O fim das eleições municipais permite constatar a presença predominante dos partidos de centro e de direita no comando das prefeituras brasileiras. Entretanto, ainda que muito se fale sobre o encolhimento da esquerda, essas movimentações parecem ter origem principalmente em trocas internas aos grupos.
Com base em dados do CepespData e em uma classificação ideológica proposta por Bruno Bolognesi, Ednaldo Ribeiro e Adriano Codato, vemos que, a partir de 2025, 48% das prefeituras serão lideradas por partidos de direita, 38% por partidos de centro, e 14% de esquerda. Esses números estão em patamares próximos aos de 2020, que foram de 49%, 35% e 15%, respectivamente. Isso porque a grande queda da esquerda aconteceu entre 2012 e 2016, quando a direita passou a comandar 44% dos municípios, o centro 34% e a esquerda 22%.
Comparando o desempenho dos grupos ideológicos, vemos que ele não é homogêneo entre as regiões. Os partidos de esquerda encolheram em todas as regiões, à exceção da Nordeste. Os partidos de centro cresceram nas regiões Nordeste e Sudeste, que concentram maior população e número de municípios, mas perderam espaço no Centro-Oeste, Norte e Sul do país. O desempenho da direita é complementar ao do centro: os partidos de direita perderam espaço nas regiões Nordeste e Sudeste e cresceram no Norte, Sul e Centro-Oeste.
O cenário de estabilização da centro-direita no país indica mais continuidade do que ruptura e nos permite traçar algumas projeções para 2026. A primeira, e talvez mais importante, diz respeito à futura composição da Câmara dos Deputados. Embora a disputa presidencial atraia mais atenção da mídia e do público, a ciência política tem destacado há anos a relevância dos resultados das eleições municipais para a formação do Legislativo federal.
Prefeitos e prefeitas são importantes aliados de candidatos a deputado federal. Com boa parte dos municípios vinculados a legendas ao centro e à direita, esperamos que a composição da Câmara siga contornos semelhantes na distribuição de forças partidárias. Em 2020, cerca de 85% dos municípios brasileiros elegeram prefeitos de centro e de direita, perfil próximo à composição da Câmara em 2022. Atualmente, os partidos de centro e de direita ocupam, juntos, 75% das cadeiras de deputado federal.
Dada a estabilidade verificada na distribuição das forças no pleito de 2024, esperamos a manutenção de um perfil dominante de centro-direita na Câmara no próximo ciclo eleitoral. Tudo mais constante, a expectativa é apenas de um maior equilíbrio à direita e ao centro.
O crescimento dos partidos de centro nas regiões mais populosas do país e que, portanto, concentram maior quantidade de cadeiras para a Câmara pode ter impacto nos desafios para a governabilidade do próximo presidente.
Ainda que em 2026, com ou sem Lula, a esquerda seja bem-sucedida em se manter na Presidência, é importante considerar que as dificuldades relacionadas à governabilidade permanecerão as mesmas ou serão até mais intensas. Além disso, a construção de uma candidatura de esquerda demanda a composição de uma aliança de governo com os partidos de centro e, até mesmo, com algumas siglas menos radicais à direita, a exemplo do que vimos nos dois primeiros governos Lula.
Este é o último artigo da coluna Voto a Voto para as eleições de 2024. Ao longo das últimas semanas, pesquisadores do FGV Cepesp buscaram demonstrar como uma análise baseada em evidências pode ajudar a compreender melhor as eleições e o nosso sistema político, destacando as regularidades reveladas pelos dados.
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