A nomeação do publicitário Sidônio Palmeira para a Secretaria de Comunicação do governo federal, que tem status de ministério, vem cercada de problemas. Embora deficiências de comunicação do Executivo tenham ficado patentes sob Paulo Pimenta, a solução encontrada por Lula é questionável e até perigosa.
Para ir direto ao ponto: a escolha do marqueteiro de campanha para o cargo sugere a configuração de um Ministério da Propaganda Eleitoral. Sidônio vem para dar uma ordem unida na turma e afinar a orquestra para a sinfonia da campanha de Lula –ou de um eventual substituto petista em 2026.
A Secom, é bom lembrar, foi criada na ditadura militar pelo general João Figueiredo, e descende, como agência centralizada sob comando da Presidência, de uma linha autoritária que nos leva ao Departamento de Imprensa e Propaganda, o famigerado DIP, de Getúlio Vargas.
O fato de pertencer a essa linhagem não condena a priori, tampouco invalida o papel da secretaria. Os tempos não são os mesmos e sob a Constituição, a Secom tem um papel a cumprir na prestação de contas, nas informações públicas e na transparência dos atos governamentais. No momento, um exemplo seria o esclarecimento público sobre a onda de fake news em torno da tributação do Pix.
Sidônio, no entanto, foi nomeado para outras missões. Trata-se de promover o governo, de vendê-lo como um produto de sucesso, já que não tem sido visto dessa maneira por grande parte da população.
Disse ele no discurso de posse:
“A informação dos serviços não chega na ponta, a população não consegue ver o governo em suas virtudes.”
Bem, se isso acontece, o problema não parece ser só de comunicação. A grande melhoria que Lula acredita estar propiciando não parece empolgar tantos assim. Talvez quem faça compras nos supermercados tenha algo a dizer. E talvez o líder petista não tenha entendido direito que o mundo mudou, as demandas mudaram, o grau de animação com aquelas conquistas básicas, clássicas do século 20, mudou.
Sidônio já chegou se manifestando sobre a Meta, as declarações de Zuckerberg e o perigo das fake news nas plataformas digitais. Reforçou o coro crescente de parte da esquerda de que só seria aceitável na esfera pública falar “a verdade” e estar em sintonia com a “ciência“. Caso contrário, trata-se de manifestação a ser silenciada.
Pergunto: afirmar, como fez e faz o PT, que a reeleição de Maduro foi uma vitória legítima da democracia na Venezuela é fato? Obviamente que não. Mas a disputa política, a interpretação das realidades e as opções ideológicas não são o terreno das verdades objetivas. São convicções, crenças e opiniões, que devem circular livremente e competir no debate por seu triunfo ou derrota.
O baiano Sidônio nos faz lembrar de João Santana, doutor Silvana de Lula e Dilma Rousseff, que comandou a sórdida campanha contra Marina Silva em 2014 —segundo a qual, aliada de banqueiros, ela iria retirar a comida da mesa do povo. Aliás, a ministra do Meio Ambiente do governo Lula já disse mais de uma vez que “as fake news não foram inventadas por Trump, foram inventadas por João Santana na campanha da Dilma“.
Melhor seria se, em vez de ocupar ministério, Sidônio trabalhasse para o PT, um ente de direito privado.
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