Tabata Amaral (PSB), quarta colocada na eleição à Prefeitura de São Paulo, com 9,9% dos votos, sinaliza que vai disputar novamente o cargo em 2028 e engrossar a oposição ao prefeito reeleito, Ricardo Nunes (MDB). “Não está à altura de São Paulo”, afirma a deputada federal em entrevista à Folha.
Após declarar voto em Guilherme Boulos (PSOL) no segundo turno e se recusar a fazer campanha por ele, diz que tem “discordâncias muito grandes” com o candidato apoiado pelo presidente Lula (PT) e não vê nele disposição para “conversar com todo mundo”.
Também presidente municipal do PSB, Tabata diz que Boulos ajudou a legitimar Pablo Marçal (PRTB), candidato que a atacou em vários momentos, ao aceitar ser sabatinado pelo influenciador mesmo depois de ter sido vítima da divulgação de um laudo falso para prejudicá-lo.
Por que decidiu declarar voto em Boulos e não apareceu no segundo turno?
É importante ter coerência. Para mim, nunca foi uma opção apoiar Ricardo Nunes. Fiz uma campanha de enfrentamento a essa gestão medíocre. Mas isso não quer dizer que a gente [eu e Boulos] represente o mesmo projeto. A gente tem histórias e posicionamentos históricos muito diferentes.
Como viu o fato de seus aliados do PSB Geraldo Alckmin e Márcio França terem subido no palanque de Boulos?
Com muita naturalidade. Eles agiram de forma completamente coesa com o nosso grupo, mas tinham atribuições e exigências por serem ministros do governo Lula.
Restou alguma diferença irreconciliável ou mágoa da sra. com Boulos, PSOL ou PT?
Não faço política com base em mágoas, em disputas pequenas. Inclusive, liguei para o Guilherme Boulos e lhe desejei sorte, mas disse que eu liderava um projeto diferente.
Na hora que tenho que tomar decisão, eu sempre tomo. Não acredito nessa política de ficar no muro, titubear, mudar quem você é por conveniência eleitoral.
A quais diferenças a sra. se refere?
É claro que tenho concordâncias com o projeto que foi liderado por Boulos e com os partidos progressistas, nas pautas sociais e no combate à desigualdade, mas existem diferenças de postura. O PSB se posiciona de forma enfática contra ditaduras de esquerda, como Venezuela e Nicarágua.
E tem uma questão da atuação, do modus operandi. As pessoas querem uma política que resolva o problema, entregue e dialogue com o dia a dia. E, para fazer, você tem que conversar com todo mundo.
Não fica incoerente a sra. defender diálogo e ter entrado em embates mais duros com Marçal?
De forma alguma. Nessa comparação, não podemos perder de vista que ouvi coisas que não tinham nada a ver com trajetória política ou propostas. Os questionamentos e acusações que trouxe em relação a ele tinham a ver com a sua trajetória profissional e política.
Além da questão do conteúdo, a segunda diferença é que eu não sou leviana, não estou aqui para brincar. As pessoas estão cansadas dessa política morna. Valorizam a coragem e a autenticidade. Mas a gente pode e tem o dever de fazer isso com responsabilidade e seriedade.
Como a sra. viu o fato de Boulos ter aceitado o convite dele para a live de “entrevista de emprego”?
Mais do que dizer se concordo, se discordo —eu discordo—, quero dizer o que eu teria feito no lugar dele. Eu jamais teria aceitado ser sabatinada pelo Marçal, muito menos naquele contexto.
Acho louvável e necessário dialogar com pessoas que pensem diferente. Mas, na hora que o candidato aceita ser sabatinado pelo Pablo Marçal depois de tudo o que ele fez, isso de certa forma legitima o Marçal e atenua o que ele fez na campanha. Esse é um limite que eu não topo. Não vale tudo por voto.
Como cientista política, qual é a sua leitura sobre a derrota da esquerda em SP?
Juntando a experiência de São Paulo com outras do Brasil, existem candidaturas à esquerda e à direita que, por serem mais radicais no seu discurso ou tidas como mais extremistas, são melhores para chegar ao segundo turno porque chamam mais atenção e mobilizam mais, mas essas candidaturas perdem justamente porque não conseguem dialogar com a parcela mais ampla do eleitorado.
O PSB mostrou em São Paulo que há um baita espaço para mudança. Num contexto de empate triplo [na liderança] e indefinição, eu ter tido mais de 600 mil votos deixou isso claro. Agora a gente tem que ter musculatura política para estar no segundo turno.
A sra. é pré-candidata à prefeitura em 2028? E à reeleição como deputada em 2026?
Com a campanha tão menor que eu tive [em relação a adversários], com a loucura que tomou conta dessa eleição, ainda assim 600 mil pessoas disseram: não desista.
Esta decisão [candidatura] não é individual, mas hoje lidero o PSB aqui e, sendo da vontade de Deus, do povo, do meu partido, vou trabalhar para que a gente não só esteja na próxima eleição à prefeitura, como também se fortaleça para estar no segundo turno.
Como isso vai se refletir na eleição daqui a dois anos, é um entendimento com o partido. Estou à disposição para o que fizer mais sentido para o nosso grupo político.
A sra. é favorável a uma federação do PSB com o PDT, partido do qual a sra. saiu rompida?
100%. Sou uma das maiores defensoras dentro do PSB de que a gente possa compor uma federação com partidos de tamanho parecido e visões de mundo compartilhadas, como o PDT.
Defende que o PSB reivindique a manutenção da vice de Lula para 2026?
O que o PSB vai sempre defender, com razão, é que vai ser difícil achar um quadro da estatura do Geraldo Alckmin e com esse papel de união e conciliação.
A sra. cumprimentou Nunes pela vitória e disse que seguirá fiscalizando a gestão dele. Como fará isso?
Eu moro em São Paulo e é meu papel, como deputada federal e como liderança política, fiscalizar. Agora vai chegar a conta dessa eleição tão cara, de um governo que vai ser ainda mais distribuído entre inúmeros partidos. Você não vê coesão, um projeto.
Então o prefeito pode esperar que a sra. vá agir como uma porta-voz da oposição?
100%. Enquanto a gente não tiver um prefeito à altura de São Paulo, que consiga deixar de lado questões partidárias, desmontar o palanque e trazer o governador e o presidente da República, a gente vai continuar sofrendo com as consequências.
O prefeito segue demonstrando que não está pronto para liderar um desafio tão grande. Sinceramente, torço para que mude, mas não é o que a gente tem visto de sinalização.
Que saldo fica da sua participação na eleição e o que a sra. aprendeu?
Fiz campanha me dispondo a ouvir todo mundo. O primeiro aprendizado foi: antes de falar, ouça. Saio muito otimista, com sangue no olho e pronta para as próximas.
RAIO-X | TABATA CLAUDIA AMARAL DE PONTES, 30
Cientista política e astrofísica, é formada em Harvard e, com a bandeira da educação, foi eleita deputada federal por São Paulo em 2018 pelo PDT. Rompeu com a sigla e foi reeleita em 2022 pelo PSB. É presidente municipal da legenda e foi candidata à Prefeitura de São Paulo em 2024, terminando em quarto lugar, com 9,9% dos votos. Sua campanha declarou à Justiça Eleitoral R$ 17,8 milhões em arrecadação