Relatório afirma que localização de celulares dos envolvidos, datas e locais de encontro indicam que ex-presidente estava ciente do plano de assassinato
Investigações da PF (Polícia Federal) indicam que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sabia do plano para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. O objetivo era impedir a posse do governo eleito.
No relatório final da PF sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022, a corporação afirma que a localização dos celulares de envolvidos, datas e locais de encontro indicam que o ex-presidente estava ciente do plano de assassinato.
Segundo as investigações da PF, os envolvidos traçaram um plano que visava a assassinar o ministro do STF, assim como a chapa recém-eleita. O documento com os detalhes do plano, denominado “Punhal Verde Amarelo”, foi elaborado e impresso no dia 09 de novembro de 2022, no Palácio do Planalto. O autor seria Mario Fernandes, então secretário-executivo da Secretaria-geral da Presidência.
“O documento descreve o levantamento da estrutura de segurança do ministro Alexandre de Moraes, os meios que deveriam ser empregados e a ação final de prisão/execução do ministro. O planejamento também estabelece a possibilidade, dentre as ações dos “Kids Pretos”, de assassinarem o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, por envenenamento ou uso de químicos, e o então vice-presidente eleito Geraldo Alckimin, com a finalidade de extinguir a chapa presidencial”, diz um trecho do relatório, o qual o sigilo foi derrubado nesta 3ª feira (26.nov.2024) pelo ministro Alexandre de Moraes.
A PF afirma que, logo depois de elaborar o plano, Mario Fernandes se deslocou até o Alvorada, onde estava Bolsonaro e o ajudante de ordem do ex-presidente, Mauro Cid.
O plano teria sido apresentado ao general Braga Netto, ex-ministro da Defesa de Bolsonaro, em reunião no dia 12 de novembro, em sua residência oficial.
No dia 6 de dezembro, Mario Fernandes imprimiu novamente o arquivo no Palácio do Planalto. Utilizou a mesma impressora localizada no gabinete da Secretaria-Geral.
A investigação aponta que no mesmo dia, os aparelhos telefônicos de Mauro Cid e Rafael Martins de Oliveira –militar envolvido na tentativa de golpe– estavam conectados a torres de telefonia que cobrem o Palácio do Planalto. Bolsonaro também estaria no local.
O QUE DIZ BOLSONARO
O ex-presidente negou ter conhecimento do esquema para matar Lula ou da tentativa de golpe. Disse que sempre agiu “dentro das 4 linhas da Constituição” e que, nelas, “não há pena de morte”, em referência ao assassinato do petista.
“Vai dar golpe com um general da reserva e 4 oficiais superiores? Pelo amor de Deus. Quem estava coordenando isso? Cadê a tropa? Cadê as Forças Armadas? Não fique botando chifre em cabeça de cavalo”, disse em live transmitida pela página do Instagram do ex-ministro do Turismo Gilson Machado no sábado (23.nov).
ENTENDA
- o que aconteceu: o ministro do STF Alexandre de Moraes retirou o sigilo do relatório da Polícia Federal que investiga uma tentativa de golpe de Estado no final de 2022. Também enviou o inquérito à PGR;
- o que é investigado: um grupo aliado a Jair Bolsonaro (PL) que teria tentado impedir a posse do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O plano seria, segundo a PF, matar Lula, o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) e o então presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Alexandre de Moraes. A operação teria a participação de militares e usaria armas de guerra e veneno;
- quais são as dúvidas: quantas pessoas estiveram envolvidas diretamente se o plano foi efetivamente colocado em curso. Leia aqui o que se sabe e quais são as dúvidas sobre o inquérito;
- quem estava envolvido: a investigação, concluída pela corporação na 5ª feira (21.nov), levou ao indiciamento de 37 pessoas. Entre elas, estão:
- Bolsonaro;
- Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil e candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro;
- Augusto Heleno, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional);
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
- Valdemar Costa Neto, presidente do PL.
- quais os próximos passos: a manifestação sobre uma possível denúncia da PGR deve ficar para 2025, depois do recesso do Judiciário, que termina em 6 de janeiro.
RELATÓRIO DA PF
A Polícia Federal concluiu que núcleos foram agrupados para disseminar a narrativa de fraude nas eleições presidenciais de 2022, antes mesmo da sua realização. A finalidade seria legitimar uma intervenção das Forças Armadas.
Seriam 5 eixos de atuação:
- ataques virtuais a opositores;
- ataques às instituições (STF e TSE), urnas eletrônicas e à higidez do processo eleitoral;
- tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado democrático de direito;
- ataques às vacinas contra a covid e a medidas sanitárias na pandemia; e
- uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens.