A Polícia Federal cumpriu mandados nesta terça-feira (19) contra suspeitos de integrarem uma organização criminosa que teria planejado um golpe de Estado em 2022 para tentar impedir a posse do presidente Lula (PT).
Foram presos quatro militares e um policial federal. Segundo as investigações, eles conversavam em 2022 em um aplicativo de mensagens sobre um plano para matar Lula, o vice, Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que autorizou a operação nesta terça.
O pedido de prisão foi feito pela PF na quinta-feira (14), um dia após o atentado na praça dos Três Poderes em que um homem se explodiu em frente à sede do STF.
Moraes autorizou a realização da operação três dias depois.
Quem foi preso?
Foram presos o general da reserva Mario Fernandes, os tenentes-coronéis Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira e Rodrigo Bezerra de Azevedo e o policial federal Wladimir Matos Soares
Fernandes foi secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência no governo de Jair Bolsonaro (PL) e depois assessor parlamentar do deputado federal e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello (PL).
Lima, Oliveira e Azevedo são militares com formação nas forças especiais, os chamados “kids pretos“, e estavam em cargos de comando no Exército até o início das investigações.
Wladimir, por sua vez, integrou a segurança de Lula durante a transição de governo, em 2022.
O que eles fizeram?
Segundo a PF, os quatro arquitetaram um plano para assassinar Lula, Alckmin e Moraes por envenenamento, com o objetivo de manter Jair Bolsonaro (PL) no poder após a derrota eleitoral de 2022. No caso do ministro do STF, também teria sido cogitada morte por explosão.
De acordo com o relatório da PF, o planejamento operacional se chamava “Punhal Verde e Amarelo”.
Quais foram as principais evidências encontradas?
Relatório da investigação da PF aponta como evidências, entre outras, mensagens trocadas por WhatsApp entre o tenente-coronel Rafael Martins Oliveira e Mauro Cid, então ajudante de ordens de Bolsonaro; diálogos entre os detidos no aplicativo Signal; documento encontrado em um HD externo do general Mario Fernandes; e vestígios de localização dos telefones celulares dos envolvidos.
No WhatsApp, o tenente-coronel Rafael Martins Oliveira e Cid trocam mensagens sobre o financiamento da logística da vinda de pessoas a Brasília, em meio a acampamentos golpistas diante de unidades do Exército.
Oliveira também envia ao então ajudante de ordens documento intitulado Copa 2022, mesmo nome do grupo pelo qual os presos nesta terça-feira se comunicavam no aplicativo Signal.
De acordo com a PF, cada um utilizava como codinome nesse grupo o nome de um país (Alemanha, Áustria, Brasil, Argentina, Japão e Gana), de forma a não ser identificado.
Eles usaram para conversar celulares com chips habilitados em nomes de terceiros e associados a países para evitar identificação.
Há ainda mensagens que mostram que Wladimir repassou informações sobre a segurança de Lula a envolvidos no plano golpista.
Outras evidências foram encontradas em um HD externo vinculado ao general Mário Fernandes. Entre elas, segunda a investigação, está um documento de word que, segundo a PF, continha “um verdadeiro planejamento com características terroristas, no qual constam descritos todos os dados necessários para a execução de uma operação de alto risco”.
Segundo a PF, o objetivo do grupo alvo da operação nesta terça-feira era manter Jair Bolsonaro (PL) no poder mesmo após a derrota para Lula.
A investigação usa mensagens trocadas com o então ajudante de ordens dele, Mauro Cid, e indica que o general Mario Fernandes teria imprimido dentro o Palácio do Planalto, em 2022, o planejamento para matar Lula e Moraes.
Cerca de 40 minutos depois, ele teria ido até o Palácio do Alvorada, residência oficial da Presidência então ocupada por Bolsonaro.
Ainda segundo a PF, o plano de golpe e homicídio foi discutido na casa do general da reserva Braga Netto, que foi vice de chapa de Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022 e ministro da Casa Civil e da Defesa no governo.
O ex-presidente é alvo de investigações que apuram os crimes de tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado democrático de Direito, incluindo os ataques de 8 de janeiro de 2023.
Parte dessas apurações está no âmbito do inquérito das milícias digitais relatado por Moraes e instaurado em 2021, que podem em tese resultar na condenação do ex-presidente em diferentes frentes.
O que dizem os bolsonaristas?
O ex-presidente não se pronunciou até o momento sobre a operação, assim como Braga Netto.
Em nota, Pazuello, de quem o general Mário Fernandes foi assessor, afirmou que o militar já havia sido desligado, mas que acredita em sua “idoneidade”.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, criticou a operação e disse que, “por mais que seja repugnante pensar em matar alguém, isso não é crime“.