O tenente-coronel Mauro Cid, então ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), sugeriu que o suposto golpe de Estado deveria ocorrer até 12 de dezembro de 2022, dia da diplomação do presidente Lula (PT) e do vice Geraldo Alckmin (PSB) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Pode deixar, general. Vou conversar com o presidente. Mas ele tem essa personalidade às vezes né. Ele espera, espera, pra ver até onde vai. E o tempo está curto né, não dá para esperar muito mais passar. Teria que ser antes do dia 12, né? Mas com certeza não vai acontecer nada”, disse o militar.
“E sobre os caminhões, pode deixar que eu vou comentar com ele [Bolsonaro], porque o Exército não pode ‘papar mosca’ de novo, né? É área militar, ninguém vai se meter”, acrescentou. Cid fez referência a veículos que foram multados por estarem estacionados próximos ao QG do Exército em Brasília.
A declaração consta em uma troca de mensagens obtida pela Polícia Federal e divulgada pela CNN Brasil. O militar conversava com o general da reserva Mario Fernandes, que na época ocupava o cargo de secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência.
Fernandes foi preso no último dia 19 durante a Operação Contragolpe, além disso, foi indiciado pela PF por supostamente ser um dos articuladores do plano golpista. Antes da resposta de Cid, o general havia questionado sobre a situação dos caminhões que estavam em frente ao QG do Exército.
“E Cid, o segundo ponto é o seguinte, eu estou tentando agir diretamente junto às Forças, mas, pô, se tu pudesse pedir para o presidente ou para o gabinete do presidente atuar. Pô, a gente tem procurado orientar tanto o pessoal do agro como os caminhoneiros que estão lá em frente ao QG. E hoje chegou para a gente que parece que existe um mandado de busca e apreensão do TSE, não, do Supremo, em relação aos caminhões que estão lá”, disse Fernandes.
Segundo as investigações, Fernandes passou a externalizar “explicitamente suas intenções antidemocráticas” no início de dezembro de 2022. Para a PF, as mensagens do general para Cid eram uma forma de “pressão” para a “consumação do golpe”.
Além da diplomação, o dia 12 de dezembro de 2022 foi marcado pela tentativa de invasão da sede da Polícia Federal em Brasília. Naquela noite, manifestantes depredaram e queimaram carros, atearam fogo em cinco ônibus e atiraram pedras e paus no prédio da PF.
O tumulto teria sido motivado pela prisão de José Acácio Serere Xavante pela suposta prática de condutas ilícitas em atos antidemocráticos. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes acatou um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) para determinar a prisão temporária do indígena à época.
Fernandes teria comemorado que Bolsonaro “aceitou assessoramento”
Em outra mensagem a Cid, Fernandes comemorou que Bolsonaro teria aceitado o “assessoramento” e falado com apoiadores. O ex-presidente passou semanas sem fazer declarações públicas após perder a eleição. No dia 9 de dezembro de 2022, Bolsonaro quebrou o silêncio em frente ao Palácio da Alvorada.
“Força, Cid. Meu amigo, muito bacana o presidente ter ido lá à frente ali do Alvorada e ter se pronunciado, cara. Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento. Deu a cara pro público dele, pra galera que confia, acredita nele até a morte. Foi muito bacana mesmo, cara. Todo mundo vibrando. Transmite isso pra ele”, disse Fernandes no áudio obtido pela PF e divulgado pelo jornal O Globo.
Na ocasião, Bolsonaro afirmou que o país estava em “uma encruzilhada” e que seus apoiadores decidiriam seu futuro e “para onde” iriam as Forças Armadas. “Hoje estamos vivendo um momento crucial, uma encruzilhada, o destino que o povo tem que tomar. Quem decide meu futuro são vocês. Quem decide para onde vai as Forças Armadas são vocês. Quem decide para onde vai a Câmara e o Senado são vocês também”, disse o ex-presidente em 9 de dezembro de 2022.