A base aliada de Lula no Senado vai na contramão dos ataques do governo contra o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, e se prepara para blindá-lo na Casa nas próximas semanas.
Muito embora haja críticas a taxa de juros, não há sinal dentre aliados de que o tom do governo e do PT contra Campos Neto será respaldado pelos aliados e muito menos que a autonomia do Banco Central será revista.
“Não vejo que Senado vá rever a autonomia [do Banco Central]. Há sem dúvida uma avaliação de que a taxa de juros está alta, mas, por outro lado, é preciso que o arcabouço fiscal ande. Não há qualquer risco para o Campos Neto no Senado”, disse à CNN o líder do MDB na Casa, Eduardo Braga. O partido tem três ministérios na Esplanada.
O presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) no Senado, Vanderlan Cardoso (PSD-GO) disse à CNN que a manutenção da Selic em 13,75% o deixou abalado.
“Estava esperando pelo menos uma sinalização de queda. O governo está demorando muito para apresentar o arcabouço fiscal. O BC, para baixar juros, tem que ter os sinais do governo. Enquanto não for apresentado isso e dependendo do que vier, talvez a gente possa não ter boas notícias”, disse.
Vanderlan Cardoso prevê uma sessão tranquila no dia 4 de abril, quando Campos Neto irá ao Senado.
“O Roberto já veio aqui no Senado e nunca ninguém se exaltou. A vinda dele será respeitosa. Mesmo porque ele não entra em provocação.“
O PSD tem três ministérios na Esplanada e a maior bancada do Senado. Outro senador da legenda, Angelo Coronel (BA), também defendeu o presidente do BC.
“Temos convicção de que ele é excelente e está dando estabilidade ao BC. Querem fazer populismo com isso. Se depender de mim, quando ele vier à CAE, ele sairá fortalecido”, afirmou Angelo Coronel.
“Não vejo porque jogar Campos Neto aos abutres. Vejo ele como alguém apolítico e equilibrado”, continuou.
O líder do União Brasil, Efraim Filho (PB), também defendeu Campos Neto e o BC. “O Senado tem uma posição favorável à autonomia do BC. Então, mais do que nomes, o sentimento é de preservar a autonomia do BC”, afirmou à CNN.
Somados, MDB, União Brasil e PSD têm 34 senadores, quase a metade dos 81 da Casa, dificultando qualquer mobilização maior para levar adiante alguma medida para desestabilizar Campos Neto.
Nesta quinta (23), em novo ataque ao presidente do BC, o presidente Lula disse “quem tem que cuidar do Campos Neto é o Senado que o indicou. Ele não foi eleito pelo povo, não foi indicado pelo presidente, ele foi indicado pelo Senado”.
O vice-líder do governo no Senado, Rogério Carvalho (PT-SE), disse, porém, à CNN que mesmo dentro dos partidos aliados há divergências internas sobre a política monetária do BC.
“Não há isolamento do PT nesse debate. Os partidos têm divergências internas. O que precisa é o Senado chamar para si o debate e aprofundar esse debate sobre a taxa de juros e o que está na lei da autonomia do Banco Central e fazer um debate sobre a economia do país”, afirmou Carvalho.
“Vamos ficar submetidos a uma postura rígida sobre taxa de juros e política monetária? É preciso fazer um debate político sem afetação e sem agressões na CAE, no plenário, na sociedade.”
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