A ala hidrófoba da oposição avisou que vai confeccionar um pedido de impeachment contra Lula. Os parlamentares alegam que o presidente cometeu crime de responsabilidade ao contar que, na prisão, falava em “foder esse Moro”. A ideia da tropa bolsonarista é forçar a barra e pegar carona na operação que desarticulou um plano para atacar o ex-juiz.
A chance de a artimanha prosperar é nula. A Lei do Impeachment trata como crime a ameaça com o objetivo de afastar ou coagir um parlamentar –coisa que Lula não fez. E falta apoio a essa fantasia tanto na oposição dita moderada como entre políticos especializados em pôr a faca no pescoço de presidentes.
Se um bolsonarista disser que leva o plano a sério, estará enganando a si ou a seus eleitores. O objetivo da turma é fazer barulho e jogar sujeira no governo. Ainda que a conexão esdrúxula entre a frase do presidente e a operação policial agite basicamente velhos convertidos, Lula poderia ter evitado dar esse presente ao campo rival.
Reforçar posições conflituosas, com espírito de candidato, ajuda o presidente a se comunicar com seu eleitorado cativo, mas pode gerar custos políticos desnecessários. Lula falou o que pensava quando apontou o dedo para a Ucrânia invadida pelos russos, desfiou contemporizações sobre ditaduras de esquerda, disse que o Congresso era “antipovo” ou fez pouco caso da estabilidade fiscal. Mas até a sinceridade tem um preço.
Além de exigirem energia para explicações, essas declarações dão à oposição uma oportunidade gratuita de atacar o presidente, cristalizar pontos negativos da imagem petista e, no limite, desgastar o governo.
No caso de Moro, o presidente estava tão confortável na entrevista a um veículo de esquerda que subiu um degrau em sua investida. Lula tem o direito de criticar os abusos da Lava Jato, mas deve saber que não é o único no ringue e que alguns golpes são dados abaixo da linha da cintura.
Lula também agia no “modo palanque” em seus primeiros mandatos, mas a dinâmica política e o eleitorado não são mais os mesmos.
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