Com Goiás como elo mais forte, Ronaldo Caiado (União Brasil), Gusttavo Lima (sem partido) e Pablo Marçal (PRTB) – lançados como primeiros nomes da direita para a disputa presidencial de 2026 em alternativa ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – despertam curiosidade em políticos e analistas a respeito de até onde convergem e ou competem entre si.
Segundo levantamento da Paraná Pesquisas divulgado nesta quarta-feira (15), 31,5% dos brasileiros afirmam que poderiam votar no cantor, enquanto 50,6% dizem que não votariam nele de jeito nenhum. O instituto de pesquisas ouviu 2.018 eleitores em 164 municípios de 26 estados e no Distrito Federal entre os dias 7 e 10 de janeiro. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos, e grau de confiança do levantamento é de 95%.
Lima troca elogios com Caiado e Marçal, ambos já veteranos das urnas. Os dois políticos acenam para possíveis alianças eleitorais com o sertanejo em 2026 pois mesmo com rejeição alta, Gusttavo Lima possui um índice elevado de intenções de voto e não descarta a possibilidade de concorrer como vice em uma chapa.
O artista se diz disposto a dialogar com todas as forças políticas. No governo e na oposição, suspeita-se de acordo prévio de Lima, seja com o experiente Caiado ou com o emergente Marçal.
Sondado por União Brasil, PL, PP e PRTB, Lima declarou, logo após anunciar a intenção de disputar a Presidência, que pretende se reunir ainda em janeiro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e com Bolsonaro, para “entender melhor os problemas do país”. Os encontros, com Lula e uma semana após com Bolsonaro, já teriam sido buscados, mas ainda sem datas.
O ex-presidente Jair Bolsonaro disse que as portas do PL estão abertas para Lima, mas desde que ele concorra ao Senado e não à Presidência da República.
Caiado e Marçal não têm conexões diretas, mas aliados veem benefícios em uma aproximação. O União Brasil procurou Marçal após a eleição municipal, de olho em seu poder de puxar votos, sem dar muita atenção ao fato de que ele competiria com Caiado internamente. Para estrategistas, a aliança de um partido grande com um fenômeno das redes com imagem outsider faria uma chapa forte, mas não haveria consenso sobre quem a encabeçaria.
Além disso, ter Caiado e Marçal juntos reforçaria a ascendência de Goiás, apesar de o empresário ter domicílio eleitoral em São Paulo.
Para analistas, apoio de Bolsonaro definirá o sucesso das três pré-candidaturas
O cientista político Ismael Oliveira avalia que o apoio de Bolsonaro será decisivo para o campo conservador no jogo eleitoral de 2026, como já ressaltou o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI). “Com alianças em formação, o cenário segue em aberto e dependerá da habilidade de cada candidato em articular apoios e construir um discurso nacional”, afirmou.
Segundo o especialista, Caiado, Lima e Marçal reúnem perfis, estratégias e bases de apoio distintas: Caiado, com candidatura tradicional e longa experiência parlamentar, contrasta com os demais, que podem atrair público jovem e não convencional. No entanto, o relacionamento dúbio de Caiado com Bolsonaro pode prejudicar seu desempenho desde o começo.
“Apesar da inexperiência política, Lima surge como aposta devido à forte popularidade na música e nas redes sociais. Se for para o União Brasil, pode disputar o Senado por Goiás, reforçando o projeto presidencial de Caiado. Já Marçal, recém-chegado à política e com eleitores em todo o país, dialoga com ambos. Sua projeção depende, contudo, do apoio de Bolsonaro”, disse.
“República do Pequi” reflete a força das redes sociais e do “Brasil profundo”
Para o cientista político Paulo Kramer, a movimentação dos três “goianos” comprova a força da direita no “coração do Brasil” e é natural que testem popularidade nacional. “Caso Bolsonaro fique inelegível, cada um tentará provar competitividade para ter a bênção do ex-presidente. E para manter-se como grande eleitor, Bolsonaro ainda será candidato de si mesmo”, disse.
