Imagina se existisse um guia para ajudar a combater o racismo e garantir a segurança de crianças pretas em escolas. Foi com esse objetivo que o educador Ricardo Jaheem criou um protocolo com 20 medidas para serem adotados por ambientes que lidam com crianças.
Na semana da Consciência Negra, o professor da rede municipal do Rio de Janeiro contou à CNN que já sofreu racismo na escola. “Sou aquele menino preto que foi colocado no fundo da sala de aula e que era considerado incapaz de aprender”, disse Jaheem.
Essa foi a motivação para criar o “Protocolo para proteção das crianças negras: 20 medidas para estimular a identidade racial positiva nos espaços de educação”. O documento lista diretrizes práticas que devem ser usadas para garantir a inclusão e o cuidado respeitoso com as crianças.
O educador defende que o protocolo pode ser usado em qualquer ambiente, mas, nas escolas, o material poderia contribuir para a redução da desigualdade educacional.
Desigualdade educacional
O Anuário Brasileiro da Educação Básica 2024, divulgado na semana passada, mostrou que a taxa de conclusão do ensino médio com até 19 anos para alunos pretos é de 68%, 66% para pardos e 59% para indígenas. O número sobre para 78% entre os alunos brancos e para 88% entre amarelos.
Outra pesquisa recente revelou que 54% dos professores brasileiros já presenciaram casos de racismo envolvendo seus alunos em salas de aula.
Esses números indicam que a discriminação contra pessoas pretas é presente nas escolas e, por isso, a expectativa de Jaheem com o protocolo é garantir às crianças negras uma proteção real.
“Podemos afirmar que, todos os dias, milhares de crianças chegam ao ambiente escolar e sentem, em seus corpos, o peso da negação de direitos”, comentou.
Espero que as crianças pretas, periféricas e indígenas possam ter o direito de ser crianças e de sorrir, aprender, brincar e viver o amor em qualquer ambiente em que estejam — especialmente no ambiente escolar.
Ricardo Jaheem, professor
Confira as 20 medidas:
- Adotar um manual de linguagem antidiscriminação
- Criar um cronograma anual de debates, workshops e oficinas, para que todas as pessoas da organização tenham formação continuada sobre diversidade
- Incluir no planejamento estratégico ações voltadas para a comunidade externa
- Criar canais de comunicação e promover eventos para ouvir grupos periféricos
- Criar um comitê racial para acompanhar situações sensíveis
- Ouvir e respeitar as histórias individuais
- Fomentar ações antirracistas multidisciplinares e interdisciplinares
- Contratar a intelectualidade negra
- Eliminar estereótipos raciais que perpetuam lugares de exclusão para crianças pretas
- Orientar ações baseadas em conexões afetivas
- Desenvolver processos de escuta ativa
- Incluir a história dos povos africanos nos currículos de todas as áreas do conhecimento
- Criar ações de enfrentamento ao racismo religioso
- Valorizar a história e a cultura dos povos originários
- Adotar indicadores para relacionar rendimento escolar e fatores críticos do entorno, como a violência urbana
- Fomentar programas de saúde mental
- Pensar a diversidade negra
- Incluir as histórias contadas pelos povos indígenas nos currículos
- Considerar a interseccionalidade nos projetos antirracistas
- Criar uma rede de monitoramento dos pontos deste protocolo para validação e ampliação de acordo com a necessidade
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