“dá risada de família ameaçada pelo crime”



O ex-juiz e senador Sergio Moro (União-PR) repudiou na tarde desta quinta-feira (23) as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a ameaça do Primeiro Comando da Capital (PCC) à vida dele e de sua família. Para o parlamentar, Lula “riu de uma família ameaçada pelo crime”.

“Fui surpreendido com uma fala do presidente da República que simplesmente riu das ameaças a mim e a minha família. Ele [Lula] chegou a sugerir que poderia ser uma armação da minha parte. Eu repudio veementemente essas afirmações”, disse Moro.

A reação do senador veio horas depois de o presidente Lula comentar a operação realizada nesta quarta-feira (22) pela Polícia Federal contra criminosos do PCC. De acordo com os investigadores, havia uma plano em articulação contra diversas autoridades, incluído Moro. A afirmação foi feita durante uma agenda no Rio de Janeiro.

“Eu não vou falar porque acho que é mais uma armação do Moro. Eu vou descobrir o que aconteceu porque é visível que é uma armação do Moro. Acho que é mais uma armação e, se for armação, ele vai ficar mais desmascarado ainda e eu não sei o que ele vai fazer da vida se continuar mentindo do jeito que está mentindo”, disse Lula.

Para Moro, o petista precisa respeitar o trabalho de investigação das polícias. “Peço que respeite o trabalho que a Polícia Federal está realizando, e o trabalho que as polícias que estão prestando segurança a mim e a minha família. O senhor tem que fazer uma reflexão muito séria a respeito do que o senhor pretende fazer no seu governo”, completou.

Além de Moro, o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) também criticou a fala de Lula. “O presidente da República demonstra que está lhe faltando o devido equilíbrio emocional para lidar com as responsabilidades do cargo que ocupa”, disse Mourão nas redes sociais.

Planalto fez operação para tentar blindar Lula no caso das ameaças a Moro

A declaração de Lula ocorreu em meio a uma operação de integrantes do Palácio do Planalto para tentar blindar o petista no caso sobre as ameaças contra as autoridades. A estratégia veio depois que integrantes da oposição tentaram relacionar o caso contra Moro com a entrevista de Lula ao portal Brasil 247, na qual o petista afirmou que “só ia ficar bem quando f. com o Moro”.

“De vez em quando um procurador entrava lá de sábado, ou de semana, para visitar, se estava tudo bem. Entrava três ou quatro procuradores e perguntava: ‘Tá tudo bem?’. Eu falava: ‘Não está tudo bem. Só vai estar bem quando eu foder esse Moro’. Vocês cortam a palavra ‘foder’ aí…”, disse Lula na entrevista.

Logo após a operação contra os integrantes do PCC ter sido deflagrada, o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta (PT), convocou às pressas uma coletiva de imprensa para declarar que as tentativas de associar o presidente às ações de grupos criminosos são “perversas” e “fora de propósito”.

“Tentar, como algumas pessoas estão tentando, estabelecer um vínculo entre essa declaração e a operação conduzida pela PF é algo absolutamente fora de propósito e serve evidentemente para a disputa política”, afirmou Pimenta.

O ministro da Secom tentou ainda minimizar as declarações de Lula, alegando ser apenas uma manifestação de quem esteve preso e se sentiu injustiçado. “A manifestação do presidente Lula foi uma manifestação em que ele relatou o sentimento de injustiça e indignação. Absolutamente natural e compreensível que alguém que ficou 580 dias detido numa solitária e que depois teve todos os seus processos anulados”, argumentou.

Antes disso, o ministro da Justiça, Flavio Dino, já havia criticado a tentativa de politização das investigações. “É vil, leviana e descabida qualquer vinculação a esses eventos com a política brasileira. Eu fico realmente espantado com o nível de mau mau-caratismo de quem tenta politizar uma investigação séria. Investigação essa que é tão séria que foi feita em defesa da vida e da integridade de um senador de oposição ao nosso governo”, declarou.

PF fez operação para prender grupo que planejava ataques contra autoridades

A Polícia Federal realizou nesta quarta-feira (22) uma operação para prender um grupo criminoso que planejava realizar ataques contra servidores públicos e autoridades. Entre as ações, os suspeitos pretendiam inclusive homicídios e extorsão mediante sequestro.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, informou que entre as possíveis vítimas estava um senador e um promotor de Justiça. O ex-juiz Sergio Moro seria um dos alvos do grupo criminoso, e o promotor de Justiça de SP, Lincoln Gakiya, era o outro citado. Ao todo, nove pessoas foram presas e duas continuam foragidas.

De acordo com a PF, os ataques eram planejados em cinco unidades da federação: Rondônia, Paraná, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e São Paulo. Ao todo, foram expedidos 24 mandados de busca e apreensão, sete mandados de prisão preventiva e quatro mandados de prisão temporária contra suspeitos e endereços situados em Rondônia, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná.

Ao comentar a operação da PF, o senador Sergio Moro pediu o apoio do governo federal ao projeto de lei que pretende tornar crime o planejamento de ataques por facções criminosas contra agentes públicos e autoridades. De acordo com o parlamentar, o plano contra ele seria uma retaliação por seu trabalho como ministro da Justiça no governo Bolsonaro.

“Eu fiz esse projeto para criar tipos penais, para que nós possamos punir o planejamento dessas ações, esses atentados contra autoridades ou pessoas envolvidas no combate ao crime organizado”, disse.



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