Política externa brasileira está cada vez mais moldada por alinhamentos ideológicos que favorecem regimes autoritários e grupos extremistas
Neste primeiro artigo da coluna em 2025, escolhi abordar um tema de grande relevância política, econômica e empresarial, que reflete diretamente nos interesses estratégicos do Brasil no cenário internacional. A recente controvérsia envolvendo a relação Brasil-Israel e a postura do governo brasileiro diante de questões diplomáticas sensíveis exige uma análise cuidadosa, pois traz implicações não apenas para a política externa, mas também para a imagem e os interesses econômicos do país.
O Brasil sempre foi reconhecido como um país de tradição diplomática equilibrada, comprometido com a paz e com valores democráticos. Desde a criação do Estado de Israel, em 1948, quando Oswaldo Aranha desempenhou papel crucial na votação da ONU, as relações Brasil-Israel foram marcadas por respeito e cooperação em áreas estratégicas. Contudo, o recente episódio envolvendo a saída de um soldado israelense do território brasileiro, pressionada por organizações como a Fundação Hind Rajab (HRF), conhecida por suas ligações com grupos terroristas como o Hamas e o Hezbollah, reflete um desvio perigoso da política externa brasileira. Este caso expõe uma diplomacia influenciada por ideologias que fragilizam alianças históricas e questionam o compromisso do Brasil com os princípios democráticos.
A parceria Brasil-Israel transcende questões diplomáticas, abrangendo cooperação em setores vitais. Israel é referência global em tecnologia, segurança cibernética, agricultura de precisão e inovação em saúde. A deterioração dessa relação pode prejudicar o Brasil, especialmente em projetos de desenvolvimento tecnológico e agrícola que dependem do know-how israelense. Além disso, Israel é um dos principais parceiros do Brasil na área de segurança e defesa, com acordos estratégicos que podem ser comprometidos por decisões que minam a confiança entre os países.
O governo brasileiro frequentemente utiliza o discurso de soberania nacional como escudo para justificar decisões controversas, como no caso do Tribunal Penal Internacional (TPI), quando o presidente Lula questionou publicamente a adesão do Brasil ao tratar da possível prisão de Vladimir Putin. Contudo, essa mesma soberania foi ignorada ao ceder à pressão da Fundação Hind Rajab para investigar um soldado israelense, evidenciando uma aplicação seletiva de princípios, guiada por interesses ideológicos que enfraquecem a credibilidade do país e comprometem alianças históricas.
A política externa brasileira está cada vez mais moldada por alinhamentos ideológicos que favorecem regimes autoritários e grupos extremistas. Enquanto adota uma postura rígida com Israel, o governo demonstra complacência com ditaduras como as da Venezuela, Nicarágua e Cuba. A ausência de uma posição firme contra o terrorismo, especialmente em relação ao Hamas e ao Hezbollah, reforça a percepção de que afinidades políticas prevalecem sobre valores universais como a democracia e os direitos humanos, contrariando o histórico do Brasil como mediador neutro e confiável.
A atuação do Judiciário brasileiro no caso do soldado israelense também levanta preocupações. Embora decisões judiciais devam ser independentes, o fato de terem sido influenciadas por uma organização com ligações a grupos extremistas, como a HRF, põe em xeque a imparcialidade da Justiça. Essa politização enfraquece o sistema judiciário e reflete negativamente no cenário internacional.
As críticas à postura brasileira vieram de figuras importantes, como o ministro de Assuntos da Diáspora e Combate ao Antissemitismo de Israel, Amichai Chikli, que acusou o governo Lula de “abraçar calorosamente apoiadores do terrorismo”. Essa percepção compromete a imagem do Brasil em fóruns internacionais, afastando o país de democracias consolidadas e aliados estratégicos. As decisões do governo brasileiro estão enfraquecendo sua posição de liderança em temas globais. A falta de clareza em condenar o terrorismo e a aproximação com regimes autoritários comprometem a credibilidade do Brasil como defensor de direitos humanos. Em um momento em que o país deveria fortalecer laços com democracias, como Israel, opta por discursos e ações que o isolam e o tornam menos confiável no cenário internacional.
Além disso, a postura contraditória em relação ao TPI e a flexibilidade com líderes autoritários, como Putin, reforçam a percepção de que o Brasil não está comprometido com uma política externa baseada em princípios universais, mas sim em interesses políticos de curto prazo.
O Brasil precisa resgatar sua tradição diplomática de neutralidade construtiva e compromisso com valores democráticos. É imprescindível adotar uma postura firme contra o terrorismo, fortalecer alianças com democracias e preservar a relação estratégica com Israel, essencial para o desenvolvimento econômico, tecnológico e de segurança do país. O episódio envolvendo o soldado israelense é um alerta dos perigos de uma política externa guiada por interesses ideológicos e alinhamentos autoritários. Para recuperar sua credibilidade internacional, o Brasil deve abandonar a complacência com regimes autocráticos e reafirmar seu papel como defensor da paz, da democracia e dos direitos humanos. Reconstruir uma política externa coerente e baseada em princípios universais não é apenas uma necessidade estratégica, mas uma obrigação moral para que o país reassuma sua relevância no cenário global.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.