A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou, nesta terça-feira (26), um requerimento que convida Emmanuel Lenain, embaixador da França no Brasil, e o CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard, a prestar informações sobre o posicionamento do país europeu em relação ao Acordo de Associação Mercosul-União Europeia e “os boicotes promovidos por grandes empresas e corporações francesas contra o agronegócio brasileiro”.
O requerimento, de autoria do senador Wellington Fagundes (PL-MT), propõe sessão conjunta com a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE).
No dia 20 de novembro, Bompard questionou a qualidade da carne latino-americana e afirmou que lojas da rede varejista francesa não iriam mais comercializar o produto.
Hoje (26), o CEO do grupo francês encaminhou ao ministro da Agricultura brasileiro, Carlos Fávaro, uma carta de desculpas, alegando que: “Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas”.
Ainda nesta terça, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) comentou o pedido de desculpas e destacou, em nota, o reconhecimento da “alta qualidade” da carne brasileira por parte da empresa.
A declaração inicial do CEO teria sido uma resposta ao agronegócio da França, que tem se posicionado contra o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.
“O mais importante não é a questão de quanto vamos exportar para a França, praticamente é insignificante o volume de carnes que França hoje compra do Brasil, menos de 1% de toda a nossa exportação. O problema é o argumento da questão da qualidade do nosso produto. Nós não podemos aceitar que um CEO de uma empresa venha a colocar em dúvida a qualidade do produto brasileiro”, afirmou Fagundes ao apresentar o requerimento à Comissão.
Na justificativa do documento, o senador do PL declarou ser “essencial buscarmos esclarecimentos sobre as razões por trás das atitudes de empresas francesas, cujas alegações não refletem a realidade do agronegócio brasileiro, reconhecido mundialmente por sua competência, inovação e sustentabilidade”.
O presidente da CAE, senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO), afirmou que a atitude do CEO do Carrefour “resultou apenas em perda”.
“Consequência imediata dessa infeliz declaração está sendo sentida aqui no Brasil, com anúncio de importantes fornecedores de carne já interromperam no Brasil, o fornecimento d carne bovina a todas as lojas deste grupo empresarial. Certamente, esse resultado não é bom para os produtores, não é bom para os distribuidores, nem para os vendedores tanto do Brasil quanto da França. Não há ganhadores, essa atitude resultou apenas em perda para todos”, disse Vanderlan.
Boicote
A JBS, um dos principais frigoríficos brasileiros, interrompeu o fornecimento de carne ao Carrefour, na última quinta-feira (21), em resposta à decisão do CEO francês no dia anterior.
A Friboi, marca da JBS, responde por cerca de 80% das carnes vendidas no Carrefour.
Na última sexta (20), a Masterboi também realizou a suspensão de 250 toneladas de carne ao Carrefour.
Pronunciamento do Carrefour Brasil
Após a polêmica, o Carrefour Brasil afirmou, na segunda-feira (25), que uma suspensão de fornecimento de carne à sua rede no país impacta seus clientes.
“Infelizmente, a decisão pela suspensão do fornecimento de carne impacta nossos clientes, especialmente aqueles que confiam em nós para abastecer suas casas com produtos de qualidade e responsabilidade”, diz o comunicado.
A empresa citou que estaria em busca de “soluções que viabilizem a retomada do abastecimento de carne nas nossas lojas o mais rápido possível, respeitando os compromissos que temos com nossos mais de 130 mil colaboradores e com milhões de clientes em todo o Brasil”.
O Carrefour Brasil ressaltou ainda que não havia “falta de carne nas lojas até este momento”.