Fosse o Bragantino o adversário do Palmeiras na decisão estadual e, ao menos, teríamos uma final entre times da Série A brasileira.
Mas quiseram os pênaltis que fosse o bravo Água Santa, que nem divisão nacional tem —e apenas em 2024 disputará a Série D.
Porque sobrou no time de Diadema, nascido na várzea quatro décadas atrás, o que falta ao de Bragança Paulista não é de hoje: coração.
A sensação transmitida pelos recentes times bragantinos é a de jogadores na engorda para serem vendidos e que os resultados dos jogos, decisivos ou não, são meros detalhes.
Tanto que o Massa Bruta (delicada?) caiu também para o Ypiranga, da Série C, da gaúcha Erechim, na Copa do Brasil.
Restou o Palmeiras, cuja sede, para quem desconhece, fica no bairro da Água Branca, a 36,8 quilômetros da cidade do Água Santa, que já havia cometido a façanha de despachar o São Paulo, na casa verde, e eliminou também o Braga, na Vila Belmiro.
Quem sabe leve para Itaquera o mando do jogo de ida das finais, embora a 52 quilômetros de sua casa, mais próxima ao Morumbi (15 km).
Seja como for, o chamado Netuno pôs o D do ABCD paulista na história ao repetir façanha semelhante à do Santo André, do São Bernardo e do São Caetano, que também já tiveram seus momentos de glória.
O A, campeão da Copa do Brasil contra o Flamengo, no Maracanã, em 2004; o B ficou em segundo lugar na classificação geral do estadual nesta temporada e o C foi até vice-campeão da Libertadores, em 2002.
Ah, sim, o Bragantino raiz acabou campeão paulista em 1990, contra o Novorizontino, e vice brasileiro no ano seguinte.
Do lado palmeirense tudo é festa, mesmo que venha a passar as duas próximas semanas, até o dia 2 de abril, data da primeira final, com o correto discurso sobre a inexistência de vencedores antecipados.
Fosse um jogo só até faria sentido. Em dois, nem pensar.
Se bem que o palmeirense tem o trauma de perder, em dois jogos, a decisão do Campeonato Paulista de 1986.
Então, a Inter de Limeira, dirigida pelo técnico Pepe, o histórico ex-ponta-esquerda do Santos, conquistou o primeiro título paulista de um clube do interior, ao empatar sem gols o primeiro jogo e vencer depois por 2 a 1, sempre no Morumbi, com mais de 78 mil torcedores —com o que o alviverde completou jejum de dez anos sem títulos, fila que só terminou, aos 17, em 1993.
“A história se repete duas vezes”, disse o filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel. E seu companheiro Karl Marx, acrescentou: “Na primeira vez como tragédia; na segunda como farsa”.
Discordar é preciso
O caríssimo vizinho Paulo Vinícius Coelho escreveu que “o aumento de 48% do público no Campeonato Paulista indica o erro de termos dito, por 20 anos, que o estadual não vale nada”.
Um torneio com média de menos de 13 mil torcedores por jogo segue sem valer muita coisa para os grandes, que devem a lotação de seus estádios aos planos de sócios-torcedores, a cada ano mais entendidos como a maneira de estar nos jogos importantes.
Tanto o Paulistinha vale pouco que o são-paulino ainda se considera em abstinência de taças, embora o tenha vencido dois anos atrás.
O legado dos estaduais segue sendo o de impedir que o Campeonato Brasileiro seja disputado só, ou quase só, nos fins de semana.
Estaduais são para os pequenos e por todo o ano.
Data venia, PVC.
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