Opositor de Maduro faz um “tour” para pressionar os vizinhos a não reconhecer a vitória do presidente venezuelano
Depois de uma breve passagem pela Argentina, o opositor de Nicolás Maduro, Edmundo González (La Plataforma Unitaria Democrática, centro-direita), foi ao Uruguai para um encontro com o presidente Luis Lacalle Pou (Partido Nacional, centro-direita) na capital do país, em Montevidéu.
Em um comunicado divulgado depois do encontro, o Ministério das Relações Exteriores uruguaio chamou González de “presidente eleito da Venezuela” e disse “reafirmar seu direito de assumir, neste 10 de janeiro, a condução do governo de seu país”. Lacalle Pou, porém, passará o poder para Yamandú Orsi (Frente Ampla, centro esquerda), em 1º de março. Ainda não se sabe como o novo governo lidará com a questão venezuelana.
Em julho, Maduro foi reeleito para mais um mandato à frente da Venezuela. González ficou em 2º. O resultado do pleito, no entanto, é contestado pela oposição, e não foi reconhecido pelo Brasil.
O opositor reservou o iniciou deste ano para fazer um “tour” para pressionar os vizinhos a não reconhecer a vitória de Maduro.
Além da Argentina, onde foi recebido por Javier Milei, e o Uruguai, ele ainda deve ir ao Panamá, República Dominicana e Estados Unidos. O Brasil não está no roteiro.
Assista a imagens do encontro de González com Milei (3min14s):
O diplomata estava exilado na Espanha desde setembro de 2024. Buscou refugio no país europeu depois de a Justiça venezuelana emitir um mandado de prisão contra ele por descumprir 3 intimações do Ministério Público para esclarecer a divulgação das atas eleitorais do pleito –embora os documentos sejam públicos em países democráticos e com eleições livres.
VENEZUELA SOB MADURO
A Venezuela vive sob uma autocracia chefiada por Nicolás Maduro, 62 anos. Não há liberdade de imprensa. Pessoas podem ser presas por “crimes políticos”. A OEA (Organização dos Estados Americanos) publicou nota em maio de 2021 (PDF – 179 kB) a respeito da “nomeação ilegítima” do Conselho Nacional Eleitoral.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos relatou abusos em outubro de 2022 (PDF – 150 kB), novembro de 2022 (PDF – 161 kB) e março de 2023 (PDF – 151 kB). O relatório da Human Rights Watch divulgado em 2023 (PDF – 5 MB) afirma que 7,1 milhões de venezuelanos fugiram do país desde 2014.
Maduro nega que o país viva sob uma ditadura. Diz que há eleições regulares e que a oposição simplesmente não consegue vencer.
As eleições presidenciais realizadas em 28 de julho de 2024 são contestadas por parte da comunidade internacional. A principal líder da oposição, María Corina Machado, foi impedida de ocupar cargos públicos por 15 anos em junho de 2023. O Supremo venezuelano confirmou a decisão em janeiro de 2024. Falou em “irregularidades administrativas” que teriam sido cometidas quando era deputada, de 2011 a 2014, e por “trama de corrupção” por apoiar Juan Guaidó.
Corina indicou a aliada Corina Yoris para concorrer. No entanto, Yoris não conseguiu formalizar a candidatura por causa de uma suposta falha no sistema eleitoral. O diplomata Edmundo González assumiu o papel de ser o principal candidato de oposição.
O Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, controlado pelo governo, anunciou em 28 de julho de 2024 a vitória de Maduro. O órgão confirmou o resultado em 2 de agosto de 2024, mas não divulgou os boletins de urnas. O Tribunal Supremo de Justiça venezuelano, controlado pelo atual regime, disse em 22 de agosto de 2024 que os boletins não serão divulgados.
O Centro Carter, respeitada organização criada pelo ex-presidente dos EUA Jimmy Carter, considerou que as eleições na Venezuela “não foram democráticas”. Leia a íntegra do comunicado (PDF – 107 kB).
Os resultados têm sido seguidamente contestados pela União Europeia e por vários países individualmente, como Estados Unidos, México, Argentina, Costa Rica, Chile, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai.
O Brasil não reconheceu até agora a eleição de Maduro em 2024, mas tampouco faz cobranças mais duras como outros países que apontam fraude no processo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a dizer não ter visto nada de anormal no pleito do país.