Consolidada nos estados, direita vive incógnita para eleições 2026



A pesquisa Genial/Quaest, divulgada na semana passada, mostra as tendências na política eleitoral dos estados brasileiros que podem refletir na escolha do nome pela direita na disputa à Presidência da República nas eleições de 2026. Enquanto o levantamento aponta para a consolidação da direita com alta aprovação de governadores e a liderança de nomes ligados ao antipetismo na corrida eleitoral, o cenário é de incerteza na construção de alianças e candidaturas em oposição à reeleição de Lula (PT).

Principal antagonista do petista, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e enfrentará dificuldades em recuperar os direitos políticos por meio do PL da Anistia no Congresso Nacional. A articulação política para aprovação do projeto de lei ficou mais distante após a operação da Polícia Federal (PF) contra a suposta tentativa de golpe de Estado.

A indefinição sobre o futuro político de Bolsonaro coloca os governadores de direita e centro-direita no xadrez eleitoral em 2026, sendo que o principal desafio será a transferência da aprovação local para a disputa nacional. Em São Paulo, de acordo com a Quaest, o governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) manteve a alta aprovação – 61% – com oscilação de apenas um ponto percentual em relação ao levantamento de abril.

Conforme a pesquisa, Tarcísio é o governador com maior potencial de voto, com 22% do eleitorado que afirma que conhece e votaria no governador paulista para presidente em 2026. No entanto, o desempenho dele ainda é menor no item de conhecimento e potencial em relação ao ex-presidente Bolsonaro (37%), à ex-primeira dama Michelle Bolsonaro (28%) e ao empresário Pablo Marçal (25%).

Ronaldo Caiado é o governador com maior aprovação popular entre os estados pesquisados pela Genial/Quaest, com índice de 88%. Na semana passada, ele confirmou que deve lançar a pré-candidatura à Presidência durante evento na cidade de Salvador (BA), no próximo mês de março, apesar da condenação de abuso de poder político durante a campanha do aliado Sandro Mabel (União Brasil), eleito prefeito de Goiânia.

Por outro lado, o nível de conhecimento nacional de Caiado com potencial de voto é de 14%, empatado com o mineiro Romeu Zema (Novo) e atrás do governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), que chegou a 19%. O chefe do Executivo paranaense registrou 81% de aprovação do mandato. O governador de Minas Gerais tem 64%, de acordo com os dados que indicam a aprovação estadual do quarteto de governadores, potenciais pré-candidatos no pleito presidencial.

“Pensando em 2026, o governador pode até ter uma ótima avaliação, mas se está em um estado com uma população menor, naturalmente, ele sai atrás, o que favorece a projeção dos governadores de São Paulo e Minas Gerais”, avalia o diretor de Inteligência da Quaest, Guilherme Russo, que ressalta a necessidade em comum dos quatro mandatários se tornarem nomes nacionais até as próximas eleições.

Segundo o cenário estimulado de segundo turno para 2026, Tarcísio seria derrotado por Lula por 52% das intenções de votos contra 26%. Caiado também perde para o atual presidente pelo placar de 54% contra 20%. A simulação não foi feita com os nomes de Ratinho Junior e Zema. Lula também venceria Bolsonaro, conforme a pesquisa, com 51% da preferência do eleitorado contra 35% a favor do ex-presidente. A taxa de aprovação do governo Lula foi de 52%, com rejeição de 45% dos entrevistados.

É metade do copo cheio ou metade do copo vazio. Depende como se olha. Com certeza, o presidente Lula continua competitivo em uma nova disputa eleitoral. Por outro lado, existe uma abertura para a direita vir com força para as eleição de 2026, muito competitiva”, afirma Russo.

No cenário de indefinição em busca do nome que possa herdar os votos de Bolsonaro, o diretor da Quaest compara a corrida pré-eleitoral entre os governadores com as eleições primárias dos Estados Unidos. “Demonstrar força no começo é importante para esses governadores para mostrar quem é viável. A gente pode ler este momento como se fossem as primárias americanas. Um cenário de disputa que todos estão se projetando e, ao mesmo tempo, sabendo que podem não ganhar lá na frente. Por isso, não devem se arriscar demais”, compara.

Bolsonaro pode embaralhar direita nas eleições 2026   

Enquanto a esquerda concentra as forças em mais uma candidatura de Lula, sem perspectiva de sucessão do líder petista, a direita e centro-direita devem apresentar mais de uma candidatura no primeiro turno de 2026 em oposição à reeleição do presidente.  

“O cenário é esperado, pois o grande antagonista ao Lula é o Bolsonaro, que até o momento está inelegível, o que abre espaço para um sucessor. Não está definido se esse nome de direita terá um perfil mais moderado ou semelhante ao perfil do ex-presidente. Essa é a grande incógnita que faz com que apareçam nomes de todas as matizes e com estratégias distintas”, analisa o cientista político e professor do Insper Leandro Consentino.

