O economista Gabriel Galípolo começou nesta quinta-feira (2), primeiro dia útil de 2025, efetivamente a presidência do Banco Central sob a desconfiança do mercado financeiro e já vendo o dólar disparando no pregão. À frente da autoridade monetária, ele terá de provar que não cederá aos apelos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para baixar na canetada a taxa básica de juros, controlar a inflação para voltar à meta – estourou o teto em 2025 – e conter a disparada do dólar que segue acima dos R$ 6.
No primeiro pregão do ano, o dólar abriu o dia cotado a R$ 6,17 e, poucos minutos depois, bateu os R$ 6,21, o que mostra que os leilões da moeda realizados nos últimos dias de 2024 não surtiram o efeito esperado.
Isso ocorre ainda por conta da desconfiança do mercado financeiro com a sustentabilidade fiscal do país e ainda digerindo as propostas de corte de gastos aprovadas pelo Congresso na semana retrasada.
Analistas ouvidos pela Gazeta do Povo ainda são reticentes em dar um voto de confiança a Galípolo, que terá de agir com austeridade e – a ver – se voltará a ser vidraça de Lula nas constantes reclamações por conta da taxa básica de juros. O agora ex-presidente Roberto Campos Neto era alvo constante das disparadas do petista, apontado como uma suposta gestão política por ter sido indicado ainda durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL).
“A maior percepção de risco, diante das preocupações com os rumos da política econômica nos dois últimos anos de mandato, gerou desancoragem das expectativas e forte depreciação cambial. Assim, a política monetária tem que ser, como está sendo, bastante reativa no sentido de buscar a retomada do controle”, disse Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria.
Há 11 semanas, as expectativas de inflação de 2025 estão em alta. No último boletim Focus, a sinalização é de que o IPCA fique próximo dos 5% e a Selic bata em 14,75% em dezembro do próximo ano, o que seria a taxa mais alta desde julho de 2006.
Nos doze meses encerrados em novembro, o déficit primário do setor público consolidado – que reúne os governos federal, estadual e municipal e as empresas estatais foi de 1,65% do PIB.
Na gravação, ao lado de Galípolo, o presidente se disse convicto da necessidade da estabilidade econômica e do combate à inflação, afirmando que ele “será o presidente com mais autonomia que o Banco Central já teve”.
“Quando o presidente do Banco Central aceita participar deste tipo de ato, ele acaba por legitimar essa situação absolutamente descabida de que a liberdade de atuação da autoridade monetária depende de uma autorização prévia do chefe do Executivo”, diz Campos Neto, da Tendências.
Juliana Inhasz, economista do Insper, destaca que, sobre o novo comandante do BC, pesam ainda desconfianças de falas heterodoxas e polêmicas ao longo de sua trajetória no mercado financeiro. “Ele terá de provar que, de fato, ele é técnico”, diz. “E depois, administrar uma situação complicada por conta do desajuste fiscal, que vai exigir novos aumentos da taxa de juros.”
Também é certo que a pressão do Partido dos Trabalhadores pela redução da taxa de juros vai continuar. Ao lado de Lula, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, passou os últimos dois anos criticando o então presidente Roberto Campos Neto pela condução da política monetária.
Nas últimas reuniões de 2024, quando o Copom aprovou em decisões unânimes o aumento das taxas de juros, demonstrando o alinhamento entre Galípolo e Campos Neto, a reação foi um sonoro silêncio. Os integrantes do comitê voltam a discutir a taxa básica de juros nos próximos dias 28 e 29, com a expectativa de um novo aumento da Selic.