Deputados estaduais aliados de Guilherme Boulos (PSOL) entraram com um pedido de impeachment do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) na Assembleia Legislativa por ele ter dito no dia da eleição, sem apresentar provas, que o PCC orientou voto no deputado na disputa contra Ricardo Nunes (MDB) pela Prefeitura de São Paulo.
A representação, assinada pelos líderes das federações PT/PCdoB/PV e PSOL/Rede, foi protocolada nesta quarta-feira (30) pelo sistema digital da Casa. O encaminhamento dependerá do presidente da Assembleia, André do Prado (PL), aliado de Tarcísio.
Procuradas, as assessorias da Assembleia e do Governo de São Paulo não se manifestaram sobre o pedido até a publicação deste texto.
O documento enviado pelos deputados Paulo Fiorilo (PT) e Carlos Giannazi (PSOL) afirma que “a gravidade da situação não pode ser minimizada” e sustenta que Tarcísio cometeu crime de responsabilidade. A Assembleia paulista historicamente engaveta pedidos do tipo.
A afirmação de Tarcísio foi feita enquanto a votação do segundo turno ainda estava em curso, no domingo (27), e foi citada por Boulos em manifestações após sua derrota. O deputado disse que o governador, apoiador de Nunes, cometeu crime eleitoral e também acionou a Justiça.
Os deputados afirmam que a “democracia que foi agredida pela conduta irresponsável” de Tarcísio e apontam a violação de três artigos da lei 1.079/1950, a chamada lei do impeachment. Entre eles, o que considera crime de responsabilidade impedir o livre exercício do voto e proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo.
Há ainda menções a artigos do Código Penal e da lei 13.869/2019, a lei de abuso de autoridade.
A declaração do governador foi dada em entrevista em colégio onde foi votar. Ele estava ao lado de Nunes e Mello Araújo, vice do emedebista.
Tarcísio foi questionado por uma jornalista sobre a violência em algumas campanhas. “A gente vem alertando sobre isso há muito tempo. Nós fizemos um trabalho grande de inteligência. Então a gente pegou e reforçou o policiamento nas grandes cidades onde está tendo segundo turno”, respondeu.
“Vamos aí ter muitas conversas com o Tribunal Regional Eleitoral para ver os relatórios que mostram os locais que tiveram conexão com o crime organizado”, completou Tarcísio, antes de ser indagado sobre o que aconteceu na capital.
“Houve interceptação de conversas e de orientações que eram emanadas de presídios de uma facção criminosa orientando determinadas pessoas de determinadas áreas a votarem em determinados candidatos.”
O governador foi então questionado pela Folha sobre qual era o candidato indicado pelo PCC em São Paulo, ao que Tarcísio respondeu: “Boulos”.
Segundo especialistas, a fala do governador teve gravidade suficiente para condená-lo por abuso de poder político e torná-lo inelegível por oito anos. Também coloca sob risco a vitória de Nunes, que pode ter a diplomação como prefeito reeleito cassada pela Justiça.
Ainda no domingo, após a campanha de Boulos entrar com duas ações sobre o caso na Justiça Eleitoral, deputados aliados decidiram que reivindicariam o impeachment. Apesar de ser remota a chance de o pedido prosperar, já que o governador possui maioria na Casa, a intenção é explorar o assunto politicamente.