Na avaliação dele, mesmo se continuar inelegível, Bolsonaro pode entrar na disputa presidencial com registro de candidatura e “esticar a corda” até o prazo máximo para substituição do nome do candidato do PL em 2026. A estratégia, na opinião do cientista político, pode levar Tarcísio de Freitas a optar pela disputa à reeleição do governo de São Paulo. Segundo a pesquisa Genial/Quaest, o governador paulista tem 33% das intenções de votos.

“Ele [Bolsonaro] já colocou, mais de uma vez, a ideia de não aceitar a inelegibilidade e pode protocolar a candidatura adiante e tentar, eventualmente, emplacar o vice da chapa como sucessor natural, como o filho Eduardo Bolsonaro ou alguém da sua mais estrita confiança. Se optar por isso vai embaralhar ainda mais o jogo na direita”, aponta Consentino, que compara a tática com a troca de candidato que o PT fez em 2018, quando Lula estava preso e foi substituído por Fernando Haddad na tentativa de transferência de votos.

Forte nos estados, direita pode depender de Centrão para vencer Lula

Ainda segundo o levantamento da Genial/Quaest, os cenários de pesquisa estimulada para a sucessão aos governos estaduais apontam para liderança de nomes de opositores ao petismo, seja de centro ou de direita, nos estados do Paraná, Minas Gerais, Goiás e Bahia. 

Os senadores Sergio Moro (União Brasil) e Cleitinho (Republicanos) lideram a pesquisa ao governo do Paraná e de Minas com 23% e 26% das intenções de votos, respectivamente. Os dois parlamentares não são pré-candidatos apoiados pelos governadores do estado.

Em Goiás, o ex-governador e presidente do PSDB, Marconi Perillo, tem 21% e está empatado tecnicamente com o vice de Caiado, Daniel Vilela (MDB) com 19%. Na Bahia, ACM Neto tem 44% das intenções de votos e desafia a reeleição do petista Jerônimo Rodrigues, com 37%.

Apesar do desempenho nas pesquisas estaduais e domínio nas eleições municipais de 2024, o espectro político de partidos da direita brasileira apresenta dificuldades na consolidação do domínio do pleito presidencial, o que pode forçar a negociação com as siglas de centro. Para o cientista político e professor universitário Doacir Quadros, a justificativa pode estar no fato de a direita ser formada por um “grupo heterogêneo” com necessidade de articulação de alianças partidárias, seja no primeiro turno em uma candidatura unificada ou em um eventual segundo turno com apoios das legendas em oposição a Lula.

O efeito colateral pode ser a repetição do cenário de dependência do Centrão, segundo o cientista político, caracterizado pelo governo de coalizão desde as gestões petistas Lula-Dilma. “Depois da eleição podemos ver o que acompanhamos hoje: uma necessidade extrema do governo federal estar frequentemente negociando com o Congresso Nacional. Ou seja, é uma aliança que não é duradoura. A cada pauta é preciso abrir a negociação”, aponta.

Lula ou Haddad: sucessão se arrasta por décadas no PT

A saúde do presidente Lula também pode forçar um plano B na esquerda. A sucessão do líder petista é um tabu dentro do partido e se arrasta por décadas. O principal nome como sucessor de Lula é do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que foi derrotado por Bolsonaro em 2018. Sem o mesmo sucesso, o PT pode optar pela disputa do quarto mandato de Lula. 

“O PT é uma máquina avariada, desgastada, que foi construída nos anos 1980. Teve um sucesso nacional, nem tanto regional. A gente não sabe se o presidente vai sair candidato em 2026 por conta das condições de saúde dele. Sem o Lula, o PT perde o seu único ativo eleitoral”, afirma o cientista político e professor do Ibmec de Belo Horizonte Adriano Cerqueira.

Para o cientista político Leandro Consentino, Haddad teria dificuldades em se candidatar como presidente após ocupar o cargo de ministro responsável pela economia do país. Além disso, ele não vê abertura de Lula para discutir a sucessão presidencial, ao invés da disputa pela reeleição.

“Ministro da Fazenda é um cargo muito complicado. Talvez o Fernando Henrique Cardoso [responsável pelo Plano Real] seja a grande exceção que fez desse limão uma limonada, fez do cargo um trampolim para a Presidência”, pontuou Consentino.

Na avaliação de Cerqueira, o PT ainda pode perder o protagonismo na liderança do bloco de esquerda com o PSB na disputa pelas principais candidaturas em 2026. O prefeito reeleito do Recife, João Campos (PSB), de 31 anos, deve disputar o governo de Pernambuco, no estado considerado um dos principais redutos petistas.

“O prefeito do Recife é muito novo, é um nome que ainda está sendo construído nacionalmente. Mas é um indicativo de que o PSB deve vir com muita força para 2026, sem atrelamento ao PT”, projeta o pesquisador. De acordo com a Genial/Quaest, Campos lidera o cenário eleitoral ao governo pernambucano com 64% das intenções de voto.



source