Outros analistas ressaltam que as pré-candidaturas dessa “República do Pequi” reforçam o poder decisivo das redes sociais em disputas eleitorais – sobretudo nos casos de Gusttavo Lima e Pablo Marçal – e trazem para o centro do tabuleiro político a “voz do Brasil profundo”, distante dos maiores centros urbanos, na qual também ecoa o peso do agronegócio e do conservadorismo da maioria da população.
Anúncio da candidatura de Gusttavo Lima levou Marçal a se antecipar para 2026
Em 2024, as conversas entre Lima, Caiado e Bolsonaro giravam em torno da disputa por uma vaga no Senado para o cantor. Caiado, que é amigo de Lima, agora diz ver com “naturalidade” a candidatura presidencial do cantor e Marçal ligou para o sertanejo logo após a notícia da sua intenção de brigar pela Presidência, enaltecendo a “nova safra de políticos”.
Na quarta-feira (8), Marçal anunciou que será candidato à Presidência pelo PRTB, sigla que passará a se chamar “Brasileiro”. “O empreendedorismo é a chave para libertar o nosso povo e fomentar o desenvolvimento econômico”, afirmou Marçal, que ficou em terceiro lugar na disputa pela prefeitura de São Paulo e tem 12,8 milhões de seguidores no Instagram.
Seja de forma planejada ou estimulada em razão do anúncio de Lima, a candidatura de Marçal apenas confirma que a Presidência nunca deixou de ser seu plano principal, esboçado desde 2022. Naquele ano, o empresário ficou fora da disputa e Lima declarou apoio a Bolsonaro. Ano passado, o artista apoiou Marçal durante a campanha na capital paulistana.
Ao se lançar como candidato a presidente, o cantor sertanejo irritou Jair Bolsonaro e seus aliados mais próximos. Alguns chamaram o seu anúncio de traição. Apesar de estar inelegível até 2030 após decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-presidente reitera que ainda pode reverter este cenário e se apresenta como “os planos A, B e C” da direita para as próximas eleições.
Caiado aposta em diálogo para atrair Lima e apoio de outras forças políticas
Caiado afirma que seu foco é criar cenário competitivo para seu nome na sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com quem tem rivalizado em público, sobretudo no tema segurança pública. Ele também destaca os bons índices educacionais de Goiás como trunfo. Por outro lado, o governador de Goiás tenta reverter uma sentença judicial de primeira instância que o deixou inelegível por oito anos devido a um suposto abuso de poder político na eleição de 2024.
Em paralelo, o governador quer filiar logo Lima ao União Brasil, que controla em Goiás, mas Lima tem postergado a discussão.
Em 2024, Caiado ampliou sua influência regional ao eleger Sandro Mabel (União Brasil) prefeito de Goiânia, em disputa acirrada contra Bolsonaro e seu grupo político. Foi Caiado quem moveu os primeiros esforços para atrair o amigo Gusttavo Lima para a política, especulando-se a formação de chapa para o Senado com a primeira-dama Gracinha Caiado.
Lima, no entanto, prefere manter conversas com líderes políticos antes de se filiar a qualquer partido. Ele também não descarta desistir da candidatura se surgir alguém mais apto a “ajudar o país”. Ano passado, durante um de seus shows, o cantor chamou Caiado, na plateia, de “futuro presidente do Brasil”. O governador estava presente em seu especial de fim de ano no SBT.
Cantor brinca com o papel de candidato à Presidência e sugere lançar Bolsa Cachaça
Mineiro de origem, mas goiano de coração, Lima se afina com Marçal, goiano radicado em São Paulo, na ênfase ao empreendedorismo, menos burocracia e “respeito ao pagador de impostos”. O cantor, que completou 35 anos em setembro — idade mínima para ser presidente —, atrai multidões a seus shows, nos quais se apresenta como “o embaixador”.
Em uma apresentação recente, brincou sobre a condição de candidato, prometendo lançar o Bolsa Cachaça, de R$ 100 mensais.