“No Brasil até o passado é incerto.”
A frase, atribuída a vários pais e nenhuma mãe, vale pela graça. A origem é secundária.
Verdadeira é a quantidade de análises que desconhecem o passado como se a vida tivesse começado no dia em que o analista veio à luz. Em vez de iluminar, obscurece.
Exemplo claro é a presidenta do Palmeiras, Leila Pereira.
Muitos a tratam como a primeira mulher a presidir um grande clube.
Ignoram Marlene Matheus, a bailarina paulista que comandou o Corinthians entre 1991 e 1993, e Patrícia Amorim, a nadadora carioca no leme do Flamengo entre 2010 e 2012.
Vejam a rara leitora e o raro leitor que nem faz tanto tempo assim e que estamos falando de mulheres na direção dos dois clubes mais populares do Brasil.
Marlene era acusada de ser marionete nas mãos do marido, Vicente, que não podia ser reeleito, e Patrícia, antes de Dilma Rousseff, mudou o tratamento de gênero da palavra presidente ao pedir, como está consagrado no dicionário desde sempre, ser chamada de presidenta.
Alguns seguiram, outros não, talvez por machismo, talvez por estilo.
Que Leila Pereira faz vitoriosa gestão à frente do Palmeiras é óbvio.
Que será reeleita, também.
Que virou conselheira do clube, e principal mandatária, à custa de ilegalidade cometida pelo ex-presidente Mustafá Contursi até o gramado artificial da casa esmeraldina sabe —assim como são conhecidas suas práticas empresariais constantemente contestadas e punidas na Justiça, por juros extorsivos etc.
Tocar em tais temas soa como misógino para quem vê nela uma feminista no território dos machos.
Seria realmente excelente se Pereira se distinguisse na miséria da cartolagem brasileira, e não apenas por ter o tal um olho que a faz rainha em terra de cegos.
Terra de cegos na qual o de maior poder, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, é negro e nem por isso melhor que seus antecessores, todos brancos, heterossexuais, um até assediador, outros corruptos.
Como Vinicius Junior é negro e deve ser criticado pelo comportamento injustificável depois de ter perdido o pênalti contra a Venezuela.
Denuncie o genocídio em Gaza e um imbecil o chamará de antissemita.
Tudo isso para dizer que o time de mulheres palmeirenses terá de disputar, fora de casa, no feriado da próxima quarta-feira (20), à tarde, a decisão do Campeonato Paulista, com condições de sair campeão, em Campinas, no Brinco de Ouro da Princesa.
Porque a “feminista” Pereira aceitou as condições impostas para evitar confronto com a torcida do Corinthians, que tem jogo pela manhã, em Itaquera, contra o Cruzeiro, no masculino.
Por que não fazer o jogo feminino à noite? Ou na quinta-feira?
No jogo da ida, em Itaquera, 35 mil corintianos incentivaram as Brabas para duríssima vitória por 1 a 0.
Por que as Palestrinas têm sido impedidas de ter o mesmo apoio?
A resposta, minha amiga, está soprando no vento da indiferença da direção alviverde com suas jogadoras, invariavelmente obrigadas a enfrentar as poderosas rivais em condições desiguais.
A quem interessa o futebol feminino? —alguém perguntará.
Deveria interessar, ao menos, às feministas.
Mas quem é este homem branco, sem lugar de fala, para desnudar as hipocrisias de Leila Pereira?
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