Autoridade monetária afirma que uma regra “sólida” e “crível” pode levar o país a um processo desinflacionário
O BC (Banco Central) reconheceu nesta 3ª feira (28.mar.2023) o “compromisso” do governo com a definição de um novo teto de gastos. Defendeu que um arcabouço fiscal “sólido” e “crível” pode levar a um processo “desinflacionário mais benigno através de seu efeito no canal de expectativas”.
A autoridade monetária publicou a ata do Copom (Comitê de Política Monetária) nesta 3ª feira (28.mar.2023). Eis a íntegra do documento (292 KB).
O BC manteve a Selic em 13,75% ao ano na 4ª feira (22.mar) e, em comunicado duro, disse que ficará neste patamar por tempo prolongado. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não gostou e afirmou que o tom era “preocupante”. Declarou naquele dia que esperava uma ata mais “atenuada”.
O ministro defende que o Brasil tem os maiores juros reais do mundo e a inflação do país está mais controlada que o mundo desenvolvido. Também disse que a Selic alta impacta na arrecadação federal. Assista (6min51s):
Segundo a ata do Copom, a eficiência da nova regra do teto de gastos poderá melhorar as expectativas para inflação e juros, reduz a incerteza na economia e o prêmio de risco associado aos ativos brasileiros.
“O comitê avalia que o compromisso com a execução do pacote fiscal demonstrado pelo Ministério da Fazenda, e já identificado nas estatísticas fiscais e na reoneração dos combustíveis, atenua os estímulos fiscais sobre a demanda, reduzindo o risco de alta sobre a inflação no curto prazo. Ademais, o comitê seguirá acompanhando o desenho, a tramitação e a implementação do arcabouço fiscal que será apresentado pelo governo e votado no Congresso”, disse a ata.
O Copom ainda avalia o cenário fiscal como incerto sobre o novo arcabouço fiscal e os impactos sobre as expectativas de inflação e juros na trajetória da dívida pública.
O BC disse, na ata, o que Fernando Haddad tem repetido frequentemente sobre a harmonia entre as políticas fiscal e monetária. Afirmou que essa relação diminui distorções e incertezas, e facilita o processo de desinflação e fomenta o pleno emprego ao longo do tempo.
POLÍTICA MONETÁRIA
A Selic foi mantida pela 4ª reunião consecutiva. O juro base está em 13,75% ao ano desde setembro de 2022.
O Brasil está em processo de aperto monetário como outros países. Há um cenário de inflação elevada no mundo. Apesar de as taxas globais terem desacelerado nos últimos meses, as autoridades monetárias dos países desenvolvidos ainda têm uma política mais contracionista para frear o avanço dos preços.
A decisão de manter a Selic em 13,75% foi unânime entre os 8 diretores e o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.
O Banco Central foi uma das primeiras autoridades monetárias que se adiantou ao esforço de desinflação. Começou a aumentar a taxa Selic em março de 2021 e realizou o maior ciclo brasileiro de alta no século 21. O Copom optou por aumentar os juros em 11,75 pontos percentuais durante 12 reuniões seguidas, de março de 2021 a setembro de 2022.
O Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos) subiu em 0,25 ponto percentual a taxa de juros na 4ª feira (22.mar). Esse foi o 9º reajuste seguido. O intervalo aumentou de 4,5% a 4,75% para 4,75% a 5% ao ano.
INFLAÇÃO
Apesar do ciclo de alta da Selic, o Brasil descumpriu as metas de inflação em 2021 e em 2022. Em janeiro, a autoridade monetária precisou divulgar uma carta pública com explicações. Relembre a trajetória de inflação nos 2 últimos anos:
- 2021 – a meta era de 3,75% (com intervalo de tolerância de 2,25% a 5,25%), mas a taxa foi de 10,06%;
- 2022 – a meta era de 3,75% (com intervalo de tolerância de 2% a 5%), mas a taxa foi de 5,79%.
As estimativas mais recentes, divulgadas na 2ª feira (27.mar), mostram que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) terá alta de 5,93% em 2023. O patamar está acima da meta de 3,25% –com intervalo de 1,75% a 4,75%. As projeções são do Boletim Focus, do Banco Central.
Os analistas estimam a taxa básica, a Selic, em 12,75% ao ano no fim de 2023.
JUROS REAIS
O Brasil tem a maior taxa real –considerada a inflação– do mundo. A Infinity Asset calculou que será de 6,94%, com base na projeção “ex-ante“, quando considerada a taxa para os próximos 12 meses. Eis a íntegra do relatório (171 KB).