Governo passou o dia na defensiva por causa de fala do presidente sobre planos do PCC contra Sergio Moro
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um discurso curto na noite desta 5ª feira (23.mar.2023) para o setor de cultura. O ato foi no final de um dia em que o governo sofreu forte desgaste por causa de declaração de Lula.
“Vocês nunca viram eu sair de uma manifestação qualquer sem falar. Hoje eu queria pedir desculpa para vocês”, disse Lula.
“Eu estou com a garganta muito ruim. E eu não quero ousar falar porque eu tenho que embarcar para a China sábado de manhã e eu preciso estar com a garganta boa para conversar com o Xi Jinping”, declarou.
O discurso teve, no total, 226 palavras. Sua fala na 3ª feira (21.mar), em ato contra a discriminação racial, teve 1.237 palavras.
Lula deu as declarações no Rio de Janeiro. No evento, ele assinou decreto de fomento à cultura. Antes, havia visitado o estaleiro onde é construído o submarino nuclear da Marinha e as obras de reconstrução do Museu Nacional.
Na obra do museu, chamou de “armação de Moro” o caso em que a Polícia Federal desbaratou um plano do Primeiro Comando da Capital, principal facção criminosa do Brasil, para atacar o senador e ex-juiz da Lava Jato.
A declaração desencadeou um dia de noticiário negativo para o presidente e protagonismo para Sergio Moro, hoje senador pelo União Brasil do Paraná. A situação frustrou o Planalto, que imaginava que Lula teria exposição positiva nesta 5ª (23.mar) por causa das visitas e anúncios no Rio.
O ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta (PT), disse que o presidente não se referia à investigação.
“Acho que o objeto do questionamento foi o conjunto de coincidências, fatos que acabam trazendo de volta toda uma memória sobre o método utilizado contra ele [na Lava Jato]. Muitas vezes, são os mesmos personagens”, declarou o ministro.
A operação foi realizada na 4ª feira (22.mar). Quem a autorizou foi a juíza Gabriela Hardt, que substituía Moro na Lava Jato quando condenou o hoje presidente no caso do sítio em Atibaia. Por isso Pimenta cita “mesmos personagens”.
Na véspera da operação, Lula havia dito em entrevista que, quando estava preso, queria “foder” Moro. Depois, o senador passou a dizer que as falas do presidente expõem sua família.
A expectativa no governo é que a viagem para a China, nos próximos dias, faça o assunto perder força. Lula embarca para o país asiático no sábado (25.mar).
Lá, terá uma série de compromissos com autoridades chinesas, como o presidente Xi Jinping, e empresários. Deve anunciar acordos comerciais e investimentos no Brasil.