Dólar alto e pacote fiscal influenciaram Selic mais alta, diz BC


Ata do Copom afirma que a percepção dos agentes financeiros sobre o plano de corte de gastos piorou os ativos financeiros

Em ata do Copom (Comitê de Política Monetária), o Banco Central indicou que o dólar alto e a percepção sobre o pacote fiscal entraram no radar para a decisão de alta da taxa básica, a Selic. A piora dos ativos financeiros com o anúncio das medidas exigiu política monetária mais “contracionista”. O documento foi publicado nesta 3ª feira (17.dez.2024). Eis a íntegra do relatório (PDF – 314 kB). 

O BC decidiu na 4ª feira (11.dez) elevar a Selic em 1 ponto percentual. A taxa básica de juros passou de 11,25% para 12,25% ao ano. A decisão foi unânime. 

A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. Influencia diretamente as alíquotas cobradas de empréstimos, financiamentos e investimentos. No mercado financeiro, impacta o rendimento de aplicações.

Leia abaixo o histórico do indicador:

Para a autoridade monetária, o cenário estava mais incerto na reunião anterior e se tornou mais “adverso” em dezembro. O BC reforçou que, mantida essa perspectiva mais desafiadora, irá aumentar a Selic em 1 ponto percentual em cada uma das duas próximas reuniões –alta acumulada de 2 pontos percentuais. Assim, a Selic subiria de 12,25% para 14,25%.

PACOTE FISCAL

O Banco Central disse que a percepção dos agentes econômicos sobre o pacote fiscal afetou “de forma relevante” os preços dos ativos e as expectativas futuras –especialmente o prêmio de risco (juros futuros), a inflação e a taxa de câmbio. A autoridade monetária entende que houve uma “desancoragem adicional” das projeções, o que torna o cenário mais adverso e requer uma política monetária mais dura.

“A desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê e deve ser combatida”, disse a ata.

DÓLAR

O Banco Central disse que a taxa de câmbio teve “forte alteração” no período recente. Defendeu que o real depreciado e a elevação das curvas de juros nominal e real torna o ambiente “mais complexo”.

O BC disse que o repasse do dólar alto para os preços aumenta quando a demanda está mais forte.

INFLAÇÃO

O Banco Central disse que a inflação de curto prazo piorou, com preços de alimentos impactando de forma significativa o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Afirmou que a estiagem ao longo do ano e a elevação de preços de carnes –afetada pelo ciclo do boi– pressionaram a taxa no curto prazo.

“Esse aumento tende a se propagar para o médio prazo em virtude da presença de importantes mecanismos inerciais da economia brasileira. Com relação aos bens industrializados, o movimento recente do câmbio pressiona preços e margens, sugerindo maior aumento em tais componentes nos próximos meses”, disse.

De acordo com o BC, a inflação de serviços segue acima do nível compatível com o cumprimento da meta, que é de 3%, com tolerância de até 4,5%.

ATIVIDADE ECONÔMICA

Segundo a ata, a atividade econômica brasileira está resiliente e dinamismo maior do que o esperado. Disse que o crescimento de 0,9% do PIB (Produto Interno Bruto) no 3º trimestre leva a “nova reavaliação de um hiato mais positivo”. O hiato do produto é a diferença entre o PIB efetivo e o PIB potencial. Na prática, é quando a economia consome mais que a capacidade de produzir, o que provoca uma maior demanda e menor oferta. O resultado desta equação é: mais inflação.

O Copom declarou que acompanhará o processo e entende que a redução do hiato previsto em suas projeções “é inerente ao funcionamento ordenado dos mecanismos de transmissão e ao atingimento da meta de inflação”.

O Banco Central disse que há elementos mitigadores concorrendo com o impacto da política monetária sobre a atividade econômica. São eles:

  • Impulso de crédito;
  • Impulso fiscais.

A ata afirma que os mercados de crédito e de capitais têm surpreendido ao longo do ano, com crescimento de volume acima do esperado, apesar de taxas de juros elevadas.

“A conjunção de um mercado de trabalho robusto, política fiscal expansionista e vigor nas concessões de crédito amplo segue indicando um suporte ao consumo e consequentemente à demanda agregada”, disse o BC.





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