No primeiro domingo do ano novo, a TV ofertou Liverpool x Manchester United, uma ótima pedida para o começo da tarde (no horário brasileiro).
O time do momento, os Reds (Vermelhos), que lidera o Campeonato Inglês (Premier League) e a Liga dos Campeões da Europa (Champions League), contra os Red Devils (Diabos Vermelhos), maiores ganhadores do Inglês (20 títulos, um a mais que o rival), que é disputado desde 1888.
Essa partida, que quase não ocorreu devido ao clima (muita neve no decorrer do dia no noroeste da Inglaterra), é considerada o maior clássico do país que criou o futebol da era moderna, entre clubes gigantes de cidades separadas por 49 quilômetros –de carro, dá para ir de uma a outra em cerca de 40 minutos.
O jogo foi muito bom, especialmente no segundo tempo, quando saíram todos os gols do 2 a 2: Lisandro Martínez (seleção argentina), após passe de Bruno Fernandes (seleção portuguesa), Man United 1 a 0; Gakpo (seleção holandesa), após passe de Mac Allister (seleção argentina), 1 a 1; Mohamed Salah (seleção egípcia, em fase estupenda), de pênalti, Liverpool 2 a 1; e Amad Diallo (seleção marfinense), após cruzamento de Garnacho (seleção argentina), 2 a 2.
Os dois times ainda tiveram oportunidade de marcar o gol da vitória, em um final eletrizante. Tanto que, ao encerramento do embate, Carlos Eugênio Simon, árbitro brasileiro em três Copas do Mundo (2002, 2006 e 2010), que comentava a arbitragem do duelo no estádio Anfield tomado por 60 mil pessoas, sentenciou: “Simplesmente o maior clássico do país do futebol”.
Pensei: terá Simon cometido um ato falho? Afinal, historicamente, “o país do futebol” sempre foi o Brasil, dono de cinco Copas do Mundo e que teve Pelé, o melhor de todos, e Garrincha, e Romário, e os Ronaldos (Fenômeno e o Gaúcho), e centenas de craques.
Mas talvez não. Pode ser que ele tenha afirmado propositalmente, que considere hoje a Inglaterra “o país do futebol”. Será?
Em termos de campeonato, a Premier League é fantástica. Partidas muito movimentadas, com pencas de gols (duas semanas atrás teve um Tottenham 3 x 6 Liverpool), recheadas de jogadores que defendem seleções nacionais.
O nível dos jogos é bastante satisfatório, na comparação com outros campeonatos, em gramados muito bem conservados mesmo em condições climáticas adversas, e as arenas estão invariavelmente cheias. Os ingleses amam futebol.
Das dez edições mais recentes da Champions League, os clubes da terra do rei venceram três (Liverpool, em 2019; Chelsea, em 2021; Manchester City, em 2023), o que comprova o poderio das equipes ânglicas.
Porém, se o olhar se desviar para a seleção inglesa, o selo “país do futebol” perde força, já que a equipe masculina possui um único título de Copa do Mundo, a de 1966, quase 60 anos atrás –eu, que já não sou um jovem, nem era nascido. E jamais conquistou uma Eurocopa.
O que dizer da Espanha? Há um trio de times muito fortes (especialmente Real Madrid, papão de títulos na Champions, ganhando cinco das últimas dez, e Barcelona, mais o Atlético de Madrid), só que o campeonato não é tão atrativo como o Inglês.
Já a seleção espanhola triunfou em três das seis Eurocopas deste século, incluindo a do ano passado –batendo na decisão a Inglaterra. Um cartel respeitável para a Fúria (ou a Roja, como alguns preferem). E o Bola de Ouro de 2024 é espanhol: Rodri, que contudo atua na Inglaterra (Manchester City).
Sobre o Brasil, o domínio recente na Libertadores é evidente: desde 2019, só times brasileiros ganham. Porém o Brasileirão tem muitos jogos fracos, em campos castigados, e o país não ganha a Copa do Mundo desde 2002 –foram campeões mundiais a Itália, a Espanha, a Alemanha, a França e a Argentina. Até voltamos a ter o melhor do mundo, Vinicius Junior, na premiação da Fifa. Mas é pouco.
Nesse contexto, podemos ter sido “o país do futebol”. Não somos mais. Talvez a Inglaterra, talvez a Espanha, talvez a Argentina, atual campeã mundial e bicampeã da Copa América. Talvez não haja hoje um “país do futebol”. Só fico com esta certeza: o Brasil não é.
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