O australiano Rhydian Cowley já sentiu na pele os efeitos do calor excessivo. No campeonato mundial de atletismo de Budapeste no ano passado, ele desmaiou durante a prova de 35 km da marcha atlética por causa das altas temperaturas. Já aconteceu com muitos competidores em diferentes esportes.
Cowley foi um dos atletas que participaram de um vídeo feito pela federação internacional de atletismo, a World Athletics, em que eles contaram as consequências do aquecimento global em seus treinos e competições. Ele foi exibido na COP29, conferência do clima da ONU, que termina neste fim de semana em Baku, no Azerbaijão.
Nos últimos dias, a World Athletics também divulgou sua pesquisa anual com a opinião dos atletas sobre causas sociais e ambientais. Do total de 141 entrevistados de 51 países, 70% disseram que as mudanças climáticas tiveram impacto em suas vidas.
Em resumo, a COP é um evento anual em que autoridades, como presidentes, primeiros-ministros, encontram-se com o objetivo de tentar salvar o planeta. Normalmente, saem de lá com promessas e pouca ação, ignorando os alertas da ciência. A meta estabelecida pelo Acordo de Paris de tentar limitar o aquecimento do planeta a 1,5 grau acima dos níveis pré-industriais não vai ser cumprida. Às vésperas do evento, a Organização Meteorológica Mundial anunciou que 2024 deve ser o ano mais quente da história –para surpresa de ninguém.
Tragicamente, agora temos que lidar com as consequências de décadas de omissão de políticos e viver em um mundo onde eventos climáticos extremos como incêndios, furacões, tempestades, secas e terremotos acontecem com muito mais frequência. As mudanças climáticas põem em risco a existência de ilhas que podem desaparecer pela elevação dos oceanos; forçam o deslocamento de populações africanas que não conseguem mais plantar por causa da escassez de chuvas; impactam a vida de populações pobres do Brasil que moram em áreas de risco e enfrentam temporais.
E, claro, afetam o esporte que todos nós praticamos, dos profissionais aos amadores.
Correr no calor extremo e em meio a um ar poluído causa diversos problemas à saúde. Deslizamentos e desmoronamentos em áreas costeiras são um perigo para quem gosta de nadar no mar ou praticar atividade física na areia. São só alguns dos muitos exemplos.
Escrevo esta coluna de Milão, sede dos próximos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Inverno, em 2026. Na Europa, a preocupação com a falta de neve e gelo é enorme, e o uso crescente de neve artificial gera um grande impacto ambiental pelo alto uso de água e de eletricidade.
Cowley se recuperou daquele desmaio no Mundial de atletismo, seguiu a carreira e, neste ano, ganhou o bronze olímpico em Paris. Teve sorte. Preocupado com os incêndios em sua terra natal na Austrália, tornou-se um embaixador de organizações ligadas a esporte e meio ambiente.
Atitudes individuais ajudam muito. Reciclar nosso lixo, consumir menos, priorizar o transporte público em vez do carro quando possível, não usar sacolas plásticas no supermercado, parar ou diminuir o consumo de carne, votar em políticos que se preocupem com questões ambientais. Nossa sobrevivência e a das futuras gerações neste planeta que a cada dia fica mais quente depende somente de nós.
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