Autoridade monetária reconhece o 3º descumprimento da meta nos últimos 4 anos; ficará acima de 5% por 3 trimestres em 2025
O BC (Banco Central) aumentou nesta 5ª feira (19.dez.2024) de 36% para 100% a probabilidade de a inflação do Brasil ficar fora da meta. A autoridade monetária reconheceu que houve o descumprimento do objetivo inflacionário em 3 dos últimos 4 anos
Os dados constam no Relatório Trimestral de Inflação, divulgado nesta 5ª feira (19.dez.2024) pela autoridade monetária. Eis a íntegra do documento (PDF – 11 MB).
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, deixará a autoridade monetária tendo cumprido 3 das 6 metas de inflação de 2019 a 2024.
O ano de 2024 será o último que o objetivo da inflação terá como referência o acumulado de 12 meses até dezembro. A nova meta contínua estabelece que haverá um descumprimento quando a taxa ficar fora do intervalo permitido por mais de 6 meses, mas a norma só vale a partir de janeiro de 2025.
O CMN (Conselho Monetário Nacional) estabeleceu uma meta de inflação de 3% para 2024. Há uma margem de tolerância: de 1,5% para 4,5%. Acima deste patamar, o BC terá que se explicar publicamente.
O Brasil e os países sofreram com um ciclo de inflação mais alta depois dos estímulos fiscais e monetários adotados durante a pandemia de covid-19.
Campos Neto fez sua última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) na 4ª feira (11.dez.2024). Deixará o cargo até 31 de dezembro. Será substituído por Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária.
PROJEÇÕES
Ao considerar as projeções da taxa básica, a Selic, e do dólar para os próximos anos, o BC estima que a inflação do Brasil subirá para 4,9% em dezembro de 2024. Atingirá o pico de 5,1% no 3º trimestre de 2025, até arrefecer para 4,5% no fim de 2025.
HISTÓRICO DE EVENTOS
Campos Neto teve eventos favoráveis e contrários à política monetária durante a gestão. Eis alguns destaques, separados por cada ano:
- 2022
- Guerra entre Ucrânia e Rússia;
- Barril do petróleo supera US$ 120 em março;
- Eleições 2022: país elege Lula.
- 2023
- Críticas do governo à política monetária de Campos Neto e ao regime de meta;
- Início da guerra entre Hamas e Israel;
- indicações de diretores testam a autonomia do BC;
- Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) aumenta os juros para o intervalo de 5,25% a 5,50% ao ano, patamar que ficou até setembro de 2024;
- Governo derruba teto de gastos e cria nova regra fiscal;
- reforma tributária é aprovada no Congresso.
- 2024
- Marco fiscal é flexibilizado com metas menos rígidas;
- CMN (Conselho Monetário Nacional) estabelece meta contínua de inflação de 3%;
- Donald Trump é eleito presidente dos EUA;
- Mesmo com taxa Selic acima de 2 dígitos desde fevereiro de 2022, a taxa de desemprego atingiuo menor patamar da série histórica, iniciada em 2012;
- Governo apresenta pacote fiscal considerado pouco ambicioso pelos agentes financeiros.
HISTÓRICO DAS CARTAS
Campos Neto foi o 5º chefe da autoridade monetária brasileira a ter que dar explicações para o descumprimento da meta de inflação. Armínio Fraga, Henrique Meirelles, Alexandre Tombini e Ilan Goldfajn também tiveram que encaminhar um documento ao Ministério da Fazenda com as justificativas.
Os limites estabelecidos para as metas de inflação já foram rompidos em outras 7 ocasiões. Eis as cartas já feitas:
- 2001 (carta feita em janeiro de 2002 sobre inflação de 2001);
- 2002 (carta feita em janeiro de 2003 sobre inflação de 2002);
- 2003 (carta feita em fevereiro de 2004 sobre inflação de 2003);
- 2015 (carta feita em janeiro de 2016 sobre inflação de 2015);
- 2017 (carta feita em janeiro de 2018 sobre inflação de 2017);
- 2021 (carta feita em janeiro de 2022 sobre inflação de 2021);
- 2022 (carta feita em janeiro de 2023 sobre inflação de 2022);
Apenas em 2017, durante a gestão Ilan Goldfajn, que a inflação terminou o ano abaixo do intervalo permitido. Na ocasião, o então presidente do Banco Central afirmou que a queda no preço de alimentos em domicílio pressionou o índice para abaixo do piso. O taxa do IPCA ficou acima do teto da meta em 2001, 2002, 2003, 2015, 2021 e 2022.
O regime de metas de inflação foi criado em 1999 no país. Os percentuais são estabelecidos pelo CMN. Atualmente, é composto pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
A autoridade monetária adota as medidas necessárias para alcançar o índice determinado, como alterar a taxa básica de juros, a Selic. A meta tem um intervalo de tolerância, atualmente de 1,5 ponto percentual. Acesse aqui o histórico.
INFLAÇÃO E SELIC
Campos Neto fez 47 reuniões do Copom de 2019 a 2024. A taxa básica de juros atingiu o nível mais baixo da história na pandemia de covid-19, quando foi de 2% ao ano. Os países implementaram medidas de estímulos monetários para aumentar o nível de atividade econômica durante o isolamento social.
Os incentivos se somaram às políticas fiscais expansionistas dos governos. Como consequência, a inflação global subiu. Medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), atingiu 12,13% no acumulado de 12 meses até abril de 2022.