O ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Júlio Danilo afirmou nesta quinta-feira (23) que o Comando Militar do Planalto, coordenado pelo general Gustavo Dutra de Menezes, impediu que o Governo do DF desmobilizasse o acampamento montado por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro em frente ao QG do Exército em Brasília.
A fala foi dita em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Legislativa do DF que investiga os atos de vandalismo de 8 de janeiro, que culminaram na depredação das sedes dos Três Poderes.
“Nas operações que a gente tentou realizar, por vezes, elas foram interrompidas porque ele [general Dutra] dizia que havia recebido ordens para que não fosse realizado naquele dia a desobstrução, que eles fariam por conta deles”, disse o ex-secretário.
Segundo o ex-secretário, o Comando Militar chegou a solicitar assistência da Secretaria de Segurança para o acampamento, a fim de realizar a repressão de ambulantes no local, atuação do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) e organização do trânsito.
“Todas as vezes que necessitamos atuar dentro do acampamento, somente [era possível] em companhia e coordenação do Exército. Não podíamos atuar se não fosse em conjunto, ali era área militar”, completou.
Júlio Danilo foi convocado para prestar depoimento porque estava à frente da pasta em 12 de dezembro do ano passado, quando vândalos tentaram invadir a sede da Polícia Federal em Brasília . O ex-secretário também coordenou o setor na posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 1° de janeiro, evento que havia sido elogiado pela segurança.
Último depoimento
Na última quinta-feira (16), o coronel da Polícia Militar do DF Jorge Eduardo Naime Barreto relatou à CPI pedidos constantes de dinheiro via pix feitos por supostas lideranças do acampamento em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília.
O militar, que estava de folga no dia das manifestações do dia 8, ainda disse que havia um comércio de aluguel de tendas para comerciantes a R$ 500 ou R$ 600 por dia.
Atos de vandalismo
Em 12 de dezembro do ano passado, manifestantes tentaram invadir a sede da Polícia Federal na Asa Norte, localizada na região central de Brasília. O ato foi organizado em protesto à prisão do indígena José Acácio Tserere Xavante, líder indígena que questionava o resultado das eleições.
Os envolvidos incendiaram diversos carros estacionados no Setor Hoteleiro Norte e depredaram alguns ônibus. Os ataques e atos de vandalismo duraram por quase três horas diante dos soldados da Polícia Militar do Distrito Federal, mas ninguém foi preso.
Este ano, um segundo ato de vandalismo resultou na invasão dos prédios do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF). Um levantamento feito pelo governo federal mostra que o prejuízo deixado pelos vândalos chega a R$ 9 milhões apenas no Planalto.
Em 9 de janeiro, dia seguinte aos atos deste ano, a Polícia Federal prendeu em flagrante 2.151 pessoas que haviam participado dos ataques e estavam acampadas em frente aos quartéis.
No mesmo dia, policiais da tropa de choque da Polícia Militar do DF, equipados com capacete e escudo, estiveram no local onde apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro estavam acampados em Brasília, do lado de fora do QG do Exército. Os extremistas, então, começaram a desmontar barracas e deixar o local com malas.
A presença policial no local aconteceu depois de o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinar o desmonte do acampamento.