A Polícia Civil de São Paulo e a Polícia Federal conduzem duas investigações separadas sobre o ataque ocorrido no fim da noite da última sexta-feira (10) em um assentamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), em Tremembé (SP), a 156 km da capital paulista.
Até o momento, duas pessoas foram identificadas como autoras, e uma delas está presa.
Foram mortos Valdir do Nascimento de Jesus, 52, um dos coordenadores do MST na região, e Gleison Barbosa de Carvalho, 28, morador de um dos lotes do assentamento. Dois irmãos de Carvalho também foram feridos a tiros —um deles com dois disparos na cabeça—, além de outras quatro pessoas baleadas.
As vítimas haviam decidido fazer uma vigília em um lote da área, de 5.000 metros quadrados, que estava abandonado havia pelo menos dois anos, após sofrerem ameaças de pessoas de fora do assentamento.
O que se sabe até o momento:
Antecedentes
Moradores do assentamento Olga Benário relatam que pessoas de fora da área vinham tentando tomar posse de um dos lotes do local, que estava abandonado havia pelo menos dois anos.
O terreno, que fica próximo à área urbana da cidade, vinha sendo cobiçado por homens que pretendiam mudar o uso da área para a construção de casas.
Na terça-feira passada (7), um grupo havia entrado no lote, que possui uma casa inacabada, e roubado tubulações e metais do poço artesiano do terreno.
Na sexta-feira do crime, na parte da manhã, um homem identificado pela Polícia Civil como Ítalo Rodrigues da Silva foi até o local e ameaçou Jesus e os demais assentados, dizendo que voltaria ao terreno posteriormente.
Valdir, receoso de que a área fosse perdida, organizou uma vigília com outros moradores do local para proteger a área. Eles pretendiam passar a noite no terreno em disputa.
O ataque
Por volta das 23h, um grupo, cujo número de integrantes ainda não foi confirmado, em automóveis e motocicletas, entrou pela estrada de terra principal do assentamento e se dirigiu ao lote abandonado. Quando foram recebidos pelos assentados em vigília, que queriam conversar, dispararam de imediato. Eles fugiram em seguida.
Os autores
Uma testemunha disse que alguns homens do grupo possuíam tatuagens e reconheceu um dos veículos usados no crime, uma Volkswagen Amarok.
Outra testemunha pôde identificar ao menos um dos agressores. Seria Antonio Martins dos Santos Filho, 41, conhecido como “Nero do Piseiro”. O suspeito é um homem conhecido na região, pois é dono de um bar no bairro Jardim Maracaibo, em Tremembé, conhecido pelas festas de forró, e já foi preso por porte ilegal de arma.
Prisões
Diante da identificação de “Nero do Piseiro”, policiais passaram a procurá-lo e o encontraram em uma casa em Taubaté, cidade vizinha a Tremembé, horas após o crime. Ele foi preso em flagrante. Sua motocicleta, que teria sido usada no ataque, foi apreendida.
Em depoimento, Nero confirmou sua participação no crime, segundo a Polícia Civil, e também afirmou que Ítalo, o homem que havia ameaçado os assentados na parte da tarde, estava com o grupo.
Ele não deu detalhes, porém, sobre os motivos do ataque ou sua organização. Disse que havia ido “tirar satisfação” acerca de uma briga envolvendo a posse do terreno.
Investigações
A Polícia Civil investiga se o ataque foi organizado por um dos integrantes do grupo que invadiu o assentamento ou se o grupo foi contratado por um mandante para cometer os assassinatos.