Às vezes, parece mais fácil conversar com os amigos por aplicativos do que cruzar a cidade para um café. Não à toa, pesquisas apontam um crescimento expressivo do tempo que passamos reclusos em casa. Nos Estados Unidos, a proporção de adultos que jantam ou tomam algo com amigos em uma noite comum caiu mais de 30% nos últimos 20 anos. Paralelamente, o número daqueles que já não saem de casa aumentou em 99 minutos por dia desde 2003. Esses dados, apresentados por Derek Thompson em um artigo para The Atlantic, revelam como a socialização presencial está sendo rapidamente substituída por um isolamento mesmo em um mundo hiperconectado.
Durante o lockdown em Xangai, analisado por Lulu Peng e outros pesquisadores, percebeu-se como as redes sociais moldaram os processos de regulação emocional das pessoas. Afundados na ansiedade e no medo, muitos se voltaram para a internet em busca de alívio. As possibilidades de uso oferecidas pela tecnologia foram acionadas para lidar com emoções negativas, como a seleção de conteúdos que evitavam gatilhos emocionais. Contudo, mesmo essas estratégias não foram suficientes para substituir o conforto das relações presenciais.
O uso nocivo das redes sociais também tem sido associado a um enfraquecimento do suporte social na vida real. Estudos como o de Dar Meshi e Morgan Ellithorpe mostram que, apesar de as interações digitais aumentarem, elas não oferecem o mesmo valor emocional. O suporte recebido nas redes é superficial, enquanto o da vida real reduz significativamente os sintomas de depressão e ansiedade.
O problema, no entanto, não está nas redes em si, mas no uso que fazemos delas. A conectividade pode ser reconfigurada para fortalecer laços sociais. Durante o lockdown, por exemplo, grupos de vizinhança em Xangai foram repaginados para oferecer apoio emocional. Esses espaços digitais se tornaram locais de troca e solidariedade, preenchendo uma lacuna criada pelo distanciamento físico. Contudo, quando o lockdown terminou, muitas dessas conexões se dissolveram, revelando a fragilidade dessas interações temporárias.
Se desejamos combater o isolamento, precisamos redesenhar nossas práticas digitais e sociais. O primeiro passo é reconhecer os limites das redes. Elas podem conectar, mas não substituem o contato humano. Estudos sugerem que pequenas mudanças de comportamento — como dedicar mais tempo a encontros presenciais — têm impactos significativos na felicidade. Nick Epley, psicólogo da Universidade de Chicago, argumenta que, apesar do desconforto inicial, interagir com desconhecidos gera maior satisfação emocional do que o isolamento. Pequenos atos de conexão no mundo físico podem ser mais poderosos do que imaginamos.
É também urgente ensinar as próximas gerações a equilibrar tecnologia e vida real. A solução não é proibir ou demonizar redes sociais, mas educar para um uso que promova encontros. Pais, escolas e governos podem colaborar para limitar o tempo de tela e criar oportunidades para que jovens explorem interações no mundo físico.
A transformação começa com escolhas individuais e coletivas. Precisamos questionar nossas próprias práticas: estamos cultivando conexões ou apenas colecionando contatos? Estamos buscando conforto no virtual porque é mais fácil, ou porque esquecemos como interagir no mundo real? A resposta a essas perguntas pode moldar o futuro de várias das nossas relações.
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