Congressistas bolsonaristas minimizaram a operação deflagrada pela Polícia Federal nesta terça-feira (19) que apontou a existência de um plano para matar em 2022 o então presidente eleito, Lula (PT), o vice, Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Ao todo, cinco pessoas foram presas nesta terça —um policial federal que fazia a segurança de Lula antes da posse, e quatro militares das forças especiais do Exército, conhecidos como “kids pretos”. Segundo a investigação, eles conversavam sobre o plano em um aplicativo de mensagens.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), um dos filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), questionou a prisão preventiva dos cinco e chamou as revelações de “narrativa” para “tentar dizer que existe um risco real à democracia”.
“Se eu falar o seguinte: ‘eu vou ali que eu vou acabar com fulaninho de tal’. Isso é crime? Só existe a tentativa de um crime quando se inicia a execução”, disse a jornalistas. “Se porventura foi cogitado, cogitação não faz parte do crime.”
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do ex-presidente, foi na mesma linha. Disse que “não há crime” no que foi apontado pela PF e que “todo mundo alguma vez na vida já teve” vontade de matar alguém.
Um dos presos nesta terça é o general Mário Fernandes, ex-número dois da Secretaria-Geral da Presidência durante o governo Bolsonaro. A investigação apontou que ele imprimiu no Palácio do Planalto o “plano operacional” para matar Lula, Alckmin e Moraes.
O documento foi discutido na casa do general da reserva Braga Netto, vice na chapa derrotada Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022 e ex-ministro-chefe da Casa Civil e da Defesa do governo.
O senador Jorge Seif (PL-SC), ex-secretário da Pesca de Bolsonaro, ironizou o plano. Afirmou que militares altamente treinados como os kids pretos não colocariam “pozinho no café” para matar alguém nem arrastariam Moraes pelos cabelos.
“O tal dos black kids, kids negros [em referência ao nome pelo qual o grupo é conhecido, kids pretos], não sei o quê, iriam invadir o Palácio do Planalto, a casa do Lula, o hotel do Lula, para botar veneno no café dele. Os caras que eram altamente treinados pelas Forças Armadas”, acrescentou em tom de ironia.
Poucas horas depois da operação, bolsonaristas participaram de uma audiência pública organizada pelo senador Eduardo Girão (Novo-CE) sobre a situação dos presos pelos ataques de 8 de janeiro. A reunião já estava agendada.
Deputados federais e senadores pediram anistia para os golpistas —chamados pelo grupo de presos políticos— e fizeram duras críticas a Moraes. Em determinado momento, Flávio Bolsonaro disse que Moraes ou será anistiado pelo projeto de lei ou sofrerá impeachment.
“A pacificação deste país não tem outro caminho, ela passa pela anistia dos presos políticos, passa pela reparação dessa injustiça. Enquanto nós não tivermos a anistia, nós não vamos ficar em paz”, disse a deputada federal Júlia Zanatta (PL-SC).
Advogados que defendem presos pelo atentado de 8 de janeiro afirmam que o ministro dificulta o direito de defesa ao impedir e retardar o acesso aos processos. Também houve reclamações por parte de advogados e parlamentares de que as condutas não foram individualizadas.
Familiares de Cleriston Pereira da Cunha, réu dos ataques de 8 de janeiro que morreu no Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal, também participaram da reunião. Ele foi preso no plenário do Senado durante a invasão ao Congresso.
Destoando de outros parlamentares do PL, o líder do partido na Câmara, Altineu Côrtes (RJ), disse precisar de mais informações sobre a investigação, mas afirmou que, “se aconteceu, óbvio, em qualquer situação é gravíssimo”.
“Esses fatos que aconteceram hoje, precisamos ver provas muito contundentes. Se aconteceu trama que visava atingir a vida de alguém, isso é gravíssimo. Eu não tenho os fatos para falar”, afirmou o deputado federal à imprensa.