Desde a intrigante obra ‘Veludo Azul’ até o thriller ‘Cidades dos Sonhos’, o diretor que morreu nesta quinta (16) se tornou um cineasta cult, mas ficou conhecido principalmente pela série de televisão ‘Twin Peaks’
David Lynch, um dos gigantes do cinema dos Estados Unidos que retratou o lado sombrio da vida de seu país em obras como “Twin Peaks”, “Veludo Azul” e “Cidade dos Sonhos”, morreu nesta quinta-feira (16) aos 78 anos. “Há um grande vazio no mundo agora que ele não está mais conosco. Mas, como ele mesmo diria: “Keep your eye on the donut and not on the hole” (Fique de olho na rosquinha e não no buraco, em tradução livre), escreveu a família de Lynch em sua página oficial no Facebook.
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Os familiares não revelaram as causas nem o local da morte, mas o diretor e roteirista, que morava em Los Angeles, havia anunciado em agosto passado que sofria de enfisema pulmonar após anos de tabagismo. Desde a intrigante obra “Veludo Azul” (1986) até o thriller lésbico “Cidades dos Sonhos” (2000), Lynch se tornou um cineasta cult mundial, com seus retratos perturbadores da vida americana que influenciaram diretores como Quentin Tarantino e os irmãos Coen.
Mas talvez seja lembrado principalmente pela fascinante e inovadora série de televisão “Twin Peaks”, pioneira do gênero antes da era do streaming. Indicado ao Oscar quatro vezes, o cineasta, reconhecido por seu cabelo branco abundante, levou para casa apenas uma estatueta honorária, em 2019.
Confira a seguir um resumo de cinco obras que marcaram sua carreira:
“O homem elefante” (1980)
Com “O homem elefante”, seu segundo longa-metragem em preto e branco, Lynch foi aclamado pelo público. Fascinado pela deformidade, o jovem diretor deu vida à história de Joseph Merrick, um britânico do fim do século XIX acometido por uma doença.
O homem, de morfologia monstruosa, se transforma em um espetáculo para todo o país. John Hurt, no papel principal, obteve uma das oito indicações ao Oscar recebidas pelo filme. Anthony Hopkins, também indicado, interpretou o médico Frederick Treves, que simpatiza com seu paciente e cujo diário é a base do filme.
“Veludo azul” (1986)
Uma orelha cortada em decomposição sobre a grama, os lábios vermelhos de uma cantora de cabaré interpretada por Isabella Rossellini, um anão sinistro e a inebriante trilha sonora de Angelo Badalamenti; com “Veludo azul”, Lynch estabeleceu seu mundo surrealista e foi indicado ao Oscar de melhor diretor em 1987.
Dennis Hopper, no papel de um psicopata, somou mais um ponto à “inquietante estranheza” que Lynch soube criar por trás das fachadas aparentemente tranquilas de uma pequena cidade americana.
“Twin Peaks” (1990-91)
Em “Twin Peaks”, uma pequena cidade cercada de pinheiros gigantes, uma cafeteria e tortas de frutas, a trama gira em torno de um anão vestido de vermelho, telefones que não param de tocar e Laura Palmer, uma colegial cujo corpo é retirado uma manhã de um lago envolto em uma bolsa. Neste ambiente tão ‘lynchiano’ trabalha o agente Cooper (Kyle MacLachlan), personagem emblemático desta obra do diretor que revolucionou as séries autorais.
Com duas temporadas e 30 episódios, Lynch e Mark Frost conquistaram um séquito de espectadores, ávidos por respostas para um mistério sem solução. Ele deu continuidade ao experimento com um longa-metragem, “Twin Peaks: os Últimos dias de Laura Palmer” (1992), com David Bowie, e 26 anos depois escreveu a terceira temporada deste fenômeno cultural, um longa de quase 20 horas, com referências a toda a sua filmografia.
“Coração Selvagem” (1990)
Nicolas Cage (Sailor) e Laura Dern (Lula) estão loucamente apaixonados, mas a mãe dela persegue o casal. Esta bruxa alcoólatra quer se livrar de Sailor por despeito por seu amor e para neutralizar uma testemunha incômoda da morte suspeita de seu marido. A perseguição até o Texas leva os dois amantes a estranhos encontros em locais não menos insólitos.
Lynch se inspirou no “thriller” obscuro de Barry Gifford, flerta com a comédia e evoca o “Mágico de Oz”, Elvis Presley e Chris Isaak, tudo isso para mergulhar em um universo insuportável, que lhe rendeu a Palma de Ouro em Cannes em 1990.
“Cidade dos Sonhos” (2001)
Concebido inicialmente como uma série, este filme pungente brinca com as falsas pretensões de Hollywood, seus produtores corrompidos e outros personagens da indústria cinematográfica. Ganhador do prêmio de Cinema de Cannes e do César de Melhor Filme Estrangeiro, “Cidade dos Sonhos” – no original, “Mulholland Drive”, nome da rodovia que margeia as mansões das estrelas do cinema – segue uma trama rebuscada que leva Rita, uma bela morena acometida pela amnésia (Laura Elena Harring), e Betty, uma ingênua loira aspirante a atriz (Naomi Watts) a se envolverem em um jogo de intrigas.
Juntamente com “Império dos Sonhos” (2006), este filme marcou o fim da carreira de Lynch como diretor – com exceção de “What Did Jack Do?”, um curta-metragem exibido em 2020 pela Netflix sobre um macaco acusado de homicídio. A partir de então, ele se dedicou à meditação transcendental e outras formas de expressão artística.
*Com informações da AFP
Publicado por Carolina Ferreira