Um estudo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), utilizando dados de 187 sensores, revelou que cidades amazônicas registraram os piores índices de qualidade do ar do Brasil. A razão para os dados está diretamente ligada ao recorde de queimadas em 2024.
Os dados constam no relatório da Coalizão Respira Amazônia, intitulado “Desafios e perspectivas do monitoramento da qualidade do ar na Amazônia Legal”.
De acordo com o levantamento, o crescimento significativo de incêndios florestais, de 116% em relação ao período anterior, liberou poluentes como material particulado e monóxido de carbono, em grandes quantidades, afetando a qualidade do ar e a saúde da população.
Dados e impactos
Os dados foram coletados por sensores instalados em todos os estados da Amazônia Legal. De acordo com o relatório World Air Quality, 13 das 38 cidades com a pior qualidade do ar do Brasil estão na Amazônia Legal.
O estudo destaca que o fogo para manejo do solo e áreas recentemente desmatadas libera grande quantidade de poluentes nocivos, como material particulado em suspensão e monóxido de carbono. Entre janeiro e agosto de 2024, as queimadas no bioma amazônico atingiram 11 milhões de hectares.
O relatório destaca o impacto da má qualidade do ar, causada pelas queimadas, na vida de povos indígenas e comunidades tradicionais da Amazônia. A poluição afeta a saúde, o desenvolvimento infantil e a rotina desses grupos, mesmo em áreas preservadas.
“A gente não pode esquecer das comunidades tradicionais. Monitorar as cidades é importante, mas, no Xingu, um sensor mostrou que o ar estava 53 vezes pior do que o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Quem protege a floresta deveria estar respirando um ar puro, mas fica com um ar mais sujo que o da Avenida Paulista. Por isso temos antenas instaladas com energia solar em diversas comunidades tradicionais e extrativistas da Amazônia, porque é esse pessoal que mais tem vivido a calamidade pública da qualidade do ar”, alerta Filipe Viegas, pesquisador do IPAM que trabalhou na instalação dos sensores.
Recorde de queimadas
Uma pesquisa do projeto MapBiomas revela que a área queimada no Brasil em 2024 quase dobrou em relação ao ano anterior, acumulando uma diferença de 14 milhões de hectares a mais.
Ao todo, 29,7 milhões de hectares foram queimados, 90% a mais do que no ano de 2023 e a maior extensão dos últimos seis anos. O período analisado foi de janeiro até novembro.
Nos 11 primeiros meses deste ano, o estado que mais teve queimadas foi o Pará, acumulando 23% de toda a área queimada no Brasil. Logo depois estão Mato Grosso e Tocantins, com 6,8 milhões e 2,7 milhões de hectares, respectivamente.
A CNN procurou o Ministério do Meio Ambiente pra obter um posicionamento, mas ainda não recebeu resposta.