Os dois principais partidos governistas da Irlanda pareciam estar a caminho de retornar ao poder quando as urnas foram abertas na sexta-feira (29), graças a um orçamento de outubro generoso e à perda de força do partido de oposição Sinn Fein. O resultado contrariaria uma tendência global de eleitores que rejeitam os titulares.
O primeiro-ministro Simon Harris convocou a eleição logo após um orçamento de 10,5 bilhões de euros que começou a colocar dinheiro nos bolsos dos eleitores durante a campanha, uma medida possibilitada por bilhões de euros em receitas fiscais de empresas multinacionais estrangeiras.
Uma pesquisa de opinião na quarta-feira (27) colocou o partido do premiê, Fine Gael, com 20% das intenções de voto, empatado com o partido da oposição, Sinn Fein, e logo atrás de seu principal parceiro de coalizão, o Fianna Fail, com 21%. Um resultado amplamente semelhante em 2020 levou os dois partidos de centro-direita a governar sem a sigla de esquerda Sinn Fein e eles redobraram a promessa de fazê-lo novamente desta vez.
O principal risco ao retorno seria se a queda no apoio ao Fine Gael nas últimas duas semanas da campanha piorasse.
Um clipe viral de Harris se afastando de uma assistente social que estava reclamando sobre os serviços para deficientes custou um quarto do apoio ao partido, segundo uma pesquisa divulgada na segunda-feira (25).
“O Sinn Fein teria que se sair muito melhor do que as pesquisas sugerem e o Fine Gael teria que se sair muito pior para que as coisas mudassem significativamente”, disse Theresa Reidy, professora sênior de política na University College Cork.
“Isso não é impossível”, acrescentou Reidy, mas o Sinn Fein teria que superar os 25% que garantiu em 2020.
Isso ainda seria nitidamente menor do que os 30-35% que o Sinn Fein teve nas pesquisas em 2022 e 2023, um nível que sinalizou que estava a caminho de governar. Sua coalizão eleitoral começou a se desgastar, em parte devido à raiva entre os eleitores da classe trabalhadora com as políticas de imigração relativamente liberais do Sinn Fein.
“Sei que, para algumas pessoas, as coisas não estão indo bem, mas acho que estamos firmes e mudar por mudar não é o que eu quero”, disse Hilda Conway, 76, que deu seu voto principal ao Fianna Fail no subúrbio arborizado de Sandymount, em Dublin.
Conway disse que deu seus próximos votos de preferência ao Fine Gael — tendo feito isso raramente antes — uma tendência que pode dar aos dois partidos de centro-direita uma vantagem adicional sobre o Sinn Fein, sob o sistema de voto único transferível da Irlanda.
Frustração com o governo
Outros expressaram a frustração generalizada que o governo enfrentou durante a campanha pela incapacidade de transformar as finanças públicas mais saudáveis da Europa em melhores serviços públicos.
“Precisamos de mudanças neste país. Precisamos acabar com a coalizão de 100 anos do Fianna Fail e do Fine Gael”, disse Sarah Eoghan, uma estudante de 20 anos que votava no centro de Dublin, que disse que a falta de moradia acessível era um grande problema para ela.
Todos os partidos apresentaram planos de gastos ambiciosos para tentar resolver os problemas, mas estão apostando em um aumento contínuo no imposto corporativo pago principalmente por grandes empresas americanas, o que pode ser ameaçado pela promessa de Donald Trump de reduzir as taxas de imposto corporativo dos Estados Unidos e impor tarifas comerciais.
Fine Gael e Fianna Fail, antigos rivais que, juntos, lideraram todos os governos desde a fundação do estado há quase um século, provavelmente precisarão do apoio de pelo menos um outro partido menor para atingir a maioria. Eles atualmente governam com os Verdes.
Uma pesquisa de boca de urna será publicada quando a votação terminar, às 19h do horário de Brasília, e os resultados completos serão divulgados no fim de semana.