Taxa anual foi de 4,83% em 2024, segundo o IBGE; desde 2019, ficou acima da meta em 2021, 2022 e 2024
O BC (Banco Central) descumpriu 3 das últimas 6 metas de inflação. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou nesta 6ª feira (9.jan.2025) que a taxa anual de inflação foi de 4,83% em 2024, acima do intervalo permitido.
O ano de 2024 foi o último que o objetivo da inflação terá como referência o acumulado de 12 meses até dezembro. A nova meta contínua estabelece que haverá um descumprimento quando a taxa ficar fora do intervalo permitido por mais de 6 meses, mas a norma só vale a partir de janeiro de 2025.
O CMN (Conselho Monetário Nacional) estabeleceu uma meta de inflação de 3% para 2024. Há uma margem de tolerância: de 1,5% para 4,5%. Como a inflação ficou acima deste patamar, o BC terá que se explicar publicamente.
Nos últimos 6 anos, o BC descumpriu as metas de 2021, de 2022 e de 2024. O Brasil e os países sofreram com um ciclo de inflação mais alta depois dos estímulos fiscais e monetários adotados durante a pandemia de covid-19.
META DE INFLAÇÃO
Antes de deixar o cargo, em dezembro de 2024, Campos Neto havia declarado que sua gestão começou “cumprindo a meta” e que, nos anos de pandemia de covid-19, houve um choque inflacionário “muito grande” no mundo. De acordo com ele, nenhum país atingiu a meta de inflação no período, assim como em 2024.
“Em 2024, se você olhar, nenhum país atingiu a meta. Nem o Brasil e nem nenhum. A gente precisa colocar essa afirmação de um contexto global, de um fator muito atípico que aconteceu, que foi a pandemia”, disse o economista.
O ex-presidente do BC declarou que a autoridade monetária brasileira foi a 1ª a subir juros na pandemia e que a inflação nacional foi uma das primeiras a começar a cair.
HISTÓRICO DE EVENTOS
Campos Neto teve eventos favoráveis e contrários à política monetária durante a gestão. Eis alguns destaques, separados por cada ano:
- 2022
- guerra entre Ucrânia e Rússia;
- barril do petróleo supera US$ 120 em março;
- eleições 2022: país elege Lula.
- 2023
- críticas do governo à política monetária de Campos Neto e ao regime de meta;
- início da guerra entre Hamas e Israel;
- indicações de diretores testam a autonomia do BC;
- Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) aumenta os juros para o intervalo de 5,25% a 5,50% ao ano, patamar que ficou até setembro de 2024;
- governo derruba teto de gastos e cria nova regra fiscal;
- reforma tributária é aprovada no Congresso.
- 2024
- marco fiscal é flexibilizado com metas menos rígidas;
- CMN (Conselho Monetário Nacional) estabelece meta contínua de inflação de 3%;
- Donald Trump é eleito presidente dos EUA;
- mesmo com taxa Selic acima de 2 dígitos desde fevereiro de 2022, a taxa de desemprego atingiu o menor patamar da série histórica, iniciada em 2012;
- governo apresenta pacote fiscal considerado pouco ambicioso pelos agentes financeiros.
HISTÓRICO DAS CARTAS
O Banco Central descumpriu a meta de inflação em 8 oportunidades até 2024. Armínio Fraga, Henrique Meirelles, Alexandre Tombini e Ilan Goldfajn também tiveram que encaminhar cartas ao Ministério da Fazenda com as justificativas. Eis abaixo os documentos já divulgados:
- 2001 (carta feita em janeiro de 2002 sobre inflação de 2001);
- 2002 (carta feita em janeiro de 2003 sobre inflação de 2002);
- 2003 (carta feita em fevereiro de 2004 sobre inflação de 2003);
- 2015 (carta feita em janeiro de 2016 sobre inflação de 2015);
- 2017 (carta feita em janeiro de 2018 sobre inflação de 2017);
- 2021 (carta feita em janeiro de 2022 sobre inflação de 2021);
- 2022 (carta feita em janeiro de 2023 sobre inflação de 2022);
Só em 2017, durante a gestão Ilan Goldfajn, que a inflação terminou o ano abaixo do intervalo permitido. Na ocasião, o então presidente do Banco Central afirmou que a queda no preço de alimentos em domicílio pressionou o índice para abaixo do piso. O taxa do IPCA ficou acima do teto da meta em 2001, 2002, 2003, 2015, 2021 e 2022.
O regime de metas de inflação foi criado em 1999 no país. Os percentuais são estabelecidos pelo CMN. Atualmente, é composto pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, e o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo.
A autoridade monetária adota as medidas necessárias para alcançar o índice determinado, como alterar a taxa básica de juros, a Selic. A meta tem um intervalo de tolerância, atualmente de 1,5 ponto percentual. Acesse aqui o histórico.
SELIC E CRÍTICAS
Lula e aliados criticaram Campos Neto, ex-presidente do BC, pelo patamar da taxa Selic. Acusaram-no de prejudicar o país com os juros altos no período da gestão PT.
Depois de subir os juros em 11,75 pontos percentuais de 2021 a 2022, o Banco Central voltou a cortar os juros em agosto de 2023. O ciclo de redução –que teve início no governo Lula– durou até junho de 2024, com a manutenção do indicador em 10,5% ao ano. O cenário global adverso, as incertezas sobre as contas públicas e o mercado de trabalho aquecido voltaram a elevar as expectativas futuras para a inflação.
A Selic voltou a subir em setembro de 2024. Começou com uma alta de 0,25 ponto percentual, que acelerou a cada reunião. O BC disse que haverá mais duas altas de 1 ponto percentual nas próximas duas reuniões, o que deve levar o juro base a 14,25% ao ano.
Galípolo (que esteve de julho de 2023 a dezembro de 2024 à frente da Diretoria de Política Monetária do BC) e os demais diretores indicados por Lula só divergiram uma vez de Campos Neto.
O voto do atual presidente e de outros diretores indicados por Lula teve peso maior nas últimas reuniões de 2024.