Leio nesta Folha que tênis e relógios inteligentes são alguns dos produtos que mais receberam descontos por conta desta Black Friday.
É difícil criticar um evento tão relevante para a economia nacional. Seria bizarro reclamar, aqui, por exemplo, da ideia de que se trata de uma data importada —”o que é bom para os Estados Unidos, é bom para…”. Tentemos outro caminho.
Mas antes, para segurá-lo por aqui, alguns garimpos desta Black Friday:
Corridas do circuito Santander Track&Field (para 2025): a da Vila Nova Conceição, bairro “bem” de São Paulo, R$ 109,90. Há distâncias de 5 km, 9 km e meia maratona, neste caso duas voltas pelo mesmo itinerário, as avenidonas Pedro Álvares Cabral, 23 de Maio e Moreira Guimarães.
Você poderá refutar, com razão: “109!?” Sim, a Track&Field de Alto de Pinheiros/Villa-Lobos, em fevereiro, está no padrão: R$ 179,90. Uma meia maratona em Brasília, também da T&F, em trecho privilegiado da Asa Norte, sai igualmente por R$ 109,90.
A Ticket Sports, grande plataforma de venda de ingressos de provas esportivas, tem uma “Sports Week”. Começa nesta sexta (22) e vai até 3 de dezembro.
É preciso ficar tempo apreciável no site para minerar algo, há eventos por todo o Brasil. A maratona de Marília, primeiro 42 km da pujante cidade paulista, em 23 de março, tem 20% de desconto: o kit básico sai por R$ 113,52 (com 10% de taxa de serviço).
Grandes lojas de material esportivo estão nessa também, claro. A Centauro tinha o tênis Corre 3 da Olympikus por R$ 449,99 —como o Corre 4 custa 500 paus, o desconto é meio para inglês ver; já o Ultraboost Light da Adidas (masculino) saía nesta sexta (22) por 800 pratas. O Vomero 17, da Nike, também masculino, R$ 779,99 (com 40% de desconto, segundo a varejista). Na gringa já saiu o Vomero 18, que chega ao Brasil no primeiro trimestre de 2025.
Aplicativos que emulam o site da Centauro pululam por aí, inclusive nas indicações do Google. Fique velhaco e não faça como eu, que comprei uma bicicleta num site pirata desses.
Eu estava na ressaca pelo furto, à luz do dia, da minha TSW aro 29 devidamente trancafiada num bicicletário oficial do parque Ibirapuera. No final, o Nubank sustou a operação, mas quem não tiver poder de persuasão ou um cartão Superpurple/Ultrasomething pode ficar na saudade.
Mas para retomar o fio da meada há muito perdido: será que você precisa de um tênis novo? A indústria deixa correr solto o conceito de que 600 km é o limite da vida útil de um tênis, mito que surgiu ninguém sabe dizer onde nem quando.
Dado o apocalipse climático, é imperioso que consumamos menos. Não obstante, ninguém quer fazer sacrifício algum, muito menos populações e países que sempre viveram à sombra do mundo desenvolvido.
O economista e professor da USP Ricardo Abramovay, autor de livros sobre a economia circular, entre eles “Muito Além da Economia Verde”, é uma voz cada vez mais necessária —e talvez cada vez menos ouvida nestes tempos em que o petróleo voltou a ser sexy.
Numa antiga resenha publicada em seu site, ele invoca Mahatma Gandhi e retoma a pergunta do grande pacifista: quanto é suficiente [em produção e consumo das sociedades]?
O diabo é que a resposta mexe com coisas profundas. Diz Abramovay: “A decisão sobre quanto é suficiente não decorre do puro e neutro exercício de uma racionalidade em que o indivíduo responde mecanicamente a estímulos, mas envolve questões de natureza ética.”
Pegou a visão? Bora comprar menos?
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