O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), anuncia que começa em janeiro de 2025 a rodar o país em agenda de campanha para a Presidência da República em 2026.
De modo menos explícito, outros personagens da direita, entre os quais governadores, também se mostram desde já dispostos à empreitada. Isso cria a sensação de que esse campo sai em vantagem na corrida ao Planalto.
Contribuem para a animação os resultados dos partidos do centrão nas eleições municipais e, com isso, a difusão da ideia de que esteja se esgotando a era dos extremos. Supostamente desgastada pela avaliação aquém das expectativas do governo de Luiz Inácio da Silva (PT), pela distância imposta pelo eleitorado à esquerda e pela inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL).
Mas se a gente examinar detidamente o cenário em retrospectiva, vamos encontrar semelhanças com o período que antecedeu a eleição de 2022. Ali, não só a chamada polarização esteve presente como decidiu a parada naquela batalha de rejeições da qual Lula e Bolsonaro saíram quase empatados. Não houve vitória nem derrota absolutas.
Hoje não há provas de que no plano nacional as torcidas tenham arrefecido os respectivos ânimos para novo enfrentamento. Tampouco se demonstra o contrário, é verdade.
A pesquisa CNT/MDA divulgada na última terça-feira, indicando os dois no topo das preferências para 2026, reflete mais o grau de presença das figuras na cena política do que projeção confiável, pois há o tempo e as circunstâncias a separarem intenções e decisões reais.
Um dos fatores que lembram o ambiente de hoje em relação àquele que antecedeu em um ano e meio a eleição de 2022 é o ensaio de nomes. Lá eram a centro-esquerda, o centro e a centro-direita que se movimentavam numa profusão de pretendentes muito parecida com o que faz a direita assumida agora.
Dos idos de 2021 até meados do ano seguinte, o cardápio incluía de Henrique Mandetta a Luciano Huck, passando por Sergio Moro, João Dória, Eduardo Leite, Rodrigo Pacheco e mais quem me tenha fugido a memória. Era muita gente.
Todo mundo falando na necessidade de união de forças sem que ninguém, naquela altura, se dispusesse a dar o primeiro passo na disposição de desistir em prol de uma conciliação.
Embora isso seja natural numa fase de testes, na ocasião os experimentos não foram além dos primeiros trancos. Os patrocinadores das iniciativas se renderam pouco a pouco, um após o outro, à falta de aderência popular às suas pretensões.
Havia na época dúvida sobre se Lula seria mesmo candidato, não se tinha certeza sobre a capacidade de bater Bolsonaro nas urnas e total incerteza a respeito do custo-benefício no investimento em candidaturas próprias.
Além disso, a falta de unidade interna se reproduzia nas divisões externas entre os partidos, o que interditava a composição de alianças.
Mas a carência maior mesmo era de conteúdo. Aquilo a que chamamos de “discurso”. O que dizer, o que propor para dissolver as bolhas e atrair o eleitorado prisioneiro delas?
Nessa indispensável seara de proposições não surgiu coisa alguma. Ficaram todos paralisados na ideia difusa de que havia cansaço com a dicotomia vigente, mas a partir disso não se evoluiu para algo de melhor a ser oferecido ao público.
Agora, a dois anos da próxima eleição, de novo surgem rostos, aparecem vozes, mas ainda lhes falta a mesma substância anterior. É cedo? É, mas lá atrás também era e o tempo não serviu de bom conselheiro às forças que se apresentaram com antecedência ao embate. Ficaram pelo caminho e podem ficar outra vez.
Sem projetos alternativos consistentes, convincentes e, sobretudo, aderentes às expectativas da população, a mera constatação de que se esgota a era dos extremos não será suficiente para enfrentar o poder da inércia, dissolver a fortaleza e romper o poder de atração das bolhas eleitorais.
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