E quis o destino, esse sapeca, que o Botafogo perdesse a liderança do Campeonato Brasileiro (para o Palmeiras) uma rodada antes do duelo com o tal novo líder (Palmeiras) há cinco dias da final da Libertadores (não é o Palmeiras).
O Botafogo tenta evitar a repetição do filme de 2023, enquanto tudo o que o palmeirense quer é uma reprise, que pode ter requintes de crueldade (a Libertadores).
Sim, sim, alguns personagens são diferentes, mas, como em toda sequência, a estrutura se mantém.
Tiquinho Soares já não é titular absoluto —mas é o reserva expulso em um lance de desespero no jogo passado. O Palmeiras não tem Endrick —mas tem Estêvão, mais decisivo ainda.
A equipe botafoguense é mais forte que sua versão 2023 e, desta vez, não teve dança de técnicos por derrota na fase final. O elenco parecia mentalmente superior também. Mas foi só empatar com o Atlético-MG (por acaso, o rival na final da Libertadores) com um jogador a mais em boa parte do confronto, e os atletas partiram para a gostosa treta pós-jogo. Saldo: Luiz Henrique, o craque do time, expulso.
Ninguém vai admitir em voz alta, mas a emblemática virada do ano passado —quando o Palmeiras saiu de um 3 a 1 para marcar 4 a 3— paira no ar. É como o nome de Voldemort para a saga de Harry Potter, todo o mundo sabe que ele está chegando, mas não pode ser dito.
Se a temporada botafoguense fosse transformada em uma série de dez episódios, os cinco próximos dias seriam o nono capítulo. E quem acompanhou “Game of Thrones” sabe que o penúltimo capítulo costuma ser aquele reservado para as tragédias, degolas de heróis e/ou batalhas épicas.
O time do Rio está entre a glória máxima e o desastre absoluto. Imagine o cenário perfeito, com as duas vitórias: o time chegaria ao domingo celebrando um título continental inédito, que só ele não tem entre os rivais locais (Flamengo, Fluminense e Vasco); o Brasileiro estaria a apenas duas rodadas de distância, com a possibilidade de negociar um empate (se vencer o Palmeiras, será campeão com mais quatro pontos); e Joãozinho Textor provavelmente seria alçado a tema de escola de samba, by Marcelo Adnet.
Agora, pense no outro cenário, com derrota para o Palmeiras e perda da Libertadores para o Atlético-MG: caos desde o aeroporto, muros pichados, tapetinho do Engenhão amarrotado e Joãozinho Textor gritando “corruption again”, “corruption again” (Joãozinho não é um bom perdedor). E Adnet trocaria o samba-enredo por um chorinho ou hit de sofrência.
Claro que a série palmeirense seria mais em ritmo de comédia romântica, com direito a mocinha superando adversidades (dona Leila, reeleita), o adorável professor resmungão celebrando uma conquista inédita para o clube (um tri sequencial) e um jovem herói de malas prontas (Estêvão, o Endrick da vez), um roteiro meio repetido.
Geografia de 2025
Por enquanto, o grande beneficiado com os acessos de Santos, Mirassol, Sport e Ceará —e o descenso de Atlético-GO e Cuiabá (praticamente)— é o Fortaleza, com uma bela economia de quilometragem. Serão cinco clubes nordestinos no ano que vem (não parece que o Vitória vá cair), algo que não aconteceu na era dos pontos corridos nem quando a competição teve 24 times. Já a região Centro-Oeste ficará ausente da litorânea Série A 2025.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.