes liberam mais vapor de água na atmosfera, fornecendo energia adicional para tufões, furacões e tempestades.
O Copernicus observa, portanto, que o nível de vapor de água na atmosfera também atingiu um recorde em 2024, aproximadamente 5% acima da média de 1991-2020.
No ano passado, o mundo testemunhou o fim do fenômeno natural El Niño, que induz ao aquecimento global e aumento de eventos extremos, e uma transição para condições neutras ou o fenômeno oposto, La Niña. A Organização Meteorológica Mundial alertou em dezembro que este fenômeno seria “curto e de baixa intensidade” e insuficiente para compensar os efeitos da mudança climática.
“O futuro está em nossas mãos: ações rápidas e decisivas ainda podem mudar a trajetória do nosso clima futuro”, enfatiza Carlo Buontempo, diretor do C3S.
*Com ONU News e AFP