O ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL) escreveu em sua conta no X (antigo Twitter) um lamento à morte do homem que se explodiu na noite de quarta-feira na Praça dos Três Poderes. Na postagem, Bolsonaro diz ser contra “qualquer ato de violência” e disse que o caso exige reflexão.
“Apesar de configurar um fato isolado, e ao que tudo indica causado por perturbações na saúde mental da pessoa que, infelizmente, acabou falecendo, é um acontecimento que nos deve levar à reflexão. Já passou da hora de o Brasil voltar a cultivar um ambiente adequado para que as diferentes ideias possam se confrontar pacificamente, e que a força dos argumentos valha mais que o argumento da força”, diz trecho.
Bolsonaro cobrou ainda um diálogo por parte das instituições nacionais e um sentimento de união no momento, ao qual se referiu como tragédia.
“Por isso, apelo a todas as correntes políticas e aos líderes das instituições nacionais para que, neste momento de tragédia, deem os passos necessários para avançar na pacificação nacional”, conclui.
O homem que se explodiu na praça dos Três Poderes, em Brasília, e que detonou o próprio carro a cerca de 300 metros da Esplanada dos Ministérios já foi candidato a vereador pelo PL em Santa Catarina e esteve no STF (Supremo Tribunal Federal) em agosto.
Francisco Wanderley Luiz, 59, é chaveiro e disputou a eleição de 2020 com o nome de urna Tiü França, em Rio do Sul (SC), mas não foi eleito. Antes de morrer, publicou uma série de mensagens sobre o ataque, misturando declarações de cunho político e religioso
O ex-presidente Bolsonaro tem buscado posicionar-se como um defensor da democracia. Ele, porém, acumula uma série de declarações de tom golpista e é alvo de inquérito da Polícia Federal que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado para mantê-lo no poder após a derrota nas eleições de 2022.
Bolsonaro foi condenado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e está proibido de disputar eleições até 2030 por causa de mentiras e ataques ao sistema eleitoral ao longo de 2022. Apesar disso, diz que buscará a candidatura em 2026.
Os ataques ao Judiciário foram marcantes em sua gestão, em uma aparente tentativa de minar o sistema de freios e contrapesos que colocava limites em seu poder. Em ato do 7 de Setembro de 2021, por exemplo, Bolsonaro lançou bravatas contra o STF, exortou desobediência a decisões da Justiça e disse que só sairia morto da Presidência.
Ele também citava com frequência as Forças Armadas, insinuando que poderia tomar alguma medida extrema como estado de sítio, especialmente em meio à pandemia da Covid. “O meu Exército não vai para a rua para obrigar o povo a ficar em casa”, disse em março de 2021.
Depois da derrota em 2022, Bolsonaro demorou mais de 45 horas para se pronunciar. Quando falou, disse que as manifestações golpistas eram fruto de indignação e de um sentimento de injustiça em relação ao processo eleitoral.
Os protestos antidemocráticos organizados por seus apoiadores se espalharam em frente aos quartéis. Em dezembro, eleitores de Bolsonaro vandalizaram Brasília. Ele não reconhecia a derrota publicamente e não tentava desmobilizar os atos golpistas. Também não passou a faixa para Lula (PT).
Naquele período, circulavam no entorno de Bolsonaro minutas que buscavam fundamentação jurídica para reverter o pleito. Uma delas, um esboço de um decreto para o ex-presidente instaurar estado de defesa na sede do TSE, foi encontrada pela PF em janeiro de 2023 na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.
Em 8 de janeiro, seus seguidores invadiram e depredaram as sedes dos três Poderes.
Bolsonaro já afirmou que não houve tentativa de golpe em seu governo e que não existe golpe via estado de sítio. “Agora o golpe é porque tem uma minuta do decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Tenha paciência”, disse durante protesto em fevereiro deste ano.