O crédito mais difícil, consequência da Selic no patamar de 13,75% ao ano, mantido nesta quarta-feira (22) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), é um dos principais indicadores de que esse ciclo de juros altos deve chegar ao fim.
Essa foi uma das conclusões de executivos do setor imobiliário que estiveram hoje no debate “Desafios do setor de Real State em mercados de capitais em 2023”, promovido pelo Inter, em São Paulo.
Roberto Perroni, head de Real Steate da Brookfield, comentou sobre os investimentos feitos pela empresa no setor de escritórios, mais aquecido agora com a volta do trabalho presencial. Ele citou o exemplo dos prédios corporativos adquiridos pela companhia na av. Brigadeiro Faria Lima, na zona oeste de São Paulo.
“Já temos vacância zero nessa região”, contou, citando que o valor médio do metro quadrado da região, no aluguel, saiu de R$ 170 em 2021 para R$ 250, em novas locações.
“O aluguel se manteve em termos nominais nos últimos tempos e, agora, a tendência é recuperar a inflação”, afirmou Perroni. No entanto, o espaço para essa rentabilidade aumentar tem relação direta com o crescimento do país. E um entrave para isso é o patamar alto de juros que o Brasil tem hoje, que retarda investimentos.
O setor de fundos imobiliários também espera pela queda de juros. Carlos Martins, sócio da Kinea, disse que os fundos de renda fixa, com os juros altos, ficaram mais atrativos para o investidor com aversão ao risco.
Martins ressaltou os bons resultados do setor imobiliário na área comercial e em alto padrão, com preços mais altos e performando bem, mas a dificuldade de crédito no geral, com os juros altos, traz impacto. Para ele, será preciso ficar de olho no “timing”, já que, quando os juros caírem, os fundos imobiliários terão muito espaço de rentabilidade com o aquecimento do setor.
“O mercado vem do INCC (Índice Nacional de Custo da Construção) alto, há preocupação com a queda da renda. Mas sou otimista”, afirmou, ressaltando que esse otimismo ainda tem “cautela”, já que os juros altos ainda são a maior preocupação.
Já pelo lado dos incorporadores, o aumento do crédito é fundamental.
Para Luiz Antonio França, presidente da Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), que reúne 67 incorporadores, uma das dificuldades, que decorrem das altas taxas de juros, é a diminuição de recursos da poupança para financiamento.
Uma das sugestões do setor é aumentar o crédito disponível com subsídio para famílias com renda acima da atual “faixa 1” (até R$ 2.640), do programa Minha Casa, Minha Vida.
“Se tiver subsídio adicional ao do FGTS, você aumenta muito o número de famílias que conseguem comprar um imóvel”, afirmou. França também destacou que a taxa de juros abaixo de dois dígitos aumenta a capacidade de compra.
“A força que falta é a taxa de juros mais baixa”, disse, citando também que essa queda nos juros pode ainda reduzir a dependência dos recursos da habitação aos valores da poupança.
Na logística, os investimentos estão em alta. Sérgio Fischer, CEO Log Commercial Properties, disse, durante o debate, que há oportunidades gigantescas no país, uma demanda muito forte de centros de consumo, com uma demanda pujante de marketplaces.
Há grandes investimentos em centros de consumo fora do eixo São Paulo e Rio. Fischer falou sobre a prioridade em investimentos em locais próximos de centros de consumo do país.
Em um país considerado “pobre” em infraestrutura, para Fischer, o caminho é o investimento privado nesse setor. “Sem aumentar os gastos públicos, pensando na responsabilidade financeira do governo”, comentou. Ele também citou o crescimento com qualidade. “Vamos continuar com investimento, mesmo brigando com a Selic alta”, afirmou.
Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, que mediou o debate, destacou que o setor imobiliário já e muito desenvolvido e tem muito a desenvolver, mesmo com toda a conjuntura econômica. O maior entrave foi velocidade da alta de juros no país.
Ela citou um estudo que mostra como uma taxa mais baixa favorece a inclusão de famílias com moradia. “Um ponto percentual a menos nos juros pode aumentar em 1 milhão o número de famílias com crédito imobiliário”, afirmou.
Para Rafaela, a queda da Selic, que no ano passado era esperada para agora, deve ficar para o segundo semestre deste ano.
Selic
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu por manter a taxa básica de juros – a Selic – em 13,75% ao ano. Foi a quinta decisão seguida pela manutenção da taxa. Assim, o patamar de juros continua no maior nível desde dezembro de 2016. A decisão foi unânime.
Esta foi a segunda reunião do Comitê do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O comunicado que acompanha a decisão era o mais esperado pelo mercado, já que nele o Comitê expõe sua visão do cenário econômico em que foi baseada a decisão e também pode indicar como será a próxima.
O Copom cita a crise dos bancos no exterior, a piora do cenário externo e interno e a pressão inflacionária persistente.
Segundo o Copom, desde sua última reunião, “o ambiente externo se deteriorou”. “Os episódios envolvendo bancos nos EUA e na Europa elevaram a incerteza e a volatilidade dos mercados e requerem monitoramento. Em paralelo, dados recentes de atividade e inflação globais se mantêm resilientes e a política monetária nas economias centrais segue avançando em trajetória contracionista”, diz.
Sobre o cenário interno, o grupo segue citando os últimos índices econômicos como balizadores para a decisão. “o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue corroborando o cenário de desaceleração esperado pelo Copom. A inflação ao consumidor, assim como suas diversas medidas de inflação subjacente, segue acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação. (…) O Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual.”
O comunicado diz ainda que o Comitê seguirá acompanhando o cenário inflacionário global e que “não hesitará” em retomar o ciclo de alta caso a manutenção da taxa não consiga controlar a escalada de preços.
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