Ataques ocorrem depois da chegada de agentes da Força Nacional de Segurança Pública ao Estado
Criminosos voltaram a incendiar ônibus e veículos particulares em Porto Velho (RO), motivando os trabalhadores das empresas de transporte público a manterem a suspensão dos serviços por tempo indeterminado.
Segundo a PM (Polícia Militar), no início da madrugada desta 4ª feira (14.jan.2025), bandidos ainda não identificados atearam fogo em ao menos 6 ônibus que estavam estacionados na garagem de uma empresa, na capital de Rondônia. Outros 5 veículos usados para transportar estudantes foram incinerados no distrito de Jaci-Paraná, também em Porto Velho.
Os criminosos ainda atearam fogo em uma viatura da PM que estava em uma oficina mecânica onde passaria por manutenção junto a outros veículos da corporação. Bombeiros e vizinhos da oficina conseguiram apagar as chamas antes que elas atingissem outras viaturas. Em outro ponto da cidade, um carro particular foi incendiado.
As novas ocorrências se deram após o governo estadual anunciar o reforço do policiamento nas ruas e a chegada à cidade dos agentes da Força Nacional de Segurança Pública, autorizada pelo governo federal para auxiliar os órgãos de segurança pública estaduais a conter os ataques criminosos registrados nos últimos dias.
A população enfrenta o 2º dia sem ônibus na capital de Rondônia. “O transporte coletivo está 100% parado em Porto Velho“, afirmou o presidente do Sitetuper (Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Transporte Urbano de Passageiros do Estado de Rondônia), Francinei Oliveira, em entrevista à Agência Brasil.
“Havia a possibilidade de colocarmos metade da frota para rodar, porém, para nossa surpresa, ao chegarmos às garagens, por volta das 4h [desta 4ª feira], ficamos sabendo que uma outra garagem foi incendiada e que alguns motoristas do transporte coletivo foram ameaçados quando chegavam aos seus postos de trabalho”, contou Oliveira.
Ele avaliou que não há, por ora, condições de assegurar a segurança e a integridade física dos rodoviários e dos usuários do transporte público.
“Estamos acompanhando o trabalho da Polícia Militar e da secretaria estadual de Segurança Pública e tentando tirar algum encaminhamento para ver se conseguimos colocar para rodar ao menos 50% da frota, pelo menos até as 19h, mas, no momento, ainda não há como fazermos isso”, concluiu o sindicalista.
Ele citou que, em 1 dos ataques a ônibus, ao menos 1 trabalhador ficou gravemente ferido, com queimaduras no corpo, e segue internado. A reportagem da Agência Brasil ainda não conseguiu obter mais informações sobre a ocorrência e o estado de saúde do profissional.
Em nota, a prefeitura de Porto Velho confirmou que o serviço de transporte coletivo segue paralisado pelo 2º dia consecutivo a pedido do sindicato dos trabalhadores. E destacou que, no início da tarde de 3ª feira (14.jan), o prefeito Léo Moraes (Podemos) enviou um ofício ao governador de Rondônia, Marcos Rocha, e ao secretário estadual da Segurança, Defesa e Cidadania, Felipe Bernardo Vital, pedindo o reforço do policiamento. Eis a íntegra do ofício (PDF – 546kB).
“Solicitamos, com urgência, a adoção de providências dos órgãos de segurança pública para garantir um excepcional aumento do contingente de agentes e veículos para monitoramento das principais vias públicas e rotas do transporte coletivo, com a finalidade de assegurar a prevenção e a precaução da vida e da incolumidade física e patrimonial da população em geral e dos trabalhadores da empresa de transporte coletivo, garantindo o direito de ir, vir e permanecer com a segurança necessária”, solicitou Moraes ao atribuir “a recente onda de ataques” a facções criminosas.
A Agência Brasil pediu ao governo estadual uma manifestação sobre as declarações do presidente do Sitetuper e do prefeito de Porto Velho, bem como sobre a situação, e aguarda resposta.
Ofensiva
De acordo com autoridades locais, os ataques e as ameaças a trabalhadores são uma reação à Operação Aliança Pela Vida, Moradia Segura, cuja primeira fase a PM deflagrou no fim de 2024. Concentrada “nos 2 maiores conjuntos habitacionais do Estado”, construídos pelo governo estadual com recursos federais e que, segundo a PM, foram dominados por organizações criminosas, a operação já resultou na retomada de cerca de 70 apartamentos invadidos por bandidos que haviam expulsado os moradores, bem como na apreensão de drogas e armas.
“A facção [criminosa] obtém lucro não apenas com a venda de drogas, mas também com roubos e com venda e aluguéis desses imóveis”, afirma o comandante do 9º Batalhão, tenente-coronel Ewerson Pontes, em nota divulgada pela PM.
Na noite do último domingo (12.jan), poucos dias após a PM deflagrar a 1ª fase da operação, criminosos mataram a tiros o cabo Fábio Martins, do Batalhão de Polícia Ambiental. Já no dia seguinte, a corporação deflagrou a 2ª fase da Operação Aliança Pela Vida, Moradia Segura, desta vez no conjunto habitacional Orgulho do Madeira.
Em nota, a própria PM reconheceu que mobilizou mais de 200 policiais em uma “resposta enérgica do Estado ao crime que vitimou o cabo Fábio Martins”. Segundo a assessoria da corporação, cerca de 20 pessoas já foram presas nesta 2ª fase da operação e ao menos 2 suspeitos de integrarem facções criminosas foram mortos ao reagir à ação policial.
Nas redes sociais, a PM afirma que os ataques orquestrados a ônibus e a veículos particulares buscam “afastar as guarnições [policiais] dos residenciais, já que o prejuízo ao crime tem sido de grandes proporções”, com a apreensão de drogas, armas, retomadas de imóveis e detenção e identificação de suspeitos.
Com informações da Agência Brasil.