A inflação oficial do Brasil fechou 2024 em 4,83%, acima do teto da meta estipulada pelo Banco Central. No entanto, para muitos brasileiros, esse número parece não refletir a realidade do dia a dia. Quem vai ao mercado, abastece o carro ou paga um plano de saúde sente uma corrosão no poder de compra muito maior do que os índices oficiais indicam. Essa discrepância entre a inflação divulgada e a percebida tem origem tanto na forma como os preços são medidos quanto no impacto desigual que a alta dos custos exerce sobre diferentes perfis de consumo.
O IPCA, principal índice de inflação do país, mede a variação de preços com base em uma cesta de bens e serviços padronizada. No entanto, cada família tem uma cesta de consumo diferente. Em 2024, os dados do IBGE mostraram que produtos essenciais, como carnes (20,84%), óleo de soja (29,21%), azeite de oliva (21,53%), café moído (39,6%) e leite longa vida (18,83%), tiveram aumentos muito acima da média geral. Enquanto isso, outros itens subiram menos ou até caíram. O resultado é uma inflação muito mais severa para quem gasta a maior parte da renda com alimentação e combustíveis, tornando a alta de preços uma experiência ainda mais sufocante para as famílias de baixa renda.
Mas não é só o aumento nominal dos preços que pesa no bolso. A reduflação, prática em que produtos diminuem de tamanho sem queda proporcional no preço, amplia a sensação de perda do poder de compra. O consumidor paga mais por menos sem perceber de imediato. Esse fenômeno é ainda mais evidente em setores com pouca concorrência e afeta especialmente quem não repara nas mudanças sutis nas embalagens.
Um estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) revelou que, em 2024, a reduflação reduziu em média 20% o tamanho dos produtos sem alteração proporcional no preço, atingindo principalmente alimentos, itens de higiene e produtos de limpeza. Exemplos notáveis incluem o óleo de soja, cuja embalagem caiu para 900 ml, elevando o custo real em 12,5%, e os ovos, cuja caixa foi reduzida de 12 para 10 unidades, resultando em um aumento de 20% no custo efetivo. Na prática, o consumidor leva um carrinho menor para casa, sem perceber imediatamente que está pagando mais.
A inflação dos alimentos tem um efeito psicológico e social pesado. Além de corroer a renda, impacta diretamente a segurança alimentar e a qualidade de vida das famílias. O resultado é uma percepção de inflação ainda maior do que a registrada nos índices oficiais.
Diante desse cenário, o Banco Central já sinalizou um possível ciclo de alta dos juros para conter a inflação. O aumento das taxas de juros pode aliviar parte do problema no curto prazo, mas não resolverá uma inflação que é, em grande parte, alimentada pela deterioração fiscal. Para que o Brasil tenha um ambiente econômico mais estável e uma inflação de fato controlada, é essencial atacar a raiz do problema com revisão de despesas, controle da dívida e políticas fiscais responsáveis. Enquanto o gasto público continuar pressionando a economia e gerando incertezas, a inflação seguirá pesando no bolso do brasileiro.
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