“Nosso povo demonstrou que não há valor maior do que a liberdade e a dignidade”, declarou nesta quarta-feira (15) o Instituto Palestinos para Diplomacia Pública (PIPD, na sigla em inglês), instituição da sociedade civil palestina com sede em Ramallah sobre o cessar-fogo na Faixa de Gaza.
“Agora o mundo sabe que a intenção do nosso colonizador é exterminar nosso povo e os povos da região, um projeto colonial que começou no final do século XVIII e continua até hoje. O mundo agora sabe que Israel é liderado por criminosos de guerra e não hesitará em massacrar crianças de uma das maneiras mais hediondas que a humanidade já viu”, diz o comunicado enviado ao Brasil de Fato.
A primeira fase do acordo de cessar-fogo prevê a libertação de 33 reféns em troca de mil palestinos detidos por Israel. Eles seriam libertados “em grupos, começando com crianças e mulheres”, segundo fontes próximas ao Hamas.
A segunda fase, que começaria no 16º dia após o início da trégua, envolveria a libertação dos últimos reféns, “soldados do sexo masculino, homens em idade militar e os corpos dos reféns assassinados”, de acordo com o jornal Times of Israel.
“Devemos lembrar que Israel age de má-fé, violando e descumprindo acordos e cessar-fogos, como vimos atualmente no Líbano e em muitos outros países”, alerto a organização palestina PIPD.
“O que está por vir ainda não está claro, mas o que sabemos é que os próximos dias antes do domingo, dia 19, podem trazer mais horrores, já que Israel tende a aumentar severamente a escalada antes do cessar-fogo. Isso exige pressão e mobilização para que não aconteça”, diz o comunicado.
Entre as principais exigências da organização palestina, estão o respeito ao cessar-fogo; fim do bloqueio e permissão total da entrada de todas as ajuda humanitária em Gaza; retorno total e seguro das pessoas para suas casas; e permissão para que as agências da ONU e outras organizações humanitárias e de mídia internacionais e nacionais entrem e operem livremente para atender às enormes necessidades humanitárias.
Netanyahu sem saída
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, “se viu obrigado a assinar” o cessar-fogo alcançado com o grupo palestino Hamas nesta quarta-feira (15), segundo a análise do cientista político Bruno Beakini ao Brasil de Fato.
Para o professor de Relações Internacionais, o genocídio promovido por Israel na Faixa de Gaza “é um projeto colonial que tem dificuldades de ser levado adiante com algum tipo de virtude”, levando em consideração que “é muito difícil uma sociedade que não se creia virtuosa, por mais que ela seja sádica, genocida e assassina”.
“Isso é um impasse. Ficou comprovado que era impossível a vitória militar do Estado sionista, cujo objetivo era libertar os reféns, e não conseguiram depois de 15 meses. E também ficou demonstrado que a população palestina não iria sair da região. Com os meios que tem, conseguiria resistir, mas não expulsar os invasores sionistas. E esse impasse leva ao cessar-fogo”, explicou.
Beakini avaliou que Netanyahu tenta prolongar “ao máximo o estado de agressão”, porque, uma vez finalizado, ele e seu gabinete deverão dar explicações sobre o conflito. O prolongamento da guerra também é uma saída para o próprio primeiro-ministro, afirma o analista, uma vez que o político enfrenta pressão interna em Israel por suas decisões de guerra e demora para o resgate dos reféns.
Analisando os pontos acordados, como o estabelecimento da trégua por 60 dias, o cientista político lembrou que o mesmo período foi determinado para o cessar-fogo com o Líbano, e que o exército israelense “avançou mais sobre o território libanês na trégua do que durante os dias de combate”.
“Israel vai recuar progressivamente em Gaza e, nesse intervalo, vai cometer uma série de atrocidades, crimes de guerra e violação do acordo, como está ocorrendo no Líbano”, opinou.
Para o futuro de Gaza, Beakini afirmou que a urgência é a entrada de ajuda humanitária no enclave palestino. “Um corredor aéreo ou naval precisa ser montado em Gaza, além de um hospital de campanha, e dessalinização da água que está contaminada”, lista o acadêmico.
“É necessário um aporte de ajuda humanitária gigantesco, de modo a permitir que as pessoas pelo menos sobrevivam, e isso dependerá do acordo, porque a agência da ONU para os palestinos [UNRWA] foi perseguida” por Israel durante os últimos 15 meses, avalia.
Tel Aviv denunciou que funcionários da agência de ajuda humanitária das Nações Unidas estiveram envolvidos no ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, o que, posteriormente, foi desmentido por investigação da própria ONU.
O país também proibiu a atuação da UNRWA em seu território, comprometendo a entrega de comida, medicamentos e educação para os civis palestinos. Além disso, até agosto passado, Israel matou mais de 200 funcionários da ONU no enclave.
Edição: Nicolau Soares